Campanha pelo Senado ganha relevância para governo e oposição
A notícia sobre a iniciativa de caciques do PSDB e do DEM, como Fernando Henrique e Cesar Maia, de concentrar esforços na campanha pelo Senado foi reproduzida em muitos sites e blogs apenas como mais um registro da crise que atinge a oposição. Mas um outro olhar –de preocupação– precisa ser lançado sobre esta questão. A movimentação dos oposicionistas faz sentido. A disputa pelas cadeiras no Congresso Nacional é, sobretudo, uma disputa pela governabilidade.
Publicado 24/08/2010 03:12
Portanto, se a oposição –que já não tem muitas esperanças com a disputa presidencial—realmente priorizar a batalha pelo Senado, os partidos aliados de Dilma devem ficar atentos para travar o bom combate nesta esfera. Assim, a eleição de 2010 tende a ficar cada vez mais “estadualizada”, sem perder o foco no projeto nacional, mas reforçando a disputa em estados importantes onde a oposição ainda demonstra força eleitoral expressiva.
Para o deputado Brizola Neto (PDT-RJ), este é o problema político colocado de agora em diante. "Com 50% do eleitorado e nenhuma força ascendente diante da qual tenha de se mobilizar, Dilma e Lula têm agora, antecipada, a tarefa de lançar as bases de sustentação política de seu governo. E esta base passa, de um lado, pelo esclarecimento da população de que vem aí uma etapa mais profunda de transformação como, também, pela opção preferencial pelos que podem dar sustentação política a ela. As campanhas ao Senado, reconhecidamente um dos maiores obstáculos que Lula teve de enfrentar, serão as primeiras a sentir o afluxo que lhes virá desta necessidade", diz o deputado em seu blog.
Norte e Nordeste são esperanças da oposição
A possibilidade da oposição perder vagas no Senado é concreta nos sete principais redutos eleitorais do Brasil e no Distrito Federal, mas oferece resistência no Nordeste e no Norte, regiões que ainda podem salvar expoentes que se tornaram alvos preferenciais da estratégia articulada pela campanha aliada e particularmente desejada pelo Lula para assegurar maioria na Casa num eventual governo Dilma. Lula está empenhado na composição por ter enfrentado, em quase oito anos, oposição de 45 dos 81 senadores.
Segundo pesquisa realizada na semana passada pelo DataFolha em sete estados (SP, MG, RJ, PE, BA, RS e PR) e no Distrito Federal, a bancada de PSDB e DEM cairia à metade (de seis para três) se a eleição fosse hoje.
Entre as unidades da Federação pesquisadas, apenas em Minas Gerais dois aliados do presidenciável José Serra (PSDB) lideram a disputa – o ex-governador Aécio Neves (PSDB), com 68%, e o ex-presidente da República Itamar Franco (PPS), com 47%. O petista Fernando Pimentel está em terceiro, com 20%.
Candidatos aliados de Dilma Rousseff (PT) lideram a disputa por uma vaga no Senado em seis dos sete estados pesquisados, além do Distrito Federal. A coligação da candidata elegeria de nove a 12 senadores. Por sua vez, a aliança de Serra emplacaria de quatro a seis de seus candidatos.
Entre os principais opositores que estão na mira da campanha dilmista figuram o líder do PSDB no Senado, Arhur Virgílio Neto (AM), que corre sério risco de perder a cadeira no Senado para a deputada comunista Vanessa Grazziotin (PCdoB). E o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), que trava uma disputa acirrada com Garibaldi Alves (PMDB) e Wilma Farias (PSB).
São também alvos preferenciais de Lula os senadores Heráclito Fortes (DEM-PI) e Tasso Jereissati (PSDB-CE). É ainda missão do governo tentar dificultar a reeleição dos senadores Marco Maciel (DEM-PE) e Demóstenes Torres (DEM-GO). E impedir a eleição do peemedebista pró-Serra de SP, Orestes Quércia, e do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (DEM).
Democracia
Para se armar na batalha pelas vagas do legislativo, a oposição já começa a mostrar com qual discurso pretende disputar estas cadeiras: o discurso do “medo”, atormentando os eleitores com a hipotética e absurda hipótese de risco à democracia. Cesar Maia é um dos que tentam garantir uma vaga para a direita no Senado e já estão em campo dando declarações neste sentido. No informativo que envia por e-mail aos assinantes de seu “ex-blog”, o ex-prefeito do Rio “alerta” que uma maioria governista na Câmara e no Senado levaria o Brasil ao risco de instalação do “chavismo” no país. A Venezuela sempre é citada pela direita brasileira como “mau exemplo” pois após a eleição de Chávez para a Presidência daquele país, a direita venezuelana não conseguiu mais retomar o poder político e econômico.
Pupilo de Cesar Maia, o candidato a vice-presidente de Serra, deputado Índio da Costa (DEM-RJ), também repetiu os argumentos do cacique demista. Mas foi prontamente rechaçado pelos aliados de Dilma.
O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, criticou veementemente as declarações do deputado. “Ele não é índio. É uma besta”, disse o ministro sobre o deputado, que nesta segunda-feira declarou em entrevista ao iG que Dilma vai implantar uma "nova ditadura" no País se sair vitoriosa das urnas em outubro.
O comentário de Franklin foi feito esta noite em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), durante a inauguração da TVT – TV dos Trabalhadores, vinculada ao Sindicato dos Metalúrgicos e à CUT.
Também presente no evento, o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, comentou as declarações de Indio dizendo tratar-se da estratégia de “espalhar o medo” durante a campanha. “A estratégia do medo já foi vencida pelo presidente Lula e vai permanecer. Isso mostra a mediocridade do vice que Serra escolheu, completamente despreparado e medíocre”, enfatizou o prefeito, lembrando ainda que, por sua história, a candidata petista é fortemente ligada à questão democrática: “Alguém que sofreu a ditadura, como Dilma, tem apego total pela democracia”.
Da redação,
Cláudio Gonzalez, com agências