Milhões protestam na Europa: Trabalhadores respondem à ofensiva
As fortíssimas pressões dos governos europeus sobre os direitos sociais, salários e pensões estão a levantar uma vaga de protestos em vários países, cujos trabalhadores recusam ser reduzidos à pobreza.
Publicado 30/06/2010 20:08
Na terça-feira (29) na Grécia, os trabalhadores do setor público e privado voltaram a paralisar massivamente, em resposta ao novo projeto de lei das pensões que impõe graves restrições no acesso à aposentadoria.
Em 23 de junho, coincidindo com a apresentação do projeto no parlamento, a central sindical PAME (Frente Militante dos Trabalhadores) convocou uma greve geral que foi seguida por dezenas de milhares de trabalhadores e ficou marcada por manifestações em 60 cidades.
A paralisação total do porto de Pireus foi o êxito mais destacado desta jornada de protesto, tanto mais que os marinheiros enfrentaram corajosamente a tentativa de proibição da greve, que foi declarada ilegal pelos tribunais. Por seu lado, também os armadores tentaram pressionar os trabalhadores e romper a greve, enviando propositadamente turistas para o cais de embarque. Mas tudo isso foi em vão. Durante 24 horas nenhum navio saiu do porto.
Às acusações de "desrespeito pela legalidade e pelas instituições" que lhes foram lançadas, a PAME respondeu com a palavra de ordem: "A lei são os direitos dos trabalhadores".
Aleka Papariga, secretária-geral do Partido Comunista da Grécia, declarou durante a manifestação que juntou milhares de pessoas em Atenas: "Só temos duas opções: ou a submissão fatalista à pobreza e à miséria, que alastrará ainda mais, ou contra-atacar com coragem e persistência e lutar pela prosperidade social do povo".
A greve de dia 23 contribuiu para a intensificação da luta e para o êxito da nova greve realizada anteontem.
Um milhão na Itália
Em 25 de junho, mais de um milhão de trabalhadores participaram das manifestações realizadas em várias cidades contra as medidas econômicas e a política social do governo de Berlusconi.
Durante a jornada, convocada pela central majoritária do país, a Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL), foram igualmente cumpridas greves de quatro horas no setor privado e de oito horas no setor público.
A maior manifestação teve lugar em Bolonha, com mais de 100 mil pessoas, seguindo-se Milão e Nápoles, com 70 mil pessoas, Roma com 70 mil pessoas, Palermo com 25 mil, Áquila com 20 mil, e Trieste e Bari com 10 mil pessoas.
Um protesto idêntico está marcado para a sexta-feira (2) nas regiões da Toscana, da Ligúria e de Piemonte.
O principal motivo dos protestos são os cortes orçamentários de 25 bilhões de euros, que incidirão sobre benefícios sociais e afetarão em particular as entidades da administração local, às quais o governo planeja retirar cerca de 13 bilhões de euros.
A taxa de desemprego na Itália atinge já os 9,1 por cento, o nível mais elevado desde 2005, elevando-se para 28,8 por cento entre os jovens trabalhadores.
Dois milhões na França
Os sindicatos calcularam em perto de dois milhões o número de pessoas que se manifestaram por toda a França em 24 de junho contra o aumento da idade de aposentadoria dos 60 para os 62 anos e do período de contribuições dos atuais 40 para 41,5 anos, bem como contra a ameaça de congelamento de salários no funcionalismo público.
Em Paris e Marselha as marchas juntaram mais de 100 mil manifestantes, mas em muitas cidades médias tiveram lugar ações massivas com a participação de muitas dezenas de milhares de pessoas.
Simultâneamente, a maioria dos serviços da administração pública e muitas atividades do privado foram afetadas pelo movimento grevista. Nas estradas de ferro aderiram à paralisação 38 por cento dos trabalhadores, na Educação a greve foi seguida por 20 por cento do pessoal, enquanto a rede regional do metropolitano da capital esteve quase totalmente paralisada.
Os sindicatos saudaram o enorme êxito da jornada, notando que ela representou um claro passo avante em relação ao protesto precedente de 27 de maio. As pesquisas insistem em que uma maioria de 54 por cento se opõe à reforma da segurança social, 61 por cento declaram-na "injusta" e 84 por cento estão certos de que "não assegura o equilíbrio financeiro duradouro" do sistema público.
Tribunal romeno veta corte
O Tribunal Constitucional da Romênia declarou, dia 25, inconstitucional a redução das pensões em 15 por cento, obrigando o parlamento a reformular e a votar de novo o projeto que prevê vários outros cortes drásticos nos salários do funcionalismo público e nas prestações sociais.
O TC considerou que as pensões constituem um direito adquirido ao longo da carreira profissional, não podendo por isso ser reduzidas. Também as prestações sociais de invalidez não poderão ser tocadas.
Apesar de ter sancionado a redução de 25 por cento dos salários dos funcionários públicos, entendendo que esta é uma matéria de negociação entre as partes, a decisão dos magistrados deu novo ânimo à luta dos trabalhadores, que se têm manifestado praticamente diariamente na capital romena exigindo a revogação da lei da austeridade, que ameaça privá-los de um quarto dos seus magros rendimentos.
Logo no dia seguinte, milhares de pessoas voltaram a concentrar-se frente ao palácio presidencial. A polícia investiu sobre os manifestantes e utilizou jatos de água para impedir a multidão de romper o cordão de segurança.
Dado que o parlamento dispõe agora de um prazo de 45 dias para reexaminar o projeto, as medidas que deviam ser aplicadas já no início de julho ficam por enquanto suspensas, não podendo ter efeitos retroativos.
No entanto, esta vitória provisória dos trabalhadores e pensionistas foi de imediato posta em causa pelo governo que contra-atacou, anunciando na segunda-feira (27), o aumento do IVA de 19 para 24 por cento e admitindo elevar a taxa única sobre os rendimentos do trabalho dos atuais 16 para 20 por cento.
Deste modo, os funcionários públicos correm o risco de serem duplamente penalizados, com uma brutal redução de salários e um intolerável aumento de impostos que recairá igualmente sobre os pensionistas.
Fonte: Jornal Avante!