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Imprensa serviu como bloco de sustentação de Serra, afirma Tarso

Em entrevista concedida à Folha de S.Paulo, o governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), afirmou que boa parte da imprensa funcionou como "bloco auxiliar de sustentação" da candidatura do tucano José Serra, o que foi um dos fatores determinantes para Dilma Rousseff não ter vencido no primeiro turno.

Sem citar nomes, ele falou apenas que algumas empresas de comunicação declararam apoio formal e outras o fizeram de maneira implícita.

Tarso disse ainda que Dilma fez uma "excelente campanha" e afirmou que a candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando não teve culpa por não ter vencido no primeiro turno.

Leia abaixo a entrevista de Tarso à Folha de S.Paulo:
 


Folha – Por que Dilma não venceu no primeiro turno?
Tarso Genro – Embora estivéssemos esperando ganhar no primeiro turno, isso não é novidade. Lula, com todo o seu prestígio, também não ganhou. Dilma fez uma excelente campanha, alcançou praticamente o mesmo percentual do Lula nas outras eleições. Não pode ser debitada a ela, e sim a fatores imprevistos, que a campanha não levou em consideração.

Folha – Por exemplo?
TG – A praticamente unanimidade que houve na mídia contra a candidatura Dilma. Houve um trabalho, muito bem-feito pelos tucanos, por dentro da maioria da mídia, não toda, que funcionou como bloco auxiliar de sustentação da candidatura do Serra e contra nós. Foi um fator importante, mas não deveríamos ter sido surpreendidos. Deveríamos ter considerado essa possibilidade.

Folha – Mas a imprensa cumpriu seu papel de expor candidatos…
TG – A mídia faz isso e deve continuar fazendo, mas isso não tira o juízo de que a maioria o fez em função da candidatura do Serra, o que é natural num processo democrático. Nem se exigiu que fosse o contrário. Como em outras oportunidades, pessoas do nosso campo político tiveram uma sustentação, pelo menos equilibrada, em relação a outros candidatos.

Folha – Que setores da mídia?
TG – Não toda, parte da mídia. Não houve uma articulação total, até porque a mídia no Brasil tem uma certa diversidade. Parte da mídia inclusive declarou formalmente o apoio [a Serra], e outros o fizeram de maneira implícita.

Folha – E o voto conservador, a agenda religiosa, do aborto?
TG – É uma pauta que pesou e teve uma incidência no processo eleitoral que não estava prevista nem pela direção da nossa campanha nem, na minha opinião, estava prevista como estratégia do Serra. Surgiu no debate político de maneira aleatória e virou questão importante.

Folha – Concorda com esse debate?
TG – O debate numa campanha eleitoral é incontrolável. Não acho que seja apropriado, mas tem de ser respeitado.

Folha – E o fator Marina? O sr. disse que gostava das duas candidatas, mas pessoalmente mais da Marina?
TG – Eu não dei essa declaração. Foi uma distorção da minha fala. Quando digo que havia um setor da mídia apostando contra a Dilma, me refiro também a isso. O que disse é que gostava igual das duas, tinha uma história antiga de amizade com a Marina, e tinha mais simpatia política pela Dilma. Pode pedir a degravação. O fator Marina foi, sim, importante, uma candidata séria. Fez um bom discurso político, convincente, e foi apoiada por setores que fizeram a pauta política de questões como aborto, pauta importante.

Folha – Aliados criticaram a despolitização da campanha de Dilma no primeiro turno. Concorda?
TG – A campanha foi afirmativa do governo Lula. Foi uma campanha correta. O que não houve foi a percepção de que a agenda estava mudando.

Folha – Uma eventual derrota de Dilma vai levantar questionamentos sobre uma candidatura escolhida solitariamente pelo presidente Lula e não pelo PT.
TG – Não acho que isso vá ocorrer. Vamos ganhar a eleição. Eu jamais tive uma disputa com a Dilma, porque, na medida em que o presidente deixou claro que ela era a candidata, minha posição foi de solidariedade.

Fonte: Folha de S.Paulo