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Grécia: greve geral nesta 4ª e muitas dúvidas no mercado

A tragédia grega terá um novo e dramático capítulo nesta quarta-feira (5) com a materialização da greve geral convocada pelos sindicatos. Uma prévia do movimento foi observada nesta terça (4), quando os trabalhadores do setor público resolveram cruzar os braços por 48 horas contra os planos de austeridade do governo do país.

A ocorre depois de Atenas conseguir um pacote de 110 bilhões de euros de líderes europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em contrapartida ao polêmico “socorro”, o governo grego anunciou novas medidas de redução de custos, que incluem congelamento de salários e aposentadorias do setor público e aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), entre outras maldades contra a classe trabalhadora. Pesquisas indicam que mais de 50% da população rejeitam o arrocho e manifestam solidariedade aos protestos.

Desconfiança em alta

Ao mesmo tempo, cresce no mercado a desconfiança com o plano, considerado por alguns analistas como insuficiente para cobrir as necessidades de financiamento do país, envolto numa grave crise da dívida externa. A Grécia pode precisar de mais de 30% cento de ajuda além dos 110 bilhões de euros do plano de resgate acordado entre o país, a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional, segundo o jornal alemão «Bild».

O secretário de Estado das Finanças da Alemanha, Steffen Kampeter, teria informado à comissão parlamentar do Orçamento que as necessidades financeiras da Grécia podem ser, afinal, de 150 bilhões de euros até 2012.

O jornal cita testemunhas presentes na reunião para afirmar a necessidade de agregar 40 bilhões de euro ao pacote, sob pena de o governo grego ter de voltar a recorrer ao FMI.
As notícias sobre a insuficiência das ajudas à Grécia, e o receio de que a crise grega atinja outros países abalou os mercados de capitais e fez disparar os juros da dívida da República Portuguesa, que também está metida numa séria crise da dívida. Os problemas na Europa podem provocar um segundo tempo da crise econômica mundial do capitalismo irradiada pelos EUA.

Bolsas em queda no mundo

As bolsas desabaram em todo o mundo na terça-feira (4). A causa foi a crise da dívida na Grécia e em outros países europeus, com destaque para Espanha e Portugal. No Brasil, o impacto nos mercados de ações e moedas foi forte. O Ibovespa caiu 3,35%, o dólar subiu 1,67% e o risco-país (que mede a diferença entre a taxa de juros que o país paga em relação à remuneração dos títulos públicos dos EUA) saltou 8,42%, para 206 pontos.

Na Europa, os estragos foram maiores na Grécia, onde as ações despencaram mais de 6%, em Portugal e na Espanha. Nesta última, o primeiro-ministro, José Luis Rodríguez Zapatero, teve de responder aos boatos de que sua administração também está a caminho da moratória. A aposta que diverte e apavora os mercados agora é quem será o próximo da lista que vai bater nas portas do FMI depois dos gregos e os dois países ibéricos parecem ser os principais concorrentes.
 
A Grécia é só a ponta de um iceberg que, muito provavelmente, é muito mais profundo. Gregos, portugueses e espanhóis constituem elos frágeis de uma corrente que envolve um universo bem mais amplo do mundo capitalista e está associada às formas de reprodução do capital que caracterizam a atual ordem econômica internacional ou, em outras palavras, a ordem imperialista. Inglaterra, Estados Unidos e Japão também estão às voltas com déficits e dívidas gigantescas. A crise da dívida na Europa pode desencadear o segundo tempo da crise do capitalismo mundial iniciada nos EUA em dezembro de 2007 e que foi a mais severa desde a Grande Depressão de 1929.

A crise econômica está na raiz dos conflitos políticos entre as classes sociais que está em curso na Grécia e outros países europeus.

Da redação, Umberto Martins, com agências