Parreira: brancos e negros sul-africanos unem-se no futebol
Em entrevista ao jornal paulistano Folha de S.Paulo, o técnico da seleção sul-africana, o brasileiro Carlos Alberto Parreira, afirmou que a Copa do Mundo de futebol deverá repetir um fenômeno que já aconteceu com outro esporte, o Rúgbi, na superação temporária da barreira racial existente no país.
Publicado 09/06/2010 16:27
Parreira conta que tanto negros quanto brancos se unem em torno de um esporte, algo que aconteceu na Copa do Mundo de Rúgbi, em 1995, e que se repete agora, com o futebol. No entanto, Parreira comanda uma equipe quase exclusivamente negra. "Temos um branco apenas pois é o único com condição de jogar. Futebol aqui é esporte de preto."
Leia a seguir alguns trechos da entrevista concedida ao jornal paulistano no hotel em que a seleção sul-africana está hospedada, em Johannesburgo.
Você acha que a seleção pode ter a função de unir brancos e negros do país?
Carlos Alberto Parreira – Os brancos estão animadíssimos. Fui a um restaurante italiano que tem muito branco e fui aplaudido.
O que a seleção de futebol está fazendo o Mandela fez com o rúgbi em 1995. "Um esporte, um país." O que vai acontecer na Copa, não sei.
Estamos num grupo dificílimo. A seleção estava desacreditada. Agora, estamos nos unindo. Um jogo aqui é uma festa. A torcida é talvez a mais alegre do mundo.
Existe alguma questão racial no time?
Não. Temos um branco apenas porque é o único com condição de jogar. Futebol aqui é esporte de preto.
A África do Sul mostrará alguma evolução tática na Copa?
Nós não tínhamos uma cara. Quis dar uma identidade. Fiz questão de colocar a bola no chão. Parecia coisa de criança. Não somos iguais ao Brasil ou ao Barcelona, mas já temos um modo de jogar.
Não sei se o futebol aqui vai melhorar. Eles têm que investir na base para não ficar para trás. É uma das dez ligas mais ricas do mundo.
Você acompanhou a preparação da África do Sul para sediar a Copa de 2010. O que o Brasil precisa fazer para o Mundial de 2014?
O Soccer City [estádio principal de Johannesburgo, local da abertura e da final] foi demolido e fizeram essa beleza de estádio, o mais bonito do mundo. Porque é único. Os estádios estão iguais, todos têm arcos imensos.
Perdemos uma oportunidade de construir três ou quatro estádio novos. Tomamos a decisão de renovar três estádios de 60 anos. Perdemos uma oportunidade histórica. Aqui, fizeram quatro aeroportos modernos, construíram hotéis.
O futebol virou showbizz?
A gente fala da televisão, fala da mídia, dos comerciais. As empresas estão investindo. O futebol mudou. E está sobrevivendo com isso.
Se a televisão quer o jogo num horário, não se discute, ela está pagando, tem de jogar. Sem esse dinheiro não se vive. Tem que ser pragmático. E hoje os atletas ganham mais, jogam mais, têm mais responsabilidades, os prêmios são maiores.
Fonte: Folha de S.Paulo