Os Inquietantes exercícios navais de EUA e Coreia do Sul
A negociação, em vez das demonstrações de força, são a melhor solução para os conflitos entre as principais potências globais. Uma recente manobra naval efetuada em conjunto pelas marinhas de guerra dos EUA e da Coreia do Sul, no mar Amarelo, despertou preocupações entre as maiores nações da Ásia oriental, especialmente a China, sobre possíveis riscos para a paz e a estabilidade regional.
Por Li Jie, no Diário do Povo
Publicado 14/07/2010 17:14
A participação do porta-aviões estadunidense George Washington, de 97 mil toneladas, atraiu a atenção dos meios de comunicação. Sua presença constitui uma demonstração de hostilidade contra a China.
O recente incremento das atividades de porta-aviões dos EUA na região se soma a uma série de medidas hostis que a armada estadunidense está efetuando em águas do mar Amarelo desde os anos 1990.
Em 1994, uma frota encabeçada pelo porta-aviões Kitty Hawk penetrou em águas contínuas à linha de limite marítimo da China, em uma suposta missão de patrulhamento. Os navios de guerra dos EUA violaram as águas territoriais da China e inclusive seguiram de perto um submarino nuclear chinês que acabara de concluir uma missão de patrulha de longa distância.
Esta decisão imprudente mergulhou ambos os países num ambiente de confrontação por certo tempo.
Recentemente, o navio de vigilância estadunidense Victorious conduziu uma missão desautorizada na zona econômica exclusiva da China e inclusive se valeu de canhões de água para expulsar do lugar barcos de pesca chineses.
Oportunidade e desculpas excepcionais
Os atuais exercícios conjuntos EUA-Coreia do Sul, suspensos várias vezes no mês de junho, ultrapassam enormemente sua declarada condição de manobras militares dirigidas contra a República Popular Democrática da Coreia (RPDC), pelo suposto naufrágio da fragata sul-coreana Cheonan por um torpedo.
Por um prolongado período de tempo, a Marinha de Guerra dos EUA havia evitado levar a cabo exercícios militares provocativos no mar Amarelo, embora o país tenha várias bases militares na Coreia do Sul e no Japão.
De fato, muitas de suas esquadras navais, inclusive a sétima, estão ancoradas no porto japonês de Yokosuka.
O incidente da fragata Cheonan, entretanto, proporcionou uma oportunidade e desculpa excepcionais para que a força naval dos Estados Unidos, situada na República da Coreia e no Japão, intervenham ativamente nos assuntos regionais.
As manobras conjuntas com a Coreia do Sul em águas próximas a suas bases militares asiáticas ajudarão os EUA a alcançarem suas metas estratégicas na região da Ásia e do Pacífico.
Primeiro, com o exercício os EUA conseguirão manter um alto nível de pressão contra o que Washington qualifica de agressivo regime norte-coreano. Também pode ser um sinal explícito da postura que os EUA, como única superpotência mundial, adotariam com respeito a Japão e Coreia do Sul, seus dois aliados tradicionais na área, em caso de conflito militar entre Pyongyang e Washington.
Determinação e vontade
Além disso, um exercício militar bem planejado no mar Amarelo também facilitará aos EUA o recolhimento de informação geográfica e militar sobre alguns países asiáticos limítrofes.
O general Ma Xiaotian, vice-direitor do Estado Maior do Exército Popular de Libertação da China expressou "firme oposição" às manobras militares dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.
A posição inequívoca de Ma reflete a determinação e vontade constante do país de salvaguardar seus direitos e interesses marítimos. É também um indicativo da crescente confiança da China em seus militares, no contexto de seu poderio nacional e capacidade militar, ambos em constante aumento.
O mar Amarelo é fundamental para proteger os interesses básicos da China, dado que não só se vincula a seus direitos marítimos e os interesses do país, mas também à sua segurança marítima.
Se os EUA e a Coreia continuarem empenhados em seus jogos de guerra, estarão planejando um desafio à segurança da China e provocariam um contra-golpe enorme e inevitavel dos cidadãos chineses.
A China de hoje já não é a de um século, que cedia diante das agressões imperialistas. Depois de décadas de desenvolvimento, especialmente após a adoção das políticas de reforma e abertura, a China se converteu na terceira maior economia do mundo e possui meios militares modernos, capazes de cumprir qualquer missão de autodefesa.
Porém, é preciso lembrar que o poderio militar dos Estados Unidos, especialmente a disponibilidade combativa de seu contingente de porta-aviões, também é muito mais elevada do que era há um século.
Otan do Pacífico
O raio de operações militares dos Estados Unidos se ampliaram para mais de 1.000 quilômetros, o que significa que uma missão militar dos Estados Unidos nas águas da República da Coreia pode constituir-se uma presença com enorme capacidade dissuassiva para a China e outros países, ao longo da linha costeira próxima, além do que seria capaz de alcançar alvos estratégicos situados muito profundos em seus territórios.
Com seu poderio militar inconteste, os EUA nunca renunciaram seus objetivos de longo prazo para alcançar um reajuste estratégico na região da Ásia e do Pacífico. Segundo esta estratégia, os EUA aumentaram gradativamente a presença e a atividade de seus vasos de guerra e força aérea na área marítima circundante da China.
E o que é ainda mais preocupante, os EUA aparentemente se sentem menos obrigados à moderarem sua busca de uma versão asiática da Organização do Tratado do Atlântico Norte (nome fantasia do pacto denominado Otan) com seus aliados na região.
Ao trabalhar assim, Washington deixa ao ar livre suas intenções estratégicas óbvias de conter a China — cuja influência econômica e estratégica continua aumentando na arena internacional — com o fim de cortar na raiz os possíveis contratempos derivados do acelerado crescimento da nação asiática.
No século 21, todos os países devem concentrar seus esforços em efetuar negociações, em lugar de pronunciar-se pelo uso da força, ou as exibições de poderio militar, para resolver conflitos.
Li Jie é articulista do Diário do Povo online e pesquisador da Academia Militar Naval da China.