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Kirchner denuncia cumplicidade da mídia com o imperialismo

Não é sem razão que a mídia hegemônica e golpista está em pé de guerra no Brasil e em toda a América Latina contra a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Na terça-feira (19), a líder peronista teve a ousadia de propor a nacionalização dos meios de comunicação em seu país, ressalvando que isto não significa a estatização pura e simples.

Segundo a chefe de Estado do país vizinho, tal mídia, dominado por um restrito grupo de famílias capitalistas, não defende os interesses nacionais. Além disto, conforme ela próprio denunciou, o maior jornal do país (“Clarín”) tem uma sinistra história de colaboração com o regime militar que deixou por legado nada menos que 35 mil mortos e desaparecidos, o que lembra por aqui a história das relações perigosas entre as peruas da Folha de São Paulo e a “Ditabranda”.

Resquícios do neoliberalismo

Alvo da fúria do poder midiático, a presidente argentina não se mostra intimidada. Afirmou, com todas as letras, que a “mídia foi cúmplice da política de subordinação” do país ao imperialismo, evidenciada nos anos do governo neoliberal de Carlos Menem, hoje um procurado da Justiça por grossa corrupção.

Em seu tempo, Menem declarou que a Argentina mantinha uma “relação carnal com os Estados Unidos” e chegou a enviar duas fragatas para a primeira guerra desencadeada pelo império contra o Iraque em 1991. A época é outra, Menem e o neoliberalismo foram desmoralizados, mas a mídia hegemônica não mudou e continua presa à velha mentalidade colonizada.

Por isto, Kirchner diz que “seria importante nacionalizar os meios de comunicação para que eles tenham consciência nacional e defendam os interesses do país”. É o mínimo que se devia esperar da imprensa, mas nem a isto ela se digna. Casado ao pensamento de direita, camuflado na retórica de objetividade, está o espírito de servilismo diante das potências capitalistas.

Dois pesos e duas medidas

A presidente criticou o fato de haver "tantos microfones e câmeras de TV sobre os problemas do crescimento econômico (de hoje)", enquanto os veículos da mídia "acobertaram, ignoraram e muitas vezes foram cúmplices da política de entrega e subordinação sem dizer uma só palavra ou tirar uma só foto".

Por aqui as coisas não são diferentes. Basta comparar as coberturas dedicadas aos governos FHC (que teve seus escândalos acobertados pela mídia hegemônica) e Lula (bombardeado o tempo todo) para constatar que, na contramão da retórica falsa (de imparcialidade, objetividade, neutralidade e fantasias do gênero), os donos dos grandes meios de comunicação (Marinhos, Frias, Mesquitas e Civitas, em nosso caso), que ditam a linha editorial de suas empresas, usam de dois pesos e duas medidas em seus julgamentos.

Nacionalizar, não estatizar

"Às vezes penso que seria interessante nacionalizar; não estatizar. É melhor que isso fique claro para que amanhã ninguém dê uma manchete errada", destacou. Conforme frisou Kirchner, nacionalização não significa necessariamente estatização, mas pode ser alcançada através de uma maior democratização, com maior espaço para a sociedade civil e os movimentos sociais, maior concorrência entre as empresas, assim como regulação e restrição dos monopólios. É o meio de obter uma mídia mais verdadeira, afinada com os interesses nacionais e com as demandas populares.

Em várias outras ocasiões, Cristina acusou a mídia – e especialmente os dois maiores jornais do país, Clarín e La Nación – de "cumplicidade com os interesses estrangeiros". Para ela, os jornais respaldaram e respaldam suposta intenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) de controlar a política econômica argentina.

No discurso, Cristina, que é vítima da mídia por suas posições firmes em defesa de uma política externa soberana e a democratização dos meios de comunicação, assegurou que continuará apostando "nos interesses da Argentina". A proposta de nacionalização da mídia foi apresentada durante a inauguração de uma fábrica têxtil na cidade de Mercedes, na Província de Buenos Aires.

Na sombra das ditaduras

Os porta-vozes da mídia hegemônica e do neoliberalismo não gostaram da ideia e, como de costume nessas ocasiões, acusaram o golpe fazendo alarde em defesa da liberdade de imprensa. A Associação de Entidades Jornalísticas da Argentina (Adepa, um órgão patronal) naturalmente chiou, afirmando que a presidente persiste em “ofensas” contra os meios de comunicação.

Mas não é a liberdade de imprensa que está em questão, muito pelo contrário. Cristina Kirchner está questionando com muita coragem, em palavras e atos, o assombroso poder que os monopólios da comunicação desfrutam hoje em dia (e não só na Argentina), um poder exercido de forma inescrupulosa por uma oligarquia arrogante e reacionária, que manipula fatos e cria factóides com a finalidade de ludibriar e controlar a opinião pública, aposta no golpismo e floresce na sombra das ditaduras, como é o caso do Clarín na Argentina e de O Globo e a Folha de São Paulo no Brasil.

Da redação, Umberto Martins, com agências