Cultura indígena em debate na Semana do Índio 2010, em Aquiraz
A Semana do Índio 2010, promovida pelo Museu Sacro São José de Ribamar traz seminário com o tema "De Cabeludos da Encantada a Índio Jenipapo-Kanindé: Cultura, Memória e Organização Étnica no Ceará Contemporâneo"
Publicado 19/04/2010 09:25 | Editado 04/03/2020 16:33
Os índios da etnia Jenipapo-Kanindé participam junto à comunidade de Aquiraz da programação da Semana do Índio 2010, que acontece de segunda (19) à quinta-feira (22), no Museu Sacro São José de Ribamar (em Aquiraz), equipamento cultural ligado à Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.
O Seminário "De Cabeludos da Encantada a Índio Jenipapo-Kanindé: Cultura, Memória e Organização Étnica no Ceará Contemporâneo" reúne mesas-redondas, exposição e apresentações culturais, revelando um pouco da memória indígena no Ceará, no passado e no presente, a partir da trajetória dos Cabeludos da Encantada, hoje Jenipapo-Kanindé, enfatizando a diversidade cultural e o processo de organização e luta política deste grupo étnico no Ceará contemporâneo.
A abertura acontece às 10 horas da segunda-feira, com participação de autoridades, comunidade indígena e abertura de uma exposição, de mesmo nome do seminário, e apresentação da Banda de Música Virgilio Coelho. A tarde, a programação segue a partir das 15 horas, com apresentação de dança indígena – Toré dos Jenipapo-Kanindé , no largo do MSSJR.
As mesas redondas do Seminário acontece na terça-feira pela manhã (à partir de 9h) e pela tarde (à partir de 14h). Na quarta e terça-feira serão realizadas as oficinas de Artesanato, Cipó, Bio-jóias, com os artesãos da comunidade indígena, e a oficina “A temática indígena em sala de aula”, com professores e outros interessados. Confira a programação.
Saiba mais
Os índios Jenipapo-Kanindé habitam as margens da Lagoa da Encantada, no município de Aquiraz, bem próximos da capital do Ceará, Fortaleza. Até o início dos anos 1980, eram conhecidos pelas comunidades vizinhas como os “Cabeludos da Encantada”, numa referência ao seu jeito diferente de ser. Assessorados pela Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Fortaleza, por entidades indigenistas e por grupos vinculados à Universidade, assumiram o etnônimo Jenipapo-Kanindé ao mesmo tempo em que iniciaram sua mobilização política através da participação nas articulações do movimento indígena cearense que, àquela época, já contava com a organização das etnias Tapeba (Caucaia), Tremembé (Almofala) e Pitaguary (Maracanaú e Pacatuba). Desde então, passaram a lutar pelo reconhecimento oficial da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que ocorreu entre de 1997 e 2002, quando um Grupo Técnico designado pelo órgão realizou os estudos visando o reconhecimento étnico, a identificação e delimitação da Terra Indígena Jenipapo-Kanindé.
Há nas lembranças dos mais velhos, referências à ascendência Payaku, grupo étnico que protagonizou, junto a tantos outros, uma intensa luta de resistência contra o avanço dos invasores nos séculos XVII e XVIII na capitania do Siará-Grande. Ao assumirem-se como Jenipapo-Kanindé, atualizaram a sua consciência étnica num contexto propício de mobilização política em busca por direitos constitucionais, garantidos a partir da Constituição de 1988.
A Lagoa da Encantada e a mata circundante, fontes de sobrevivência física e cultural, são os espaços sagrados onde moram seus mitos e encantos ancestrais. Esta íntima relação entre natureza e cultura é fundamental para sua identificação e reconhecimento étnicos, bem como para o fortalecimento do sentimento de pertença ao grupo indígena.
Fonte: Assessoria de imprensa da Secult