Fidel Castro: Saber a verdade a tempo
Quando escrevia cada uma das minhas reflexões anteriores, à medida em que uma catástrofe para a humanidade se aproximava aceleradamente, minha maior preocupação era cumprir o dever elementar de informar o nosso povo.
Por Fidel Castro, em Prensa Latina
Publicado 29/06/2010 10:44
Hoje estou mais tranquilo que 26 dias atrás. Como continuam acontecendo coisas na curta espera, posso reiterar e enriquecer a informação à opinião pública nacional e internacional.
Obama se comprometeu a assistir, no dia dois de julho, à partida de quartas de final, se seu país obtivesse a vitória nos oitavas de final. Ele deveria saber mais do que ninguém que essas quartas de final não poderiam realizar-se sem que antes ocorressem gravíssimos acontecimentos, ou pelo menos deveria sabê-lo.
Na passada sexta-feira, 25 de junho, uma agência internacional de notícias de conhecida minuciosidade nos detalhes das informações que elabora publicou as declarações do "…comandante da Armada do corpo elite dos Guardiões da Revolução Islâmica, general Ali Fadavi…” -advirtiendo- “…que, se os Estados Unidos e seus aliados inspecionarem os navios iranianos em águas internacionais 'receberão uma resposta no Golfo Pérsico e no Estreito de Ormuz'".
A informação foi tomada da agência local de notícias Mehr, do Irã.
Essa agência, segundo a notícia, comunicou: "Fadavi acrescentou que 'a Armada dos Guardiões da Revolução possui atualmente centenas de embarcações dotadas com lança-mísseis'".
A informação elaborada quase na mesma hora do publicado no Granma, ou talvez antes, parecia, em alguns pontos, uma cópia fiel dos parágrafos da reflexão elaborada na quinta-feira, 24 de junho, e publicada nesse jornal na sexta-feira, 25.
A coincidência se explica pelo uso elementar que sempre aplico do raciocínio lógico. Eu não conhecia uma palavra do que publicou a agência local iraniana.
Não tenho a menor dúvida de que, logo que as naves de guerra dos Estados Unidos e de Israel ocuparem seus postos "junto ao resto das embarcações militares norte-americanas localizadas nas proximidades das costas iranianas" e tentarem inspecionar o primeiro barco mercante desse país, desatar-se-á uma chuva de projéteis em uma e em outra direção. Será o momento exato em que se iniciará a terrível guerra. Não é possível prever quantos barcos afundarão, nem de que bandeira.
Saber a verdade a tempo é para nosso povo o mais importante.
Não importa que quase todos, por natural instinto – poderia se dizer que 99,9% ou mais dos meus compatriotas -, conservem a esperança e coincidam comigo na vontade sincera de estarem enganados.
Tenho falado com pessoas dos círculos mais próximos e ao mesmo tempo tenho recebido notícias de tantos cidadãos nobres, abnegados e cumpridores de seu dever, que, ao lerem minhas reflexões, não contestam em nada suas considerações, assimilam, acreditam e engolem a seco os raciocínios que exponho, contudo, dedicam logo o seu tempo a cumprirem com o trabalho, ao qual consagram suas energias.
É isso precisamente que desejamos de nossos compatriotas. O pior seria que, de repente, se conhecessem as notícias de gravíssimos acontecimentos, sem ter escutado antes alguma notícia sobre tais possibilidades. Então espalhar-se-á o desconcerto e o pânico, que seria indigno de um povo heroico como o cubano, que esteve a ponto de se tornar alvo de um ataque nuclear maciço, em outubro de 1962, e não hesitou um instante em cumprir com o dever.
No desempenho de heroicas missões internacionalistas, combatentes e chefes valentes das nossas Forças Armadas Revolucionárias estiveram a ponto de serem vítimas de ataques nucleares contra as tropas cubanas que se aproximavam da fronteira sul de Angola, onde as forças racistas sul-africanas tinham sido desalojadas após a batalha de Cuito Cuanavale e se entrincheiravam na fronteira com a Namíbia.
O Pentágono, com o conhecimento do presidente dos Estados Unidos, forneceu aos racistas sul-africanos cerca de 14 armas nucleares, por meio de Israel, mais poderosas que as lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, como explicamos em outras reflexões.
Não sou profeta nem adivinho. Ninguém me informou uma palavra do que ia acontecer, tudo tem sido fruto do que hoje qualifico como o raciocínio lógico.
Não somos novatos nem entremetidos neste complicado tema.
No pós-crise nuclear, pode-se aprever o que acontecerá no resto da América de língua ibero-americana.
Em tais circunstâncias, não se poderá falar de capitalismo ou socialismo. Só se abrirá uma etapa de administração dos bens e serviços disponíveis nesta parte do continente. Inevitavelmente continuarão governando cada país os que hoje estão chefiando os governos, vários muito próximos do socialismo e outros cheios de euforia pela abertura de um mercado mundial que hoje se abre para os combustíveis, o urânio, o cobre, o lítio, o alumínio, o ferro, e outros metais que, na atualidade, são enviados para os países desenvolvidos e ricos e que desaparecerão repentinamente.
Abundantes alimentos que hoje são exportados para esse mercado mundial também desaparecerão de forma abrupta.
Em semelhantes circunstâncias, os produtos mais elementares que se precisam para viver: os alimentos, a água, os combustíveis e os recursos do hemisfério ao sul dos Estados Unidos, abundam para manter um pouco de civilização, cujos avanços descontrolados têm dirigido a humanidade a semelhante desastre.
Contudo, ainda há coisas muito incertas: poderão se abster as duas potências nucleares mais poderosas -os Estados Unidos e a Rússia- de empregar uma contra a outra suas armas nucleares?
Do que não há dúvida nenhuma é que, da Europa, as armas nucleares da Grã-bretanha e da França, aliadas aos Estados Unidos e a Israel, "que impuseram com entusiasmo a resolução que inevitavelmente desatará a guerra, e esta, pelas razões explicadas, de imediato se tornará nuclear", ameaçam o território russo, embora o país, como a China, tente evitar isso, na medida das suas forças e das possibilidades de cada um.
A economia da superpotência se derrubará como um castelo de cartas. A sociedade norte-americana é a menos preparada para suportar uma catástrofe como a que o império tem criado no próprio território de onde partiu.
Ignoramos quais serão os efeitos ambientais das armas nucleares, que inevitavelmente estourarão em várias partes do nosso planeta, e que, na variante menos grave, serão produzidas em abundância.
Se aventurar em hipótese seria pura ficção científica da minha parte.
Fidel Castro Ruz
27 de junho de 2010