George Câmara: A Defesa de Natal e o livro de Carlos Eduardo

No último dia 1º de junho, terça feira, não pude comparecer ao lançamento do livro do Ex Prefeito Carlos Eduardo Alves, em Natal. Estava em São Paulo integrando a delegação de dirigentes e militantes do movimento sindical presentes à 2ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora – 2ª CONCLAT – no estádio municipal do Pacaembu.

Parque da Cidade
Por intermédio de minha companheira Fafá Viana, Presidente do Comitê Municipal do PCdoB em Natal, fiquei sabendo do sucesso da programação. A livraria Siciliano do Shopping Midway Mall ficou pequena, diante da fila interminável de pessoas presentes na ocasião. Prestígio pessoal e político do autor, combinado com o interesse das pessoas pelo tema ou mesmo curiosidade, o fato é que a receptividade da sociedade é inquestionável.

Levando-se em conta o assunto e o conteúdo, considero uma oportunidade adequada para refletirmos sobre os destinos de Natal. Por essa razão, não pretendo desenvolver nestas breves linhas nenhuma análise literária acerca do livro “PARA UMA HISTÓRIA DO PARQUE DA CIDADE”. Gostaria de levantar outras reflexões. Qual o olhar que o gestor público deve ter sobre uma cidade: o da indiferença, o do abandono à própria sorte, ou o da defesa do interesse público? A preservação do meio ambiente deve estar subordinada a que tipo de política: de governo ou de estado?

Os gestores são passageiros. As instituições, não. Elas permanecem. É por isso que não pertencem a este ou aquele administrador, mas a todo o povo. Inclusive às gerações que venham depois. O meio ambiente, por se tratar de um bem imensurável e que perpassa gerações, é elencado nos diplomas legais no rol dos direitos supra geracionais.

Um (a) estadista, ao suceder uma boa gestão, deve dar continuidade e superar os limites da administração anterior, corrigindo eventuais falhas e suprindo as insuficiências identificadas, ou simplesmente tentar “desconstruir” o que veio antes?

O espaço denominado Parque da Cidade, que integra uma das metades da Zona de Proteção Ambiental Nº 1 (ZPA 1), no San Vale, entre os bairros de Candelária, Cidade Satélite e Cidade Nova, Zona Sul de Natal, configura-se como um ecossistema de considerável biodiversidade e, até por isso, enseja um olhar necessariamente preservacionista. Além de ser um local privilegiado para um tipo de uso da população de forma integrada, numa relação de pertencimento mútuo.

Tratá-lo como uma mera logomarca da gestão anterior é, antes de qualquer coisa, assinar um atestado de mediocridade. De incapacidade política e administrativa, de absoluta falta de talento para descer do palanque eleitoral e governar de fato a cidade.

O livro, que tem dois momentos, trata inicialmente da construção de uma proposta. Coloca Natal num circuito seleto pelas mãos do Arquiteto Oscar Niemeyer, combinando a valorização do que há de mais avançado na arquitetura moderna em todo o planeta, com a reafirmação das convicções de uma gestão comprometida com a preservação do meio ambiente e a defesa do interesse público. Contraria a especulação predatória em relação ao uso e ocupação do solo urbano.

Muito nos honra ter contribuído, em outubro de 2005, através de contato com a direção do Partido Comunista do Brasil no Rio de Janeiro, para abrir o primeiro contato do então Prefeito Carlos Eduardo com Oscar Niemeyer visando esse projeto.

Na segunda parte, o livro aborda a desconstrução. Denuncia o descaso e a ação deliberada que tem por finalidade atender a outros interesses, de adjetivos dispensáveis. Lamenta-se que ainda prevaleçam na gestão pública atitudes que remontam à época da colonização. Mas a população de Natal, como a de todo o Rio Grande do Norte, não sofre de amnésia.

Aos gestores contemporâneos do futuro, nossos parabéns. Vale a pena acreditar e construir o amanhã!

 

George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB www.georgecamara.com.br