Banco Mundial errou feio na previsão sobre novos pobres na AL
O Banco Mundial (Bird) revisou para baixo a proporção de novos pobres na América Latina em 2009, para 2,1 milhões, segundo um relatório divulgado quarta-feira (6), que corrige a previsão de 10 milhões que a entidade financeira temia, há um ano, e hoje se revela alarmista. A diferença evidencia que as previsões do banco, controlado pelos EUA, nada têm de científicas, são frutos do chutômetro.
Publicado 07/10/2010 19:29
"Há um ano tínhamos previsto que em 2009, dez milhões de pessoas se incorporariam (à pobreza moderada). Agora, sabemos que isto, de fato, não foi assim: só 2,1 milhões de pessoas se somaram às fileiras da pobreza", disse, durante entrevista coletiva, Augusto de la Torre, chefe de economia para a América Latina do Bird.
Desemprego
Este novo número, que atesta a vigorosa recuperação da região após a recente crise econômica, está baseado em dados reais, não em modelos de previsão, enfatizou De la Torre. Segundo o mesmo documento, os latino-americanos pobres que agravaram sua situação caindo para o nível de pobreza extrema em função da crise mundial do capitalismo foram 2,5 milhões em 2009, um número também menor o esperado.
O Bird errou também ao prever o comportamento do mercado de trabalho. Há um ano, quando os impactos da crise ainda pareciam poderosos demais para a região, o Banco Mundial calculou, igualmente, que pelo menos 3,5 milhões de pessoas perderiam seus empregos. "Com os dados, agora sabemos que o aumento (do desemprego) foi de 2 milhões", acrescentou.
"Rompemos com o padrão histórico e se a redução da pobreza seguir a um ritmo parecido, pode-se antecipar que, durante este ano, sete milhões estão saindo da pobreza moderada", disse De la Torre. Segundo a entidade, entre 2002 e 2008 se conseguiu que 60 milhões de latino-americanos deixassem de ser pobres.
Proteção social
A América Latina que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) crescerá 5,7% em 2010, conseguiu completar, na última década, uma "revolução silenciosa na política macrofinanceira", disse De La Torre. "A América Latina se integrou ao mundo de uma forma distinta; o que importa não é o grau de globalização financeira, mas como se está globalizado", explicou.
A prudência e a solidez das medidas de regulamentação financeira, as redes de proteção social e a resistência ao choque externo fizeram com que a crise fosse amortecida na região, algo desconhecido quando se compara com experiências anteriores.
A América Latina saiu mais rápido da crise do que os países ricos, explicou por sua vez o FMI em seu relatório semestral de previsões.
A região deixou, ainda, de ser devedora diante do mundo e diversificou suas exportações. Em seguida, teve dois golpes de sorte complementares: a robustez dos preços das matérias-primas e a forma como se beneficiou, a níveis que já se anunciam perigosos, do apetite do investidor externo.
"Há um deslocamento maciço de capitais do centro para os (países) emergentes", ressaltou o chefe de economia regional do Bird.
"E isto não se deve apenas às baixas taxas nos Estados Unidos e na Europa, mas a que, agora, os investidores estão dispostos a assumir mais riscos", acrescentou.
"Estamos nos saindo muito bem, mas não devemos cantar vitória., destacou. Apesar das boas perspectivas na área da pobreza, a América Latina continua sendo a região mais desigual do mundo. "Temos feito progressos na área da estabilidade, mas ainda temos muito a percorrer no caminho da igualdade, de gerar riqueza sustentável no tempo", concluiu De la Torre.
Com agências