Ciclistas pedem passagem no trânsito

O visível crescimento do número de ciclistas e seus grupos organizados na cidade tem colocado em evidência diversas questões referentes à educação no trânsito. A postura dos motoristas com relação aos pedestres e, especialmente, aos ciclistas, é um tema bastante polêmico nos centros urbanos.

Em Aracaju não é diferente. "Estamos tentando educar quem está atrás do volante, porque somos todos pedestres, quando deixamos os veículos motorizados", conta o coordenador de Ciclomobilidade da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), Fabrício Lacerda.

Segundo ele, é óbvio que ações educacionais não irão surtir efeito do dia para a noite. Na Holanda, por exemplo, campanhas educativas são realizadas há mais de três décadas, mas só há cerca de cinco anos começaram a ter uma repercussão entre a população.

De acordo com Fabrício Lacerda, a SMTT tem proposto diversas atividades de cunho educativo, não só para quem já dirige, mas também dentro das escolas, para crianças e adolescentes, que são os futuros motoristas de Aracaju.

O coordenador afirma que as campanhas geralmente têm foco na prevenção de acidentes, sempre com o objetivo de reduzir a violência no trânsito e, principalmente, os sinistros que levam a óbito.

"Na Virada Cultural [evento organizado durante as comemorações do aniversário da cidade] fizemos um projeto novo, chamado Escola de Bicicleta, que serve tanto para crianças que querem aprender a utilizar a bicicleta, como também para adultos que estão preocupados com a segurança em sua utilização", afirma Fabrício Lacerda.

Respeito

A visão dos ciclistas é que, em geral, os motoristas ainda não se deram conta de que a bicicleta existe no trânsito e que o veículo precisa estar inserido nesse sistema. "Os motoristas ainda vêem as bicicletas como uma anomalia no trânsito e não entendem seu papel no conjunto do tráfego. É difícil conseguir respeito de pessoas que não reconhecem esta atividade como legítima", afirma Breno Guimarães, licenciado em História.

Opinião semelhante tem a servidora pública Nellie Rabanal, que pedala regularmente desde 2006. "Para a grande maioria dos motoristas, os ciclistas são vistos como obstáculos a serem transpostos, assim como um sinal vermelho ou uma lombada eletrônica. Muitas vezes, o motorista que está dentro do seu carro só pensa em chegar ao destino sem perceber que o trânsito é composto por motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres", observa.

Para a estudante de jornalismo Talita Albuquerque, a convivência entre motoristas e ciclistas ainda é um pouco complicada na capital sergipana. "O número de automóveis em Aracaju tem crescido muito e, para nós, ciclistas, dividir espaço com tantos veículos é um desafio diário, principalmente porque estamos todos submetidos a uma carga enorme de estresse todos os dias", argumenta.

Enxergando um cenário bem mais positivo na relação entre motoristas e ciclistas no trânsito, o publicitário Fábio Soares, membro do grupo de ciclistas Pedal Suado, acredita que em Aracaju o comportamento do motorista no trânsito tem melhorado bastante. "Eu fiz uma viagem de Aracaju a Salvador de bicicleta, e lá o trânsito é muito caótico. Comparado ao baiano, o motorista aracajuano está muito à frente no quesito educação no trânsito", defende.

Convivência saudável

Segundo Breno, nem tudo está perdido, principalmente em virtude do aumento do número de ciclistas e da realização dos passeios liderados por grupos organizados, que têm dado uma visibilidade maior à prática. "Não acho que o trânsito seja tão hostil como há cinco anos, mas estamos ainda no começo de uma mudança realmente significativa", argumenta.

Para Talita, a saída para uma boa convivência é a tolerância. "O mais difícil é conviver com os ônibus, mas não culpo os motoristas por isso, pois eles estão sujeitos a uma rotina de trabalho muito estressante. Sempre tento respeitar os limites dos outros e os meus também", explica.

Ainda com relação aos motoristas de ônibus, Fábio Soares diz que, atualmente, eles já são bem mais compreensivos com os ciclistas. "Lógico que, como no trânsito lidamos com pessoas, é inevitável que sempre haja algum estranhamento. Mas, num geral, as pessoas nos respeitam quando fazemos sinal de que vamos passar, por exemplo", assinala.

Nellie acredita que a gentileza por parte do ciclista também é um bom caminho para melhorar a convivência. "Eu sempre sinalizo como as mãos pra onde quero entrar em algum lugar e agradeço quando um motorista me dá a preferência quando estou pedalando", afirma. Para ela, quando o ciclista é educado e obedece as regras do trânsito, é bem mais fácil ganhar a simpatia e o respeito dos motoristas.

Para Fábio, cada ciclista é um multiplicador do espírito do ciclismo e da sua defesa como parte integrante do sistema de trânsito. "Todo mundo tem sempre algum amigo que pedala, e por isso começa a ter, como motorista, uma visão diferente do ciclista no trânsito", diz. Ele explica ainda que a família dos ciclistas muitas vezes se envolve, de forma que hoje existem diversos núcleos familiares sensibilizados com essa questão.

Regras

Um aspecto importante e que precisa ser evidenciado é a necessidade de que o ciclista, assim como o motorista, respeite as regras do trânsito. "O ciclista tem que andar na direção correta, respeitar o sinal, manter-se do lado direito, próximo ao acostamento, respeitando as leis de trânsito assim como os demais motoristas", explica Fábio Soares.

Segundo ele, os próprios ciclistas, por desinformação ou imprudência, causam muitos acidentes. "Eu mesmo já sofri um acidente por conta de outro ciclista que vinha na contramão", conta. Pelo fato de a bicicleta ser um meio de transporte que deixa o usuário bastante vulnerável, é indispensável que o ciclista atente para todas as medidas de segurança necessárias na hora de pedalar. "Além de utilizar os equipamentos necessários, é importante que o ciclista e os demais motoristas tenham conhecimento e respeite as leis de trânsito", alerta Fábio.

Quem tem a mesma opinião é o publicitário Gil Neto, que adora praticar esportes e pedala nas horas vagas, mas sem querer acabou atropelando um ciclista que vinha pelo contramão, numa região que tinha ciclovia. Por sorte não aconteceu nada grave. "No trânsito é preciso ter em mente o perigo que você pode causar aos outros e a si mesmo. É fundamental usar equipamentos de segurança e andar sempre no sentido do trânsito. Pedale com consciência", alerta.