O dia em que os povos derrotaram o fascismo
A humanidade comemora neste domingo, 9 de maio, o dia da vitória. Nesta data, há 65 anos , os representantes do comando do exército nazista alemão, assinavam perante o comando soviético o ato de capitulação incondicional.
Por José Reinaldo Carvalho*
Publicado 08/05/2010 23:02
Nesse mesmo dia, depois de desbaratadas as tropas nazistas nos campos de batalha em toda a Europa, eram liquidadas em Praga, então capital da Tchecoslováquia, os últimos focos daquela que fora a maior máquina de guerra já montada até então. Estes dois acontecimentos assinalam o final da Segunda Guerra Mundial na Europa. É o dia da vitória, vitória dos povos da União Soviética, que arrostaram os maiores sacrifícios impostos pela guerra, vitória dos povos, que derrotavam o regime fascista e reconquistavam a liberdade, vitória das nações, que resgataram sua independência em face do império nazi-fascista. Vitória da humanidade.
Pouco antes, em 30 de abril, depois de uma desesperada resistência alemã nos campos de batalha da Prússia Oriental e da Áustria, as tropas soviéticas entraram em Berlim, atacaram os últimos redutos dos nazistas e içaram sobre o Reichstag a bandeira da vitória, o pano encarnado da aliança operária e camponesa que ali representava a unidade dos povos de todo o mundo. Em 2 de maio capitulava a guarnição de Berlim.
Caía assim o estado fascista alemão, quebrava-se a colossal máquina de guerra que submeteu e atormentou a humanidade.
Guerra imperialista
Naquele 9 de maio, há 65 anos, terminava na Europa a guerra que causou a morte de 50 milhões de pessoas nos campos de batalha e sob bombardeios. Nos campos de concentração nazistas 12 milhões de pessoas foram assassinadas sob cruéis suplícios. Outros milhões de pessoas – quase 100 milhões! – ficaram inválidas ou mutiladas. Os povos da União Soviética pagaram o maior preço – 27 milhões de mortos, entre estes 7,5 milhões de soldados. Quatro meses depois, em dois de setembro, terminava em definitivo o conflito, com a capitulação japonesa.
A Segunda Guerra Mundial iniciada em 1939, com o ataque à Polônia, tinha em sua origens, tal como a Primeira, as contradições interimperialistas. Desencadeada pelas potências mais agressivas à época, sobretuido a Alemanha nazista, foi a culminância do desenvolvimento desigual do mundo capitalista, de suas crises, da luta por mercados e fontes de matérias primas, pela redivisão do mundo e pelo poder mundial.
Nessa disputa o objetivo da Alemanha era estabelecer a hegemonia na Europa e ampliar seu império no Oriente Médio e na África. O Japão pretendia estabelecer sua hegemonia no Oceano Pacífico, transformar em suas colônias a China, a Coreia, a Indonésia, a Indochina, a India e as ilhas do Pacífico. Já os fascistas italianos sonhavam em transformar o Mar Mediterrâneo num “mare nostrum” italiano, submeter os países balcânicos e ocupar a Argélia, a Tunísia, a Córsega e outros países. Esses objetivos hegemonistas entravam em contradição com os interesses da Grã Bretanha, da França e dos Estados Unidos.
A Inglaterra e a França declararam guerra à Alemanha , mas nenhuma ação militar se desenvolveu na frente ocidental até abril de 1940, o que permitiu à Alemanha aumentar o número de territórios ocupados. Em abril de 1940 foi a vez da Dinamarca e da Noruega serem pisoteados pelo tacão nazista e em maio maciços bombardeios foram feitos sobre a Holanda, a Bélgica e a França. Sem resistência e até com dócil cooperação das vítimas, avançavam pela Europa as tropas hitleristas. Pior dos opróbrios para uma nação que se orgulhava de ter sido revolucionária, a França cai sob o ditame hitleriano e assina a ata de capitulação.
Grandes batalhas soviéticas
A guerra muda de caráter a partir da invasão da União Soviética em 22 de junho de 1941. Parecia o auge da campanha militar fascista, mas logo se viu que a agressão à pátria do socialismo foi o começo do fim do exército e do regime de Hitler. A imaginada derrocada do socialismo sugeriu a alguns, primeiramente os fascistas mas também às potências capitalistas ocidentais, a estratégia de sorguer uma “nova ordem”através de acordos secretos e de uma bem urdida divisão do mundo entre os países imperialistas. Mas foi exatamente a partir daí que o curso dos acontecimentos mudou.
A União Soviética, no começo em inferioridade, organiza a resistência. Mais adiante passará à ofensiva. E fará com que a guerra termine no quartel-general de quem a iniciou.
Todo o poder estatal da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, nas circunstâncias de ameaça à sobrevivência da pátria, concentra-se doravante no Comitê Estatal de Defesa. Com a proclamação “A Pátria em Perigo!”, Stálin faz um chamamento a todos os povos da URSS a se levantarem e concentrarem forças na luta para desbaratar os agressores. O front e a retaguarda se transformaram num só e indivisível campo de batalha.
Ainda em 1941, o exército nazista fez profundas incursões no território da URSS. Ocupou a Ucrânia e a Bielorrússia e iniciou celeremente uma marcha rumo a Moscou. O comando nazista imaginou uma rápida tomada da capital e chegou a declarar que em 7 de novembro, quando habitualmente os soviéticos comemoravam o aniversário da Revolução num grande desfile militar e em concentrações populares, o exército alemão realizaria sua parada militar na Praça Vermelha.
Mas o povo moscovita travou encarniçadas batalhas e sustentou heroica resistência, primeiro detendo, em seguida rechaçando para bem longe os agressores nazistas. A derrota germânica às portas de Moscou foi um acontecimento militar de grande importância que viria a exercer enorme influência nos desdobramentos da guerra. Terminava ali o mito de que o exército hitlerista era invencível. A partir de então, os povos soviéticos e todos os povos submetidos pelo fascismo ganharam confiança, inspiração e força moral para enfrentar o pior inimigo da humanidade.
Outra virada radical que determinou o desenvolvimento posterior dos acontecimentos políticos e militares da Segunda Guerra Mundial foi a batalha de Stalingrado. Foram travados sangrentos combates, a partir de determinada altura em cada palmo da cidade, em cada rua, em cada casa, transformadas em trincheiras, combates de cada homem e mulher, velhos e jovens, soldados improvisados, que escreveram uma das epopeias mais heróicas de todos os tempos.
Em Stalingrado começou a queda do exército germânico, do estado fascista. Após Stalingrado inverteu-se o quadro de forças da guerra. Duas outras grandesbatalhas, dentre as centenas de ações de resistência e combate do Exército Vermelho, a de Kursk (julho de 1943) e a de Leningrado (janeiro de 1944) foram também enfrentamentos decisivos para desbaratar a máquina de guerra de Hitler.
Ofensiva libertadora
É necessário assinalar ainda a grande ofensiva do exército soviético em 1944 e 1945, com a libertação da Ucrânia, da Bielorrússia, dos países bálticos e as incursões nos territórios da Romênia, Tchecoslováquia, Hungria, Iugoslávia e, por fim, a já mencionada tomada de Berlim.
A vitória dos povos na Segunda Guerra Mundial é resultado ainda de dois outros fatores – a coalizão anti-fascista e as lutas democráticas e populares, que constituíram fator decisivo para a derrubada do fascismo. Espalharam-se as lutas guerrilheiras e os exércitos guerrilheiros em toda as partes da Europa e Ásia. Em todos os continentes, os povos se organizaram em frentes populares de libertação nacional nas quais participavam amplos setores progressistas. Amadureceu a ideia e consolidou-se a experiência de realizar amplas alianças políticas para bater o inimigo comum, com papel destacado para as forças revolucionárias, particularmente os comunistas.
Em todas as partes foi grande o clamor para que os Estados Unidos e o Reino Unido se aliassem à União Soviética e fosse criada a frente ocidental. O reflexo disso no Brasil foi a pressão política e social para que o governo de Getúlio Vargas abandonasse a política de eqüidistância e aderisse ao esforço de guerra dos Aliados. Os governos das grandes potências ocidentais, nomeadamente os EUA e o Reino Unido e os das nações por estes polarizadas acabaram compreendendo que era indispensável a cooperação com a URSS, para enfrentar a Alemanha, mesmo mantendo suas ambiguidades, seus objetivos imperialistas e os seus interesses meramente pragmáticos de afastar o concorrente interimperialista.
A celebração do Dia da Vitória não é algo que não diga respeito à geração que numa outra situação histórica luta hoje pela paz, a democracia, a independência nacional e o socialismo. São graves as ameaças que pairam sobre a humanidade. Com diferenças na forma e nas proclamações, as forças imperialistas e em primeiro lugar os Estados Unidos da América submetem os povos a novos tipos de tirania, funcionais à manutenção de uma ordem iníqua, baseada no poder do imperialismo e de classes dominantes retrógradas, que impõem restrições de toda ordem à liberdade, atentam contra a soberania nacional, promovem políticas anti-sociais em que a regra básica é a violação dos direitos dos trabalhadores, militarizam o planeta, põem em perigo a paz e a segurança da humanidade e contaminam o ambiente.
É indispensável conhecer o passado, como agiu o inimigo e como lutaram os povos, primeiro para que os crimes de lesa-humanidade não se repitam jamais e também para que as atuais gerações de militantes sejam capazes de recolher as ricas lições que emanam da experiência heróica das gerações anteriores.
* Editor do Portal Vermelho
Veja abaixo um documentário em três vídeos sobre a Batalha do Arco de Kursk, em espanhol.
Segundo vídeo
Terceiro vídeo