China defende acordo nuclear; potências insistem em sanção
O governo da China, um dos cinco países com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), anunciou nesta terça-feira (18) ser favorável ao acordo para a troca de combustível nuclear iraniano em território turco, assinado na segunda-feira por Irã, Brasil e Turquia.
Publicado 18/05/2010 11:27
"Apoiamos o acordo, consideramos importante", declarou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Ma Zhaoxu. "Esperamos que isto ajude a promover uma solução pacífica à questão nuclear iraniana", acrescentou.
Irã, Turquia e Brasil assinaram, nesta segunda-feira (17), um acordo de troca de combustível nuclear iraniano em território turco. O documento determina que o Irã enviará à Turquia 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 120 quilos de urânio enriquecido a 20%, com monitoramento de organismos internacionais.
Assim como o Brasil, os chineses insistem na via diplomática para a solução do impasse em torno do programa nuclear iraniano, ao contrário de Estados Unidos, Reino Unido e França – todos países com armamento nuclear -, que defendem a aplicação de novas sanções à nação islâmica.
Ainda nesta segunda, os Estados Unidos informaram que, apesar do acordo representar um "passo positivo", seguirão pressionando por novas sanções do Conselho de Segurança da ONU a Teerã. "Dadas as repetidas vezes em que o Irã falhou em cumprir suas promessas e a necessidade de lidar com questões fundamentais ligadas ao programa nuclear, os EUA e a comunidade internacional continuam a ter sérias preocupações", disse Robert Gibbs, porta-voz da Casa Branca.
Para o governo norte-americano, o entendimento entre Irã, Turquia e Brasil é "vago sobre a disposição de o Irã se reunir com países do P5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) para lidar com as preocupações internacionais acerca do seu programa nuclear". Os maiores jornais dos Estados Unidos destacaram em suas edições desta terça o acordo, avaliando que se trata de uma manobra do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
A chefe da política externa da União Europeia (UE), Catherine Ashton, disse que o acordo falhou ao não abordar o tema fundamental da "intenção da arma nuclear". A Rússia, que junto à China e ao Brasil também vinha resistindo a novas sanções ao Irã no CS, ultimamente parecia mais favorável às novas punições. Ontem, o presidente russo, Dmitri Medvedev disse, por telefone, ao presidente Lula que o acordo alcançado em Teerã "abre a possibilidade de um outro caminho", que não seja o das sanções.
Medvedev, contudo, também engrossou o coro das potências nucleares, ao afirmar que o Irã ainda precisa enviar "uma mensagem forte" ao mundo a respeito de suas intenções na área nuclear. Na Ucrânia, ele declarou que "as inquietações da comunidade internacional continuarão", mas, a Lula, informou que telefonaria ao presidente dos EUA, Barack Obama, para sugerir um tempo para analisar melhor o acordo.
Em comunicado oficial, a França demonstrou seu pleno apoio a Lula em sua condução do tema nuclear iraniano, classificando de passo positivo o acordo. Mas manteve as ressalvas. "O presidente da República (Nicolas Sarkozy) acredita que a transferência de 1.200 kg de urânio levemente enriquecido fora do Irã é um passo positivo. Deve-se acompanhar logicamente um cessar do enriquecimento a 20% por parte do Irã de seu combustível nuclear", diz o texto.
A reação negativa ou cautelosa de alguns desses países nucleares em relação ao acordo firmado ontem reflete, na prática, que essas potências não desejam um entendimento com o Irã. Não querem qualquer acerto que envolva o direito daquele país do Oriente Médio de enriquecer urânio, mesmo que para fins pacíficos, porque o domínio dessa tecnologia naquela região estabelece uma nova configuração política. Tira o conhecimento e a tecnologia das mãos de um seleto grupo.
Tempo ao Irã
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, conversou logo nesta segunda com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, sobre o futuro das negociações. "Ela expôs a visão dela. Acho que ela (Hillary) tem as suas dúvidas, que foram expressas. Eles continuam tendo aquelas desconfianças, ou suspeitas", afirmou Amorim em coletiva de imprensa improvisada por telefone.
"É claro que se pode dizer: 'Ah, mas eu não acredito'. Mas tem de dar um tempo para ver as coisas acontecerem", afirmou Amorim, destacando que vai continuar as conversas com Hillary e outros representantes diretamente envolvidos na questão nuclear iraniana. Para ele, é preciso dar um voto de confiança a Ahmadinejad porque o Irã deu garantias de que o acordo vai ser cumprido.
"O Irã pôs no papel, por escrito, coisas que nunca tinha posto antes. A entrega dos 1,2 mil kg de urânio iraniano, a não condicionalidade sobre o recebimento prévio do combustível, que afeta o fator tempo, que é fundamental", disse Amorim. "O Irã se dispôs a fazer a carta sem restrições para a Agência Atômica. Tudo isso cria uma situação absolutamente nova. Nós criamos uma maneira de possibilitar a assinatura do acordo, que não foi nós que propusemos", afirmou o chanceler.
Da Redação,
Com agências