Capistrano: As esquerdas e as eleições 2010

Na eleição que se aproxima não podemos analisar as alianças partidárias apenas do ponto de vista ideológico ou local, temos que ter uma visão ampla do seu significado para o Brasil. Este ano a prioridade é a eleição presidencial, claro que não se pode perder a visão de que é necessária, também, a presença em Brasília de uma forte bancada na Câmara e no Senado, base política fundamental para os avanços desejados pelas forças progressistas, não só do Brasil, mas de toda a América Latina.

Flavio Dino Maranhão
O caso do Maranhão, quando o diretório nacional do PT fez uma intervenção anulando uma decisão do diretório estadual de apoio ao candidato do PCdoB, Flávio Dino, ao governo do estado, merece uma reflexão analítica do quadro político nacional.

Seria bom que todos os candidatos do campo progressista, em todos os estados, tivessem a unidade das esquerdas em torno dos mesmos, mas isto é o desejo e a realidade impõe outras composições, muitas vezes contra as nossas convicções.

É bom lembrar que estamos participando de um jogo com as regras montadas pelas forças políticas que comandam o nosso país há décadas e que sempre procuraram dificultar a participação das forças progressistas no processo eleitoral. Basta ver o financiamento de campanha para entender o que estou dizendo. Agora, diante de uma realidade que está fugindo ao controle das oligarquias e da grande mídia, este ano a eleição presidencial ganhou um aspecto crucial para o Brasil: será a disputa de dois modelos, o neoliberal e o progressista. Todos dois já testados pelo povo brasileiro.

Temos hoje no comando do governo federal um bloco progressista com uma forte tendência à esquerda, mas, ainda mesclada com a presença de forças tradicionais que, dependendo do quadro político, sempre oscilam entre um lado e outro, e ainda, muitas delas, forças do atraso, como é o caso do Maranhão e do Rio Grande do Norte.

Desde sempre o nosso processo de mudança institucional tem sido pelo caminho eleitoral. A única tentativa de uma verdadeira revolução foi frustrada (1935), nunca havendo, no Brasil, uma revolução que permitisse mudanças com rupturas profundas no modelo político e econômico do país. Todo o processo de mudança ocorrido no Brasil tem sido feito pelo entendimento, muitas vezes de difícil compreensão.

Com exceção do golpe militar de 1964 e, em consequencia, os 20 anos de ditadura militar, as transições políticas no Brasil, desde a “redemocratização” em 1945 até os dias atuais, tem sido feita pela via eleitoral, com composições muitas vezes complicadas de explicar. Basta ver a Nova República, que depois de 20 anos de uma ditadura, que prendeu, torturou e assassinou milhares de pessoas, teve através de um processo lento e gradual, idealizado por Golbery do Couto e Silva a chegada da famosa “redemocratização”, que elegeria no colégio eleitoral, Tancredo Neves e José Sarney, presidente e vice, respectivamente. O primeiro do centrão, conciliador nato, uma velha raposa do PSD e, o segundo, oriundo da UDN e da antiga Arena, partido de sustentação política da ditadura militar, uma velha raposa da política do Maranhão, estado que ele comanda, com mão de ferro, há mais de 50 anos. Muito parecido com as nossas oligarquias.

Com o fim da ditadura não foi feita às reformas necessárias à implantação de uma verdadeira democracia, desejo da maioria da população, mas não do interesse da elite dominante. Não foi feita a reforma política, a mesma que é, basilar para a elaboração de todas as outras reformas. Reformas que iriam permitir mudanças estruturais necessárias para a superação das nossas mazelas historicamente acumuladas.

Sem a reforma política o processo eleitoral continuará viciado, antidemocrático e excludente. O desejo da elite brasileira é manter o status quo e o faz de conta de que temos uma democracia pluralista e participativa.

Lula foi um cochilo das elites, mas mesmo assim ela vem tentando de todas as formas desestabilizar o governo do presidente Lula. Impediram a concretização das reformas de base, mas apesar de tudo, o país avançou e se desenvolveu; Lula brecou as políticas neoliberais e vem dividindo parte do bolo com as camadas mais necessitadas. Agora, não teve força para mudanças estruturais importantes, as reformas de base não saíram. Chegamos ao século 21, no final do segundo governo do presidente Lula, ainda tendo que conciliar com forças atrasadas, com o objetivo de evitarmos o pior, a volta dos neoliberais ao poder.

As alianças eleitorais das esquerdas vêm se transformando em um verdadeiro dilema: fazer ou não fazer alianças com grupos atrasados, eis a questão.

Vamos correr o risco do retrocesso ou vamos avançar com um nome de esquerda reconhecidamente competente e comprometido com as reformas de base, com um país livre e democrático? Nome que vem defendendo os direitos dos trabalhadores, a autodeterminação dos povos e a ampliação do relacionamento do Brasil com o terceiro mundo, principalmente, com a América Latina e África.

Portanto, vejo como prioridade, nas eleições de 2010: primeiro a luta pela presidência da república, em seguida a eleição de uma forte bancada na Câmara e no Senado, sem deixar de eleger os nossos representantes nas Assembleias Legislativas.

Não se pode é correr o risco de um retrocesso. Neoliberalismo nunca mais. Essa é a minha opinião.
 

Antonio Capistrano, foi reitor da UERN, é filiado ao PCdoB.