Niko Schvarz: A nove anos do 11 de Setembro
As tremendas imagens da queda das Torres Gêmeas e as posteriores cenas de pânico coletivo vêm nos seguindo ao longo destes anos, mas neste novo aniversário tivemos a oportunidade de assistir vídeos ainda mais impactantes sobre um dos maiores atos terroristas da história, que provocaram cerca de três mil vítimas inocentes e a dor em suas famílias, e que segue ressoando como uma vibrante conclamação à luta pela paz no mundo.
Por Niko Schvarz, no La República
Publicado 12/09/2010 22:02
Suas consequências estão de pé. Pouco depois o governo Bush lançou uma invasão do Afeganistão, sob o pretexto de capturar o chefe da al-Qaida, Osama bin Laden, que segue são e salvo sob a proteção do Talibã, segundo dizem alguns.
Atualmente, nessa frente de guerra, as tropas ianques e as de seus circunstanciais aliados, estão atoladas em um verdadeiro pântano. Desde sua chegada à Casa Branca, o presidente Barack Obama aumentou em mais 30 mil os efetivos militares ianques, perfazendo o total de 100 mil soldados, e segundo antecipou em uma reunião com militares da base de Fort Bliss, no estado do Texas, elevará ainda mais esse número, enquanto alguns dos aliados pretendem deixar a ocupação.
Ao mesmo tempo, dezenas de milhares de documentos oficiais revelados (pela WikiLeaks), apesar da férrea censura do Pentágono, revelam que esta guerra, também estendida ao vizinho Paquis~toa, foi uma sucesão inaudita de crimes contra as populações civis.
No material vazado para a WikiLeaks, são descritas matanças de civis, catalogadas como "danos colaterais", entre convidados de um casamento e outras atividades. Acaba de agregar-se a isto, como fato mais recente, a denúncia de que militares americanos matavam civis afegãos por pura "diversão", algo que está sob investigação.
Porém, o ano de 2010 se converteu no mais mortífero para as tropas ianques no Afeganistão, desde a invasão do país em outubro de 2001. Também se eleva, de forma alarmante, o número de suicídios em seu exército: em junho passado 32 soldados puseram fim à própria vida, uma parte dos quais estava em missão no Afeganistão ou no Iraque, cifra superior à de qualquer mês durante a guerra do Vietnã.
Do Iraque, os EUA decidiram retirar parte de suas tropas (que vão engrossar os efetivos no Afeganistão), mas permanecerão lá cerca de 50 mil homens, por um prazo indefinido.
Por outro lado, Obama fracassou em seu intento de fechar o campo de concentração da base ilegal de Guantânamo, que havia prometido fechar um ano antes de assumir a presidência (ou seja, em 22 de janeiro de 2010).
A mesma, em território usurpado a Cuba a mais de um século, se converteu em um centro de torturas, onde padevem os prisioneiros de várias nacionalidades sem serem submetidos a uma acusação e sem a menor garantia, o mesmo que acontecia nas prisões secretas da CIA na Europa e na de Abu Ghraib em Bagdá, capital do Iraque ocupado desde março de 2003, após a reunião de Bush, Blair e Aznar nas Ilhas Açores.
Nos Estados Unidos, o aniversário de 11 de Setembro deu lugar a expressões de xenofobia e racismo sem medida, e em particular de anti-islamismo concentrado.
Na Flórida, o pastor evangélico Terry Jones ganhou notoriedade e espaços na televisão por prometer atear fogo, em estilo hitlerista, a 200 exemplares do Alcorão. Logo viu-se obrigado a voltar atrás, ante o repúdio generalizado que sua proposta provocou (inclusive da parte do general Petraeus, que disse que isso afetaria negativamente a segurança de suas tropas no Afeganistão), e disse que tinha mudado de opinião diante da promessa de que entidades islâmicas renunciavam ao propósito de erguer uma mesquita em um lugar próximo ao chamado Ground Zero, em Nova York.
Isso foi demonstrado ser inverídico. Ainda está de pé o propósito de construir o edifício, que além de mesquita seria também um centro comunitário, no Baixo Manhattan, em um lugar vazio, danificado e ignorado durante dezenas de anos, a mais de duas quadras do antigo lugar onde ficavam as Torres.
Porém, este episódio também deu lugar a expressões racistas, inclusive na agência de notícias CNN, por parte de Patricia Janiot, que acabou sendo enquadrada em grande estilo por um especialista nesses temas.
O grupo denominado "Famílias do 11 de Setembro por uma manhã de paz", constituído por pessoas que perderem entes queridos naquela data, declara que o momento é de recordação de todas as vítimas do terror.
Em seu site na internet escrevem: "Transformar nossa dor em ações pela paz é nosso objetivo. Ao desenvolver e advogar por opções e ações não-violentas em nossa busca por justiça, esperamos romper os ciclos de violência engendrados pela guerra e pelo terrorismo. Reconhecendo nossa experiência comum com todas aquelas pessoas atingidas pela violência em todo o planeta, trabalhamos para criar um mundo mais seguro e com mais paz para as pessoas".
Pouco depois do 11 de setembro de 2001, se realizavam várias vigílias em muitos lugares, à luz de velas e, em Nova York, milhares de pessoas se reuniam nos parques da cidade. Nesses lugares, surgiu um adesivo colocado nos bancos das praças. Nele se podia ler: "Nossa dor não é um grito de guerra".
A data de 11 de setembro está marcada também por outro momento de luto: o golpe de Estado perpetrado por Pinochet, em 1973, e o assassinato do presidente mártir, Salvador Allende, no Palácio de La Moneda.