Mídia faz orquestração antinacional sobre a Petrobrás
Vejam como são as coisas na mídia. Relativamente à questão da capitalização da Petrobrás, Haroldo Lima diretor-geral da ANP deu entrevista em 10 de agosto à FSP. O assunto entrava em pauta. Em nome pessoal, mas representando sentimento e interesses da nação, ponderou sobre o preço do barril do petróleo que a União cederá como parte da capitalização. A União dará 5 bilhões de barris como sua parte na capitalização da empresa, mediante cessão onerosa.
Por Walter Sorrentino
Publicado 16/08/2010 11:09
Evidentemente, desse preço infere-se o peso futuro do Estado como acionista na Petrobrás. Evidentemente, também, infere interesses de “mercado” posto que a Petrobrás tem acionistas privados, com ações negociadas em Wall Street. A União tem apenas 32% do capital da Petrobrás; 68% são privados, na maioria estrangeiro.
Kennedy Alencar apresentou a questão de que o presidente Lula avalia a possibilidade de adiar a capitalização da Petrobrás para depois do resultado final da eleição presidencial. Ele especula com a situação eleitoral de Dilma. Mas o aspecto principal é que o presidente está insatisfeito com a avaliação do mercado de que cada barril que a União dará à Petrobrás na capitalização seja cotado entre US$ 5 e US$ 6. Lula acha esse valor pouco e já disse à Petrobrás e aos consultores que estipularão o preço do barril que só aceitará um valor superior. Do contrário, poderia inviabilizar a capitalização. Outro aspecto é, segundo o jornalista, que na hipótese de vitória de Dilma, os investidores nacionais e estrangeiros fariam a leitura de que a exploração do pré-sal ganhará fôlego, o que daria mais chance de sucesso à capitalização da Petrobrás. Ao contrário do que ocorreria com eventual derrota de Dilma.
Haroldo Lima, do alto de sua responsabilidade, expressou exatamente a mesma preocupação de Lula. Ou seja, ventilou a hipótese e o desejo de o Brasil se tornar mais dono da Petrobrás. De repente, iniciou-se uma orquestração que “denuncia” o caráter “estatizante” dessa posição, o fato de ele “pertencer ao PC do B”, e ventila inclusive a possibilidade de abrirem processo administrativo contra mim e tirarem-no do cargo.
Essa ofensiva foi encampada particularmente em Veja, furiosa e panfletária, como sempre. A certificação dos 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal pela ANP está perto de acontecer e a pressão do tal “mercado” encontrou na revista seu porta-voz. Aliás, retomam antiga tradição dos conservadores brasileiros, ontem negando que o Brasil tivesse petróleo (acreditem, isso foi pregado pelo Estadão durante décadas!), hoje sustentando nos bastidores os interesses privatizantes que têm que esconder na campanha de Serra (como na de Alckmin em 2006).
Mas não é geração espontânea de Veja. Dias antes, Zilberstajn, ex-diretor da ANP, tinha feito o “alerta-geral” sobre o assunto. “Exclusividade da Petrobrás é retrocesso!” bradou, como pateta entreguista que é. Em Brasília, a Procuradoria da República no Distrito Federal decidiu abrir um procedimento preliminar para averiguar o preço de venda, para a Petrobrás, dos 5 bilhões de barris de petróleo. Pode ser o primeiro passo para levar o assunto à Justiça.
Essa é a orquestração. Compreensível, posto que vivemos em democracia e liberdade. Mas reveladora de que os interesses antinacionais no país são pesados. Sua visão é a de privatizar os interesses gerais da sociedade expressos no Estado. Combatem abertamente os interesses da soberania e do Estado nacional, lastimável para um país das dimensões do Brasil. Não estão à altura nem de representar uma elite econômica para o futuro do país. Aliás, melhor assim.
Haroldo Lima é patriota de boa cepa. No governo FHC lutou bravamente contra a privatização da Petrobrás, no campo oposto a David Zilbertajn. Poucos meses atrás, quase foi linchado pela imprensa quando mencionou o pré-Sal que já era do conhecimento técnico no mundo. A vida deu-lhe razão. O pré-sal foi logo depois notificado, para grande orgulho da nação. Agora, ele mais uma vez está certo. Nessa matéria da capitalização da Petrobrás não está em jogo a questão mais Estado-menos Estado, a não ser indiretamente. Se a União aporta tais recursos em capitalização da empresa, até o “senhor mercado” haveria de reconhecer que não é para gáudio dos 68% dos acionistas privados, mas pelo futuro da nação brasileira, somente soberana por meio de seu Estado Nacional. O Brasil quer ser mais dono da Petrobrás. Qual o mal nisso? Vamos atentar para mais esse combate, porque não é pouca coisa o que está em jogo.