Estamos diante de uma guerra político-eleitoral, diz Rabelo
Na avaliação do presidente do PCdoB, Renato Rabelo, feita nesta quinta-feira (15) em reunião da Comissão Política Nacional, “estamos diante de uma verdadeira guerra político-eleitoral, formada por batalhas que culminarão nos resultados das urnas em outubro”. O cenário exige atenção redobrada dos comunistas tanto para a defesa do projeto partidário quanto para a garantia da continuidade do ciclo aberto por Lula. “A vitória de Dilma, uma mulher avançada, é muito importante para o país”, ressaltou.
Publicado 15/07/2010 16:06
Na sede do partido, em São Paulo, Rabelo falou sobre as perspectivas da candidatura de Dilma Rousseff (PT) lembrando, no entanto que, apesar do favoritismo da candidata, as eleições não estão ganhas e o principal adversário, José Serra (PSDB), tem seus trunfos. “Apesar das dificuldades em unir sua própria base de apoio – como ficou evidente no episódio da escolha do seu vice – Serra é apoiado implícita ou explicitamente pela grande mídia e conta com o respaldo do poder econômico e político do campo conservador, ou seja, não podemos subestimá-lo”, colocou o dirigente, alertando para a possibilidade de segundo turno.
Porém enfatizou: “Dilma é como uma moeda com duas faces muito importantes: ela é a candidata de Lula, mas é também partícipe dos sucessos do atual governo. O povo tem conhecimento da primeira condição, mas ainda há muita gente que desconhece a segunda”.
De acordo com Rabelo, esse é um fator que sugere uma possibilidade maior de crescimento. “Na medida em que a população vai tomando contato com essa informação, vai percebendo que ela sim tem legitimidade para continuar o processo atual e vai consolidando seu voto. Vale lembrar que embora o momento mostre empate entre os dois principais candidatos, Dilma tem crescido desde o começo das pesquisas, quando tinha em torno de 4%. Serra começou com cerca de 38% e se manteve nesse nível. Portanto, quem tem evoluído é ela”. E completou: “a campanha de Serra achava que investindo em propaganda, em maio e junho, conseguiria uma diferença de 10% em relação a ela, o que não aconteceu”.
Renato Rabelo ainda ressaltou a ampla aliança, com dez partidos, que se formou em torno da petista. “Conseguimos algo inédito: reunir toda a esquerda, além de outras forças progressistas e de centro. Isso mostra a força centrípeta da candidata”.
Sobre a Coordenação Operativa da campanha, o comunista anunciou que o PCdoB será representado na por Adalberto Monteiro, secretário de Formação, e na comissão responsável pela elaboração do programa, por Dilermando Toni, assessor da presidência do partido. A primeira reunião, quando o PCdoB reafirmará suas propostas acontece nesta segunda-feira, 19.
O presidente voltou a tratar das decisões tomadas na última reunião do Conselho Político da campanha de Dilma, dia 12, quando ficou acertada a reciprocidade entre a petista e os candidatos ao governo estadual onde houver mais de um palanque. “Não haverá exceções nisso”, explicou. Para o PCdoB, a decisão é positiva especialmente no Maranhão – onde concorre com Flávio Dino ao governo – e no Amazonas, onde apoia a reeleição de Omar Aziz (PMN) e onde busca eleger Vanessa Grazziotin para o Senado.
Crescimento comunista
Conseguimos reunir toda a esquerda, diz Rabelo |
A evolução do partido desde a eleição de 2006 também foi tema da reunião. Naquele ano, o partido lançou seis nomes para o Senado, elegendo Inácio Arruda pelo Ceará. Agora, lança nove nomes, muitos dos quais com chance real de vitória.
O partido também registrou evolução na disputa pela Câmara. Em 2006, lançou 72 candidatos; neste ano, são 137, crescimento de 90%. A meta é que o partido – que então elegeu 13 parlamentares – passe agora para cerca de 20, o que melhoraria sensivelmente a situação dos comunistas na Casa, ampliando tanto sua atuação quanto a participação no Fundo Partidário, no horário de televisão e na infraestrutura da Liderança.
No caso dos deputados estaduais, o salto foi ainda maior. Há quatro anos, foram lançados 276 candidatos e hoje são 688, acréscimo de 149%. O parido conta com 17 estaduais e busca ultrapassar a casa das duas dezenas, mas há previsões que indicam possibilidades ainda maiores.
Para os próximos dias, o partido deverá enviar representantes do Comitê Central a alguns estados estratégicos ou que necessitem de maior acompanhamento a fim de reforçar as candidaturas comunistas.
Quadro internacional
Sobre a conjuntura mundial Renato Rabelo abordou dois pontos: a situação do Irã e do Oriente Médio e os efeitos da crise mundial. “Há quem defenda – como Fidel Castro e Noam Chomsky – que estamos na iminência de uma guerra nessa região. Nossa opinião é que estamos diante de um quadro de crescente tensão entre Irã e Estados Unidos ou mesmo na Península Coreana que pode resultar em grandes conflitos futuros. A administração de Barack Obama segue a linha geral do sistema norte-americano de dominação”.
O presidente do PCdoB destacou ainda que, segundo Chomsky, “a ação do Irã tem sido defensiva em relação à política estadunidense” e que em sua movimentação militarista, os EUA “expandiram seus poderes à ilha Diego Garcia (território britânico no Oceano Índico, próximo à África), expulsando sua população para construir ali uma base de ataque ao Oriente Médio e a Ásia Central”.
Quanto à crise mundial, reafirmou que ainda não está superada, com graves desdobramentos na Europa, em especial na Grécia, Espanha e Portugal. “As perspectivas de retomada do continente neste ano foram por água abaixo. Por outro lado, os emergentes saem-se melhor; sem o Bric, por exemplo, a crise teria maior proporção e profundidade”.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte