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Ato pela Lei Maria da Penha leva mais de mil ao Canecão

Palco de shows memoráveis, o Canecão virou cenário para uma grande causa neste sábado, 7 de agosto: a comemoração dos quatro anos de Lei Maria da Penha por um movimento suprapartidário que exige o pleno cumprimento da Lei para punir a violência doméstica e familiar.

- Claudia Danta/ Cia da Foto

A ministra da Secretaria Especial para Mulheres, Nilcéia Freire, o candidato à reeleição ao Governo do Rio, Sérgio Cabral, além de representantes de vários partidos políticos, prestigiaram o ato organizado pelo Movimento das Mulheres. Entre os presentes estavam a relatora da Lei na Câmara Federal, Jandira Feghali, e a farmacêutica Maria da Penha, que veio especialmente de Fortaleza para o evento. “Tinha uma passeata no Ceará, mas decidi vir porque é um momento importante para nós, mulheres. Jandira fez um trabalho extraordinário ao relatar a Lei”, afirmou Maria da Penha.

Em sua fala, o governador Sérgio Cabral comprometeu-se em ampliar políticas públicas específicas, como a criação de mais delegacias para atendimento às mulheres.

A candidata Dilma Rousseff, que pode se tornar a primeira presidenta do país, também participaria da festa no Canecão. Devido a um imprevisto de última hora, porém, não conseguiu chegar a tempo. Mas enviou um recado a todos os presentes. A mensagem de Dilma foi lida pela ministra Nilcéia Freire: “Minhas amigas, hoje é dia de festa. Foram muitos os avanços. Há quatro anos, Lula sancionou a Lei. A gente sonhava com punição, mas antes os agressores continuavam livres. Livres para continuar a nos bater, a nos matar. Hoje temos a Lei. Hoje, não ficam mais impunes. É o que queremos comemorar. Uma mulher espancada é uma mulher ferida, uma mulher ferida é uma mulher com cicatrizes em toda a sociedade”.

Tendo a atriz Tássia Camargo como mestre de cerimônia, o ato também contou com as intervenções da Benedita da Silva, representando o Partido dos Trabalhadores (PT), Conceição Cassandro, pelo PMDB e Marta Rocha pelo PSB. Subiram ao palco também diversas candidatas mulheres dos partidos da coligação que apóia o candidato a reeleição no governo do estado, Sérgio Cabral. Também se fizeram presentes no ato a presidente do PCdoB-RJ, Ana Rocha, a presidente nacional do PMDB-Mulher, Maria Elvira, e os candidatos ao senado da coligação, Lindberg Farias (PT) e Jorge Picciane (PMDB).

Maria da Penha emocionou o Canecão

Aplaudida de pé, em um momento de muita emoção, Maria da Penha narrou sua luta para punir o agressor, seu então marido e pai de suas três filhas. Ela sofreu duas tentativas de assassinato dentro da própria casa. Sobreviveu, mas ficou paraplégica e hoje depende de cadeira de rodas. Por 20 anos, denunciou o caso e buscou ajuda dos governos, mas isso só ocorreu com Lula. “Foi o único a criar um Ministério para as mulheres e a Lei foi, então, sancionada”, disse Maria da Penha, ressaltando que a promulgação por unanimidade só ocorreu porque a legislação foi relatada por quem conhecia a fundo a questão. “Jandira estudou e trabalhou muito. Essa lei não precisa ser mudada, mas aplicada. Não veio para punir os homens, mas para prevenir a violência doméstica”.

Jandira Feghali reforçou a fala de Maria da Penha: “É uma lei muito mais preventiva do que punitiva”, disse a relatora. Em seu discurso, ela exaltou a sensibilidade de Lula ao promulgar a Lei e elogiou o governador do Rio, Sérgio Cabral, que fez do Estado o primeiro a aderir ao Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher, em 2007. Às cerca de 700 pessoas presentes, Jandira voltou a dizer que a Lei precisa ser cumprida e não modificada, ao contrário do que propuseram alguns juízes no mês passado. “Tenho orgulho de ter relatado essa Lei. Poderia ter feito isso do meu gabinete, mas quis conhecer de perto a realidade de cada região brasileira”, contou a candidata a deputada federal, acrescentando que é importante abordar a agressão psicológica: “O corpo de delito não vai identificar uma humilhação e um xingamento, mas nosso corpo e nossa autoestima, sim”.

A cantora Alcione deu um show à parte. Sua música foi repetida por centenas de mulheres: “Comigo não, violão/na cara que mamãe beijou, ‘Zé Ruela’ nenhum bota a mão./Se tentar me bater vai se arrepender/Eu tenho cabelo na venta/Sou brasileira, guerreira/Não tô de bobeira/Não pague pra ver/Porque vai ficar quente a chapa/Você não vai ter sossego na vida, seu moço/Se me der um tapa/Da dona ‘Maria da Penha’/Você não escapa/O bicho pegou, não tem mais a banca/De dar cesta básica, amor/Vacilou, tá na tranca”. “Marrom” disse: “A Lei está ai, só precisa ser cumprida”.

Ao final do evento, Jandira Feghali agradeceu a presença de todos, elogiando a união dos partidos ao abraçar uma causa tão importante. Lembrou que é impossivel pensar em uma democracia se mais da metade da população ainda é encarada com desprezo e tratada como produto de consumo. “Não podemos tolerar que homens que dividem nossa casa, nossa confiança, virem nossos agressores. Que transformem mulheres ativas, como Maria da Penha, em pessoas que dependam de uma cadeira de rodas. Maria da Penha é um exemplo para nós. Ela mostrou que sua limitação física não impediu sua luta. Agora, precisamos que a legislação seja cumprida. Tenho certeza de que isso vai acontecer. Dilma fará valer a Lei, como mãe e mulher. Lei Maria da Penha neles!”

Colaborou Cláudia Leite, do Rio de Janeiro