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Sindicato da Construção Civil da Bahia: uma história de lutas

Imerso numa atmosfera de lutas operárias potencializadas no ano de 1917, com a eclosão da Revolução Russa, o Brasil assimilava as bandeiras de luta pela emancipação da classe trabalhadora. Foi neste ano que o país assistiu à deflagração da sua primeira grande greve, com a adesão de cerca de 70 mil trabalhadores, paralisando a indústria e o comércio nos principais pólos nacionais.

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Com o reconhecimento da legitimidade do movimento operário, obrigando patrões a negociar com o proletariado, a possibilidade da organização sindical torna-se real e, consequentemente, um incentivo às demais agremiações de trabalhadores vítimas da exploração e péssimas condições de trabalho.

Na Bahia, dois anos mais tarde, em 1919, o reflexo é facilmente constatado a partir da fundação de sindicatos operários, a exemplo dos metalúrgicos, dos gráficos e dos trabalhadores em construção civil; este último se chamava de Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e demais classes. Com apenas 72 dias de fundada, a entidade deflagrou uma greve nas construções pela jornada de 8 horas semanais e melhoria salarial, e que culminou numa greve geral que deixou Salvador sem energia, luz e transporte. As reivindicações foram atendidas e multiplicaram-se as inscrições de novos filiados no Sindicato.

Atuante, o Sindicato reunia-se frenquentemente em assembléias e, inclusive, organizou o 1º Congresso dos Trabalhadores Baianos, reunindo autoridades civis e militares, representantes do Governo e da imprensa. A entidade também lançou o jornal O Germinal, depois chamado de A Voz do Trabalhador, redigido pelos próprios operários e com críticas às irregularidades dos empregadores.

O prestígio e respeito para com o Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e demais classes era, até então, algo inédito; a contar, inclusive, com a simpatia do governador da Bahia, Antonio Muniz Aragão, segundo contam historiadores do período. Fase similar foi vivenciada também com a democratização pós 1930, quando o Sindicato tornou-se referência, entre os trabalhadores, como um dos mais ativos núcleos de luta contra o fascismo e o integralismo. E a atuação reivindicatória do já Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil ganha ainda mais importância a partir de 1946, com a redemocratização nacional pós-ditadura getulista; período em que o número de filiados ultrapassa a faixa dos 3 mil.

Grandes manifestações ao longo da história

Em 1962, 25 sindicatos de trabalhadores baianos, incluindo o da Construção Civil, organizaram uma greve em solidariedade aos operários da fábrica Sambra, o que acarretou na readmissão dos funcionários demitidos no dia seguinte. Neste mesmo ano, o Sindicato participou do I Encontro Sindical dos Trabalhadores na Indústria do Norte e Nordeste, e do I Encontro Sindical dos Trabalhadores Baianos. Foi também em 62 que a entidade organizou a primeira paralisação geral dos serviços da construção civil, em protesto ao alto custo de vida e o não-pagamento do 13º salário.

Com a instalação da Ditadura Militar, em 1964, os sindicatos são invadidos e líderes perseguidos, presos e torturados. Com o temor das Forças Armadas, há uma drástica redução dos associados que, neste ano, somam apenas 280. E, em outubro de 66, o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil é colocado sob intervenção; situação em que permanece até abril de 1967.

Já sob os ares da abertura política, em 1989, o Sindicato deflagrou uma greve até então sem precedentes, mobilizando em torno de 10 mil trabalhadores de todo o estado no movimento conhecido como A Revolta dos Peões, tendo à frente líderes operários como Wasghinton José de Souza. A negociação com o Sindicato Patronal resultou num ganho salarial quase três vezes acima do que era pago à época. “A principal vitória foi a conscientização dos trabalhadores do ponto de vista de classe”, recorda o atual presidente do Sindicato, Raimundo Brito, associado desde 1987.

A partir de 1990, ratificando seu caráter combativo, politizado e classista, contrário às práticas assistencialistas que desvirtuam os reais objetivos de emancipação do trabalhador, o Sindicato comandou diversas paralisações, com destaque para a greve recorde de 36 dias que culminou em um acordo com a Delegacia Regional do Trabalho estabelecendo, entre outros pontos, reajuste salarial variando de 35% a 65%, estabilidade de 60 dias no emprego, e pagamento dos dias parados. Trata-se da maior greve de toda a história da construção civil na Bahia.

Luta e conquista

Já em 2010, a última grande manifestação do Sintracom reuniu mais de 5 mil trabalhadores na Marcha em Defesa do Emprego, no último 21 de maio. Nos cerca de 16 km percorridos pelas ruas de Salvador, os operários protestaram contra a ameaça de desemprego. A revogação de licenças ambientais irregulares concedidas pela prefeitura de Salvador entre 2005 e 2010 poderá implicar em paralisação das obras e na demissão massiva de 50 mil trabalhadores.

Com o protesto, o Sindicato conseguiu a garantia de participar de audiência com representantes da Prefeitura e das instituições do meio ambiente no dia 2 de junho. “A expectativa é que a gente encontre uma saída para que os trabalhadores não percam o emprego e não sejam prejudicados. E nós tivemos essa garantia, dos ministérios públicos Federal e Estadual”, atestou Brito.

Ao longo dos anos de organização e combatividade, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e da Madeira – Sintracom, como é hoje chamado, acumula conquistas importantes, como alimentação no local de trabalho, cesta básica, ganho salarial superior a várias categorias de serviço, respeito dentro das obras por parte dos patrões, bom nível de sindicalização e forte presença nas assembléias e atividades. “A principal conquista é a dignidade do operário da construção civil e o respeito dos trabalhadores como tal”, afirma o presidente do Sintracom.

De Salvador, Camila Jasmim