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Política recessiva do BC impede que o país cresça mais rápido

Em seu blog, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, voltou a comentar a elevação da taxa de juros pelo Banco Central na última quarta-feira, em 0,75%, passando a 9,5% ao ano. A atitude não apenas foi na contramão do que tem se assistido em outros países como é contrária às ações que visam fortalecer e desenvolver o Brasil. Acompanhe o artigo do dirigente comunista.

O Banco Central do Brasil através de seu Comitê de Política Monetária, Copom, iniciou um novo ciclo da alta da taxa de juros básica da economia brasileira. Ela estava em 8,75% ao ano e passou para 9,5% ao ano, na última quarta-feira, dia 28 de abril.

O argumento do Copom é de que há pressões inflacionárias na economia, provocadas por uma expansão da demanda mais rápida que a expansão da oferta, que levaria a um distanciamento do centro da meta de inflação estabelecida. Um quadro, ainda segundo o Copom, que precisa ser ajustado, restringindo a demanda, desaquecendo a economia do país.

Em minha opinião, houve uma precipitação dos técnicos do Banco Central. No ano passado, diante da crise econômica e financeira mundial, a economia brasileira retraiu-se 0,2%. Para fazer frente ao quadro recessivo o governo foi obrigado a tomar uma série de medidas contracíclicas, facilitando o crédito e estimulando o investimento, durante 2008 e 2009. Mal estas medidas começaram a dar resultado, com possibilidades de um crescimento mais robusto, vem o Banco Central, como é de costume, acenando com o perigo da inflação e elevando a taxa Selic. A ação do Banco Central é um contraponto às essas medidas que visam o crescimento.

Guardo na memória o triste fato de que, apenas cinco dias antes da falência do banco de investimentos Lehman Brothers nos EUA, quando todo o mundo pressentia a gravidade de crise e todos, praticamente todos, os países do mundo cortavam suas taxas de juros, para estimular a economia, o Banco Central do Brasil subiu a Selic para 13,75% ao ano. E mais, só resolveu baixá-la gradualmente, quatro meses após a quebra do banco americano.

Parece que há muitos interesses escusos por trás da gigantesca campanha de amendrontamento da elevação dos preços que a grande mídia faz. Para muitas pessoas, organizações políticas e forças sociais, não está já configurada uma tendência à escassez. Muitas autoridades da área econômica manifestaram confiança de que o investimento previsto iria satisfazer as necessidades de consumo. Quer de consumo de bens não duráveis como o consumo de máquinas, equipamentos, energia etc.

Essa política monetária recessiva que o Banco Central tem executado, sem escutar ninguém que não seja o sistema bancário privado brasileiro, tem impedido que o país cresça mais rápido. Comparado com os outros países do grupo dos BRIC o Brasil é o que tem a menor taxa de crescimento. Entre 2003 e 2010, considerando os dados e projeções oficiais do FMI, a taxa média de crescimento anual do PIB brasileiro é de 3,8%, enquanto que na Rússia é de 4,8%, na Índia de 8,1% e na China 10,4%. Em síntese, no Brasil mesclam-se períodos em que o crescimento se acelera com outros em que o crescimento é baixo e até negativo. Resulta uma média relativamente baixa.

Com a economia crescendo menos os investimentos escasseiam, menos empregos são gerados, menos se arrecada, menos se distribui. Porém, mais se paga porque boa parte dos títulos da dívida pública é corrigida pela taxa Selic. E se paga a quem? Aos credores do governo que são os banqueiros. Os juros reais (descontada a inflação da taxa Selic) altos comparados com os de outros países, principalmente os países ricos, faz com que o Brasil atraia montanhas de dinheiro. Então os bancos e investidores estrangeiros pegam dólares no exterior, a juros baixíssimos, e após transformá-lo em moeda brasileira compram títulos da dívida pública.

Mas não é só aí que os bancos e especuladores ganham. A grande quantidade de dólares faz com que o Real se valorize. Então é hora de transformar os Reais novamente em dólares, muito mais dólares, que são remetidos ao exterior. E mais, com o Real sobrevalorizado as exportações brasileiras ficam mais caras e as importações mais baratas. Remessas elevadas e saldo comercial menor resultam no crescimento acelerado do déficit em transações correntes do Brasil, voltando a vulnerabilidade do país.

Claro, com uma ciranda dessas, não há nenhum interesse dos bancos em dar crédito para investimentos produtivos, sobretudo aqueles de longo prazo. Eles ainda cobram um sobretaxa (spread), para emprestar dinheiro no Brasil, a pessoas físicas ou jurídicas. Também os spreads brasileiros são os maiores do mundo. Em uma situação como esta caberia ao sistema financeiro público ter maior protagonismo, concorrendo mais com a parte privada do sistema.

Começar um novo ciclo altista da taxa de juros em ano eleitoral pode também trazer dificuldades para a candidata que pretende dar continuidade ao governo do presidente Lula. Mas também é uma boa oportunidade para se discutir a política monetária e cambial que mais serve a um crescimento robusto, permanente e sustentável.

Fonte: Blog do Renato

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