O lado cultural da Aliança de Civilizações
Apresentar novas dimensões aos problemas entre as diferentes culturas e chamar a atenção para questões que afetam diretamente os países como emigração, fome e educação.
Estes foram alguns dos eixos temáticos discutidos durante o 3º Fórum da Aliança de Civilizações, que reuniu cerca de 7 mil participantes de 100 países, no Rio de Janeiro.
Por Antônio Campos, no Jornal do Brasil
Publicado 07/06/2010 06:23
Realizado entre os dias 28 e 29 de maio, o encontro abordou questões referentes aos conflitos mundiais e diferenças culturais, além de propor soluções, através do diálogo, para superação de conflitos entre as nações A Aliança de Civilizações é uma iniciativa da Organização das Nações Unidas, cujo objetivo é mobilizar a opinião pública a fim de superar preconceitos e ideias que, muitas vezes, geram conflitos entre países e etnias diferentes. Foi inicialmente proposta pelo presidente da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, na 59º Assembleia Geral das Nações Unidas, logo após os atentados terroristas no metrô de Madri, em 2004.
O que é ser europeu? O evento aconteceu em boa hora, pois métodos para melhorar o convívio ou diálogo entre culturas ou indivíduos, admitindo diferenças, sem discriminações, passou a ser um dos principais desafios do século 21. Atualmente, as relações ou diálogos entre as culturas estão sendo alteradas pelos deslocamentos de imigrantes, como também pela crescente interdependência entre as sociedades pelo efeito da globalização.
Exemplo disso é o que acontece em Los Angeles, segunda cidade em número de mexicanos; Buenos Aires é a segunda em número de bolivianos.
O que significa ser europeu, num continente marcado não apenas pelas culturas de suas antigas colônias, mas também por outras culturas e povos oriundos de migrações ou diásporas pós-coloniais? Recentemente, a Suíça proibiu novas cúpulas de mesquitas. Debate-se na França o uso da burca e a edição de uma legislação proibindo o uso de vestimentas árabes, quando cerca de 1,5 milhão de muçulmanos vivem na região de Paris.
Cresce o medo de terrorismo, na Alemanha, num momento em que a comunidade muçulmana chega a mais de 2 milhões de habitantes.
No seu livro Choque de civilizações, o sociólogo Samuel P. Huntington previu que, depois da Guerra Fria, as disputas se dariam no terreno da cultura e da religião. O historiador Eric Hobsbawm comentou numa entrevista que “hoje o fator xenofóbico do nacionalismo é cada vez mais importante. Tratase de algo muito mais cultural que político”.
Jorge Sampaio, ex-presidente de Portugal e alto representante da ONU no Fórum Aliança de Civilizações, ressaltou duas notas em entrevista recentemente publicada: “Em primeiro lugar, entendo que a governança democrática da diversidade cultural se tornou questão central do desenvolvimento sustentável enquanto o seu quarto pilar, para além das dimensões econômica, social e ambiental.
Em segundo lugar, a questão das relações entre o Ocidente e o islã comporta uma vertente global, e nesse sentido interessa a todos independentemente do tecido étnico, cultural e religioso de cada”.
O Brasil, que é um país mestiço, marcado pela mistura de várias raças, deve ser motivo de estudos quanto à tolerância e convívio entre etnias e culturas. Prescindimos de identidade, porque temos todas elas.
O Brasil pode e deve ser um paradigma importante para o diálogo entre culturas e etnias no mundo contemporâneo.
Esse traço marcante da mistura racial do Brasil foi objeto de estudo, destacandose o sociólogo Gilberto Freyre.
Ultimamente, o Brasil tem papel relevante nas relações diplomáticas internacionais, destacando-se o acordo firmado entre o Brasil, Irã e Turquia, que mostra um caminho de diálogo entre o ocidente e o islã. O cineasta Oliver Stone, diretor do filme P l at o o n , comentou, em visita ao Brasil, que o país é muito importante no mundo, mas que a parceria firmada com o Irã pode não ser bem vista por todos. “Nós queremos paz. Nós não queremos uma guerra. E a situação do Irã pode ser tornar outro caso como o Iraque. Me parece que os Estados Unidos estão interessados em outra marcha para a guerra”, afirmou.
Está no centro da vida contemporânea o desafio de construir pontes, diálogos construtivos de paz, entre culturas que estão em choque real ou aparente, em sociedades cada vez mais interculturais.
É preciso lutar contra os comportamentos de discriminação e de condenação do “diferente”. Resistir contra a tentação fácil da xenofobia e do racismo.
Diálogo é a palavra chave do mundo contemporâneo: entre artes, etnias, religiões, culturas .
Fonte: Jornal do Brasil