Renato Rabelo: A visita do presidente da Síria ao Brasil
Neste artigo, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, discorre sobre a importância das relações entre Brasil e Síria, que devem se estreitar ainda mais a partir da visita do presidente Bashar Al Assad que chegou ao Brasil nesta quarta-feira, 30. “Do ponto de vista geopolítico as visões da diplomacia síria e brasileira se aproximam”, disse o dirigente comunista, lembrando a importância do país árabe na luta pela paz no Oriente Médio. Acompanhe.
Publicado 01/07/2010 21:46
Chegou nesta quarta-feira ao Brasil (30/6) o presidente da República Árabe Síria, Bashar Al Assad, fato de grande significado para ambos os povos e países. O Brasil possui uma comunidade árabe com importante peso cultural e econômico. E a política externa brasileira e síria trabalham no fortalecimento das relações chamadas Sul-Sul, que privilegiam as parcerias entre os países em desenvolvimento.
O presidente Bashar assinou vários protocolos de cooperação comercial, tecnológica e cultural entre o Brasil e a Síria. Além disso, o Ministério da Economia sírio decidiu criar um Conselho Empresarial Brasil-Síria para ampliar as relações bilaterais de comércio e investimentos. Nos últimos sete anos, as relações comerciais deste país árabe com o Brasil saltaram de US$ 78 milhões de dólares para US$ 307 milhões em 2009. O estudioso de questões árabes, Lejeune Mirhan, estima em seis milhões os brasileiros de descendência síria.
Do ponto de vista geopolítico as visões da diplomacia síria e brasileira se aproximam. Em entrevista concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Síria, Lula declarou: “Nós sabemos que a Síria tem um papel extremamente importante, não apenas pela posição geográfica que ocupa no mundo árabe, mas pela sua relação com outros governantes árabes. Pelo fato de a Síria ter quase um milhão de refugiados iraquianos; de ter uma boa relação com o Hezbollah e com o Hamas, a Síria passa a ser um país muito importante em qualquer discussão sobre a paz no Oriente Médio”.
Bashar – em sua passagem pela Venezuela – fez questão de analisar o papel da ONU diante da atual situação no Oriente Médio: A Carta da ONU tem “palavras românticas e bonitas”, disse ele, assegurando que este fórum internacional é manejado como se fosse uma “marionete” por países poderosos. Por isso, “o Conselho de Segurança – em vez de se tornar uma organização que protege a paz – converteu-se em um ente que prejudica a paz”. A Síria esteve ao lado da diplomacia brasileira no acordo firmado entre o Irã e Turquia, mediado pelo Brasil.
Esta visita me fez lembrar a viagem de uma delegação do Partido Comunista do Brasil que chefiei a Damasco, capital da Síria, considerada um dos centros urbanos mais antigos da história das civilizações. Nesta ocasião, o membro do Comitê Central Jamil Murad e eu estivemos no palácio presidencial e fomos recebidos pelo presidente Bashar. Nossa conversa se prolongou por mais de uma hora, rompendo o formato de meras formalidades. Tratamos de vários assuntos especialmente os que se relacionam com o Brasil e a Síria. O que mais nos impressionou nesta visita à Síria foi a grande unidade do seu povo, onde convivem várias correntes políticas e inúmeras religiões e credos como os sunitas, xiitas, cristãos ortodoxos e católicos.