Contrariando previsões do Copom, preços continuam em queda
Das 17 capitais onde o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) realiza a Pesquisa Nacional da Cesta Básica, 16 apresentaram queda de preço em junho. Em nove cidades, a queda superou -3%; em outras quatro, ficou entre 2% e 3%.
Publicado 06/07/2010 16:30
As maiores reduções ocorreram em Manaus (-5,14%), Rio de Janeiro (-5,08%) e Vitória (-4,83%). A única capital onde a cesta básica registrou aumento de preços foi Goiânia (alta de 5,22%), onde o preço do feijão explica a maior parte desta variação.
A aquisição do conjunto de itens básicos em São Paulo custou R$ 249,06, o maior valor entre as localidades pesquisadas. Em Porto Alegre, o preço da cesta correspondeu a R$ 248,15 e, em Manaus, ficou em R$ 236,57. As cidades mais baratas foram Fortaleza (R$ 181,92), Aracaju (R$ 184,17) e João Pessoa (R$ 193,94).
Salário mínimo necessário
Com base no maior valor apurado para a cesta e levando em consideração o preceito constitucional que estabelece que o salário mínimo deva suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o Diesse estima mensalmente o salário mínimo necessário.
Em junho, o valor do mínimo foi calculado em R$ 2.092,36, o que representa 4,1 vezes o mínimo em vigor, de R$ 510,00. Em maio, o piso mínimo era estimado em R$ 2.157,88 (4,23 vezes o menor salário legal), enquanto em junho do ano passado correspondia a R$ 2.046,99, ou seja, 4,4 vezes valor então vigente (R$ 465,00).
Lentamente, o salário real vai se aproximando do valor ideal do salário previsto na Constituição. A evolução dos preços mostra que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) exagerou na expectativa sobre inflação provavelmente com o objetivo de justificar as duas rodadas de alta dos juros básicos (Selic) operadas ao longo deste ano.
E os juros?
Do ponto de vista da estabilidade do valor da moeda (ou seja, do comportamento da inflação) não há uma pressão forte sobre os preços que decorreria do ritmo de crescimento da economia que, segundo alguns economistas, estaria acima do potencial de crescimento da economia nacional e não seria sustentável sem provocar instabilidade monetária.
O aumento da taxa de juros tem o objetivo de conter o consumo, os investimentos e o crescimento do PIB. Supõe-se que este seja a receita para evitar a inflação, mas este não parece ser o caso concreto. A alta dos juros também tem outro efeito, perverso para o país e lucrativo para os banqueiros, que é o aumento da transferência de recursos públicos (bilhões de reais) para credores e rentistas, em detrimento do crescimento e dos investimentos sociais.
Está na cara que o comportamento dos preços não justifica a orientação conservadora do Copom e do BC e dá razão aos economistas que apontavam fatores sazonais na pressão altista verificada nos primeiros meses deste ano, focada especialmente na produção agropecuária, sensivelmente influenciada pelas chuvas. Mas, na próxima reunião do Copom o mais provável é que o BC continuará batendo na tecla do crescimento excessivo e insustentável para justificar novas altas da Selic.
Da redação, com Dieese