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A "crise" na campanha de Dilma e a fantasiosa "isenção" do PiG

No último fim de semana, a imprensa veiculou declaração do presidente Lula sobre a diferença de cobertura que a Globo deu às convenções do PSDB e do PMDB que escolheram os candidatos que os partidos apoiarão na disputa pela Presidência da República.

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania

Diante da gritante desproporção entre os tempos dispensados pelo Jornal Nacional para as convenções que escolheram Serra e Dilma, Lula disse – sem citar a Globo – que veículos que tivessem preferências partidárias deveriam assumi-las para que o eleitor de Dilma mudasse de canal quando aquele veículo estivesse fazendo campanha.

A Globo acusou o golpe e deu amplo espaço, em seu último programa dominical “Fantástico”, para a convenção do PT. Devo dizer que foi uma cobertura correta, equivalente à de Serra.

Fica cada vez mais claro, portanto, que a Globo – e a Folha,o Estadão, a Veja e os seus tentáculos na imprensa nacional – não pretende assumir sua opção eleitoral coisa nenhuma, pois acredita que a imagem de isenção é a que melhor favorece o sucesso de sua campanha dissimulada para José Serra.

Contudo, basta uma rápida lida nos jornais da coalizão tucana para detectar a enorme diferença de tratamento que é dado aos dois grupos políticos e, sobretudo, aos seus candidatos a presidente.

Para Lula, Dilma e o PT abundam termos e expressões pejorativas, julgamentos de valor sem qualquer base factual, oriundos apenas de opiniões e preferências. Para Serra, uma maioria gritante de elogios e raríssimas críticas, além de repetitivo endosso às teses tucanas.

Vejam, por exemplo, o que se pode extrair rapidamente dos jornais desta segunda-feira. Depois, que cada um procure coisa semelhante em relação a Serra nos mesmos veículos. Ao fim, que se tire as conclusões inevitáveis sobre essa fantasiosa isenção que a imprensa se atribui.

Correio Braziliense
Na oficialização da candidatura de Dilma à Presidência, PT “desbota” o vermelho das bandeiras e direciona o discurso para o público feminino, ainda resistente ao nome da ex-ministra de Lula
Lula, sombra indispensável
Serra arregaça as mangas
Serra foi bastante aplaudido

O Estado de S. Paulo
Presidente domina festa de oficialização da candidatura da ex-ministra
Dilma fez um discurso de 50 minutos, mas não empolgou os militantes.
Ainda sem entusiasmar a plateia, que soltava tímidos aplausos, Dilma comparou o Brasil de gestões passadas
Ao defender um governo de coalizão, Dilma parecia à vontade ao lado dos novos aliados – desafetos do PT num passado não muito distante, como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP)
Dilma é candidata por falta de opção
O PT continua sendo o partido dos pobres, mas não da ética
Ao discursar, o presidente disse que mudou de nome nesta eleição, para Dilma. E que ela o representará na urna eletrônica. Só falta agora Lula ir à TV e, ao melhor estilo Enéas, bradar: “Meu nome é Dilma.”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofuscou a ex-ministra na convenção de ontem
Presidente Lula empata com Figueiredo [último ditador militar]

O Globo
Dilma acabou ofuscada pela desenvoltura do presidente no palanque
Serra se beneficia daquilo que a população enxerga como a grande obra de FHC – o fim da hiperinflação – e mais ainda da sua notável gestão à frente da Prefeitura e do Estado de São Paulo
A população parece querer mais do que apenas manter conquistas importantes
Não nos deixemos enganar pela visão equivocada de que o País está muito bem, que é só pisar o pé no acelerador, manter as políticas atuais e em breve seremos uma potência mundial.
Ao se colocarem a serviço direto, sem disfarces, da candidatura de Dilma Rousseff à presidência, a infração menos grave que as centrais sindicais cometeram foi a “antecipação” da campanha
Ninguém é insubstituível. A alternância está no DNA da democracia. Lula tem méritos? Inúmeros. Mas sua maior grandeza, seu genuíno serviço, seria a renúncia ao projeto pessoal de perpetuação no poder.
A cúpula do PSDB vem cobrando explicações do PT sobre a elaboração de um dossiê contra seu candidato à Presidência, José Serra
Jingle associando a candidata à palavra “coroa” gera protesto de militantes do movimento de mulheres
Na área externa do salão [da convenção do PT], uma barraquinha vendia DVDs piratas

Valor Econômico
O Brasil pode estar ganhando respeito no front econômico, mas quanto à liderança geopolítica, Lula acaba preservando imagem de país ressentido e com complexo de Terceiro Mundo
O Brasil ainda não está pronto para ter um lugar de destaque nos círculos internacionais
Lula está prejudicando a reputação do Brasil em nome de sua própria gratificação política.
No mais contundente discurso político desde o início da pré-campanha à Presidência da República, José Serra foi oficializado candidato do PSDB acusando o governo de desdenhar a democracia, menosprezar o Estado de Direito, intimidar a imprensa, sustentar “organizações pelegas” e tentar aniquilar a oposição “pelo uso maciço do aparelho e das finanças do Estado”. Os adversários foram classificados de “neo-corruptos”.

Folha de S.Paulo
À sombra de Lula, Dilma promete “alma de mulher”
No final de seu discurso, Lula lembrou que pela primeira vez, desde 1989 (…)Foi como uma cena de sexo explícito (…) Dilma apenas sorria, empetecada
Depois que Serra o comparou a Luís 14, Luiz da Silva à sua maneira responde: Dilma sou eu! Expôs ao mesmo tempo a força da candidatura e a fragilidade da candidata.
Dilma tomou a palavra. Fez um discurso tecnocrático, modorrento, sem ênfases ou graça. A plateia se dispersou e cochichava bastante.
Se o projeto petista fosse um filme de Hollywood, James Cameron poderia ser o diretor. O roteiro teria Lula enviando seu avatar para a campanha.
Sobre Dilma governar “com o nosso amor”, a frase é incompleta. Haveria mais rigor num verso falando em administrar o país “com o nosso amor, e também com Sarney, com o PP de Maluf, o PMDB e seu apetite por cargos e com o PR de Valdemar Costa Neto”.
Lula zarpou do evento assim que Dilma encerrou sua fala para não dividir holofotes com a candidata.
A campanha de Dilma tenta organizar um convescote para que ela assista à estreia do Brasil na Copa
A campanha de Dilma Rousseff usou ontem um logotipo que lembra o utilizado na campanha de Barack Obama
Lula sabe que Dilma está longe de empolgar
O discurso de Dilma foi longo, ainda num tom monocórdico, deixando a militância sonolenta.
Num encontro previsível, com uma militância comportada e ensaiada, o roteiro buscou fazer de Dilma a personagem principal do evento.
Lula vai grudar sua imagem mais do que nunca em Dilma. Tanto que o eleitor realmente pode votar na petista pensando estar dando ao presidente um terceiro mandato.
Enquanto Dilma discursava, Lula conversava com sua mulher, Marisa Letícia. Chegou até a bocejar.
O tom enfadonho de Dilma ganhará ares de entusiasmo
Tudo que você leu é apenas parte dos ataques renitentes que a grande imprensa dedica a Dilma, a Lula e ao PT todo santo dia há anos e anos. São deboches, ilações, suposições, fofocas e mentiras, muitas mentiras.

 

A campanha de Dilma está sempre em crise, ela é apresentada o tempo todo como uma marionete sem cérebro e Lula, como um criminoso que estupra a lei seguidamente e que é capaz de qualquer coisa para eleger a sucessora.

Já sobre Serra, pouco se encontra nos jornais, nas TVs etc. É muito raro ler alguma fofoca ou deboche, a não ser quando reproduzido em falas dos adversários, sempre mostrados como desleais. Sua campanha dificilmente sofre alguma crise (na mídia).

Entre Lula e FHC, são dezenas de vezes por dia, há quase oito anos, que a mídia atribui os sucessos do primeiro ao que o segundo teria plantado, apesar de ter entregue um país escangalhado ao sucessor e de ser repudiado pela maioria esmagadora dos brasileiros.

Enfim, todos os dias, enquanto se diz isenta, a mídia dá reiteradas e fartas provas de seu partidarismo desabrido pró PSDB e, sobretudo, pró Serra. Em minha opinião, negar esse partidarismo só serve para fixar mais na cabeça do eleitor o que é um fato inegável.

No fim deste ano, quando o novo presidente – ou a nova presidenta – já for conhecido, talvez, então, esses impérios de comunicação comecem a dar bola para o que disseram pessoas como eu, que só esses impérios – e seus asseclas – não percebem como seu partidarismo é gritante.