Capistrano: Mery Medeiros, um velho e bravo comunista
Este ano completa 93 anos da Revolução Russa. Outubro de 1917, vitória dos bolcheviques. Wlademir Lênin lidera a mais importante revolução do século XX, início do primeiro regime socialista. A classe operária chegava ao poder.
Publicado 04/08/2010 12:40 | Editado 04/03/2020 17:08
Na minha caminhada, já beirando os cinquenta anos de militância nas lutas populares, tenho encontrado extraordinários comunistas que colocaram como prioridade nas suas vidas, muitas vezes sacrificando o convívio familiar, a luta coletiva na busca da concretização da sua utopia, que é o socialismo, sonho sonhado pelos marxistas de todo o mundo, um sonho possível.
Entre tantos nomes, aqui do nosso estado, inicio lembrando a figura humana de Mery Medeiros. Poderia começar por um dos Reginaldos – Lauro ou Jonas, ou ainda por uma das figuras lendárias das lutas política do nosso estado: Vulpiano Cavalcanti, Luiz Maranhão, Chico Guilherme, Joel Paulista, Lourival de Góis, José Moreira, Osvaldo Guedes, Bento Ventura, Pretextato, Glênio Sá, Alírio Guerra, Iran Pereira, Vivaldo Dantas, Danilo Bessa, Hélio Vasconcelos, ou um ícone do movimento comunista internacional, Oscar Niemayer, que no dia 15 de dezembro desde ano estará completando 103 anos de vida, bem vivida. Mas, escolhi Mery Medeiros, um velho e bravo comunista que não se dobrou aos obstáculos criados com o objetivo de esmorecer aqueles que lutam pelo socialismo.
Conheci Mery, no Grande Ponto, no início dos anos sessenta, acompanhei a sua luta: nos sindicatos, nos movimentos culturais e estudantis e nas ligas camponesas ao lado de Floriano Bezerra. Mery, durante esse período, sempre esteve presente nos movimentos políticas, ele ligado a Francisco Julião, era o homem de organização das ligas camponesas aqui no estado. Mery sempre foi essa figura tranquila e firme nas suas convicções, participou ativamente da luta com outros companheiros de um momento histórico de efervescência política, ideológica e cultural dos mais importantes do século XX aqui no Brasil.
Com o golpe fascista de 1964, Mery foi preso. Sofreu com o retrocesso nos avanços que os movimentos populares tinham conquistado no governo nacionalista de Jango e, aqui na capital, com o governo popular de Djalma Maranhão, viu a implantação de uma famigerada ditadura, que golpeou o processo de organização da classe trabalhadora e da concretização das reformas de bases, elementos essências para construção de uma verdadeira democracia no nosso país. Mas, isso não o desanimou, Mery continuou lutando, contra a nefasta ditadura militar, participando da campanha da anistia, na defesa de uma constituinte, por eleições diretas para governador, prefeito das capitais e de presidente da república, a sua utopia continua viva, é o seu horizonte de um mundo justo e de paz.
Mery está sempre disponível para levar sua palavra aos jovens, aos sindicalistas, ao povo em geral, relatando a sua trajetória de luta, mostrando que é possível mudar o mundo, torná-lo mais justo e verdadeiramente democrático. Gosto de conversar com ele, ouvir suas histórias, sua vibração, seu entusiasmo, parecendo um jovem estudante do Atheneu dos anos 50/60 do século passado, pronto para a luta, a boa luta, a luta pela paz e o bem-estar da humanidade. Ele não esmorece, sempre com algo novo para fazer, exerce um papel importante de resgate da memória das lutas populares.
O vereador George Câmara, falando na sessão solene de entrega do título de cidadão natalense a Mery Medeiros, disse: “Enquanto alguns desistem ou baixam a cabeça, nosso homenageado não se curva. Seu exemplo de convicção e firmeza é um importante legado para as novas gerações e para todos os que primam pelos ideais de justiça e liberdade, por uma vida com dignidade, numa pátria livre e soberana. Quando o neoliberalismo procura destruir nosso país e nosso futuro, encontramos no exemplo de Mery Medeiros vitalidade para acreditar no amanhã e, sobretudo, dedicação para construí-lo”. É por causa de pessoas como Mery Medeiros que acredito no futuro. Vida longa, ao camarada Mery Medeiros.