Disputa entre petistas no Maranhão gera bate-boca na Câmara
A disputa entre petistas envolvendo o processo sucessório no Maranhão ocupou boa parte da sessão plenária da Câmara na noite desta terça-feira (15), após o jogo de estreia do Brasil na Copa do Mundo. Os parlamentares se calaram para ouvir os discursos emocionados dos petistas do Maranhão e parlamentares do PCdoB contra o deputado José Genoíno (PT-SP), que assumiu a defesa da decisão do PT Nacional, que anulou a decisão do PT estadual. A oposição “pegou carona” na disputa para atacar o PT.
Publicado 16/06/2010 15:39
Logo que começou a sessão, os comunistas trataram de pautar o assunto, manifestando solidariedade ao deputado Domingos Dutra (PT-MA) e o líder Manoel da Conceição, em greve de fome no Plenário desde a última sexta-feira (11), quando o Diretório Nacional do PT decidiu anular o apoio à candidatura de Flávio Dino (PCdoB-MA) ao Governo do Maranhão e aderir à Roseana Sarney.
Chico Lopes (PCdoB-CE) deu início a longa lista de apoios manifestados em discurso: “Sou solidário ao deputado Domingos Dutra e principalmente ao Manoel da Conceição. Vermos hoje militantes do porte de Manoel da Conceição se utilizar desse instrumento é sinal de que a democracia merece reparo, principalmente contra as oligarquias do Maranhão e do Nordeste”, disse o deputado, seguido da líder do PCdoB na Câmara, Vanessa Grazziotin (AM) e Jô Moraes (MG).
Genoíno fez a defesa do Partido, o que provocou um discurso emocionado de Dutra, dirigido a Genoíno. Dutra disse que não gostaria de receber a solidariedade da oposição: “O que eu queria era a solidariedade dos meus companheiros de Partido não a mim, mas a Mané da Conceição, que está ali, que perdeu uma perna a mando do Senador Sarney, quando foi Governador. Eu gostaria, Genoíno, que você fosse solidário a nós e não fazer a canalhice que fizeram conosco no Maranhão. Genoíno, pelo amor de Deus, é para esse oligarca, que tirou a perna do Manoel, que vocês entregam o PT?”
Sem citar o nome de Dutra, Genoíno voltou ao microfone para dizer que não ia polemizar, mas disse que não viu no petista “autoridade e legitimidade para fazer as cobranças que fez à minha pessoa”, acrescentando que “não é esse tipo de observação, de falação que vai criar qualquer constrangimento a este Deputado.”
Novas cobranças
Depois da fala de Genoíno, foi a vez de Flávio Dino assumir o microfone e fazer novas cobranças às lideranças nacionais do PT. Em defesa de Dutra, ele disse que “aqui foi feita uma denúncia política vigorosa, firme, sincera, corajosa, de quem tem autoridade para fazer.”
“Acho que os 43 companheiros da Direção Nacional do PT que cometeram essa violência merecem ouvir isso, merecem ouvir que são, sim, responsáveis”, e, reafirmando a fala de Dutra, destacou que “não aceitamos o discurso dos companheiros do PT, no sentido de que nós ameaçamos a candidatura da Ministra Dilma Rousseff. Tenham responsabilidade política! Esse é um assunto entre PCdoB, PT e PSB.”
E fez um apelo aos dirigentes do PT: “Ponham as mãos em suas consciências. Três fundadores do Partido dos Trabalhadores estão denunciando uma violência política e jurídica cometida pelo Diretório Nacional do PT, que desrespeitou os seus estatutos, o seu regulamento, a lei, e inventou uma intervenção que não existe.”
Flávio Dino criticou a atitude como “desprezo aos aliados”, acrescentando que “a arrogância é sempre má conselheira.” E sugeriu “humildade”, “reflexão” e “responsabilidade.”
“Manifesto aqui a minha solidariedade e reafirmo aquilo que o povo do Maranhão quer: sou pré-candidato a Governador do Estado, serei candidato a Governador do Estado e terei o apoio da maioria do PT do Maranhão, que quer a mudança no nosso Estado.
Que a direção nacional reflita! Ainda é hora”, concluiu, sob aplausos e gritos de “muito bem” e “apoiado”.
Briga pela democracia
Em sua fala, Dutra disse que a disputa no Maranhão “não é briga de PT, é briga pela democracia. No Maranhão, há 46 anos um miserável humilha o povo maranhense. O único Estado do Brasil em que não houve alternância depois da ditadura é o Maranhão. No Piauí, Alberto Silva derrotou os Portela, por isso deu Wellington, do PT; no Pará, deu Ana Júlia, porque Jader Barbalho, do PMDB, derrotou Passarinho; no Ceará, deu Ciro Gomes — agora está dando Cid Gomes — , porque lá os generais foram derrotados há mais de 20 anos.”
Ele reafirmou o resultado da votação no diretório estadual, de 87 votos a 85 a favor da aliança com Flávio Dino, que foi anunciado e homologado pelo Secretário Nacional do PT, Paulo Frateschi, que em seu discurso descartou qualquer possibilidade de intervenção na direção nacional do partido. Tem uma proposta vencedora, e é com ela que o PT vai trabalhar.
Em um discurso emocionado, que o levou às lágrimas, Dutra encerrou dizendo que “Então nos expulsem do partido, ou tenham vergonha, respeitem as regras do partido.”
Situação crítica
Manoel da Conceição, que completou cinco dias de greve de fome, passou mal na noite de ontem (15) e foi atendido no Departamento Médico da Câmara. Ele tem sido acompanhado pela equipe médica da Câmara e por assessores, que monitoram sua saúde.
Flávio Dino pediu a Manoel da Conceição que acabe com a greve de fome. “Ele tem 75 anos, é um herói da luta contra a ditadura, fundador do PT. Está doente, pode morrer a qualquer momento”, disse.
Manoel da Conceição foi preso, torturado e exilado durante a ditadura militar. Teve uma perna amputada porque foi alvo de tiros da polícia na época.
“Só saio daqui para o cemitério, ou se o PT suspender a decisão que tomou. Enfrentei 20 anos de ditadura, não vou enfrentar isso?”, disse o militante.
De Brasília
Márcia Xavier