Condutores de SP discutem mídia e campanhas salarial e eleitoral
O Sindicato dos Condutores de São Paulo promoveu nesta segunda-feira, 26/4, uma palestra sobre o papel da mídia nas campanhas salarial e eleitoral. Para tratar do assunto, convidou-se o jornalista e membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil, Altamiro Borges, autor dos livros “Sindicalismo, resistência e alternativas” e “A ditadura da mídia”, ambos da Editora Anita Garibaldi. O ciclo de palestras faz parte das atividades da Campanha Salarial 2010, que tem data-base em 1º de maio.
Publicado 28/04/2010 13:04
De acordo Miro, o movimento sindical originalmente atua em duas frentes distintas. A batalha corporativa visa a busca de melhores salários e condições de trabalho e a luta política pretende interferir na legislação, a exemplo da campanha pela redução da jornada, sem redução de salário e contra o fator previdenciário que estão em debate no Congresso Nacional.
A luta ideológica, travada pelas entidades sindicais e sociais mais progressistas, ajuda a elevar a consciência dos trabalhadores que cotidianamente são explorados pelos patrões. “Se a classe trabalhadora não ganha na luta das idéias, provavelmente será derrotada nas guerras corporativa e política”, afirmou o jornalista, referindo-se ao papel da mídia na formação de opiniões.
Em geral, a luta dos trabalhadores é uma “não notícia”. Ou seja, não aparece nos meios de comunicação. Quando aparece, segundo Miro, ela é “criminalizada”, isto é torna-se um crime. É comum os veículos de comunicação “criminalizar” as manifestações legítimas e populares. “Os jornais não falam sobre questões como insalubridade, periculosidade, trabalho penoso ou sobre as reivindicações das categorias em luta”, explica. Na opinião de Borges, a mídia faz isso porque tem interesse de classe, ou seja, é representante das elites. No Brasil, todo o setor é dominado por apenas nove famílias: Marinho, Abravanel, Record (Igreja Universal), Saad, Frias, Mesquita e Civita.
O grande poder ideológico desses veículos mexe em nossas mentes. Altera o nosso modo de pensar e de agir, graças à qualidade das propagandas e de toda a programação que melhorou muito devido os avanços tecnológicos. A manipulação ocorre especialmente na edição das matérias, destacando-se cenas de interesse das emissoras (leia-se elite) em detrimento dos fatos de interesse do grande público. Miro lembrou que recentemente a justiça mandou tirar do ar a vinheta do aniversário dos 45 anos da TV Globo que fazia clara alusão à pré-candidatura do candidato do PSDB à sucessão presidencial. “Em países mais sérios nessa área, como é o caso da Venezuela que segue à risca a legislação, esse seria um motivo para caçar a concessão da emissora”.
Mas segundo o jornalista, além de formar opiniões, a mídia tem o poder de deformar comportamentos, seja induzindo ao consumo doentio, seja reforçando o individualismo que acaba prejudicando as ações coletivas.
O que fazer para interferir no processo midiático?
Para combater o poder maléfico da mídia, o jornalista aponta três saídas. A primeira é estimular o senso crítico da população, particularmente dos trabalhadores. “Não se pode acreditar em tudo o que é dito ou falado pela mídia burguesa. Aliás, é pertinente acreditarmos no inverso da notícia”, explica.
Outra saída é construir instrumentos alternativos de comunicação que vai desde o carro de som até o jornal, o site, as rádios e TVs comunitárias. Ele sugeriu que o sindicato produzisse programas para os canais comunitários da TV por assinatura. “Os trabalhadores devem dar a sua opinião sobre os fatos”.
Por último, falou sobre o movimento de luta pela elaboração e implementação de políticas públicas destinadas à democratização da mídia brasileira. A 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), ocorrida em dezembro de 2009, apesar do boicote da maioria dos empresários, resultou em importantes resoluções, como a criação do Conselho Nacional de Comunicação e o “direito de antena” que dá voz ao movimento sindical, por meio de programas na TV aberta, o que já ocorre com os partidos políticos que, duas vezes por ano, ocupa das redes para divulgar as suas plataformas.
Para que as conquistas obtidas na Confecom não se percam, o jornalista sugeriu duas ações: denúncia à manipulação das informações e o fortalecimento da luta pela democratização dos meios de comunicação e da mídia alternativa. Para tanto, o jornalista divulgou o Seminário: Mídia e Eleições que será realizado no próximo dia 14/5, às 18h30, no Sindicato dos Engenheiros que fica na rua Genebra, ao lado da Câmara Municipal de São Paulo.
Nesse dia, será lançado também o Centro de Estudos da Mídia Alternativa “Barão de Itararé”, que em parceria com muitas outras entidades, contribuirá com as lutas destinadas a dar voz e vez à classe trabalhadora e o povo em geral.
Inscrições e informações adicionais pelo telefone (11) 3054-1829 ou pelo endereço eletrônico:britarare@gmail.com.
De São Paulo,
Alice Cardoso