George Câmara: O Mapa Social x O Mapa da Violência na "RMN"
Na análise de qualquer fenômeno, seja ele no campo das ciências naturais ou sociais, o artifício da simplificação acaba se transformando numa perigosa arapuca a nos conduzir a imprecisões e, muitas vezes, a erros primários. Portanto, nessa matéria todo o cuidado é pouco.
Publicado 31/03/2010 16:43 | Editado 04/03/2020 17:08
Quero abordar o tema da violência na Região Metropolitana de Natal a partir de dados objetivos e dos números fornecidos pelos órgãos oficiais responsáveis pelo assunto, evitando assim os riscos da superficialidade. Ou da parcialidade.
Os dados relacionados à violência nessa região nos últimos seis anos, no tocante a uma das principais modalidades, que é o homicídio, são assustadores e demandam toda a atenção da sociedade e do poder público. Os números informados pelo Instituto Técnico-Científico de Polícia Civil (ITEP/RN) falam por si só.
De janeiro de 2004 a outubro de 2009, a Região Metropolitana de Natal (excetuando apenas Vera Cruz, que foi o décimo município incluído na RMN, em julho de 2009), registrou 2.534 homicídios, conforme matéria do portal eletrônico NoMinuto.com de 5 de dezembro de 2009.
Segundo a citada reportagem, faltando ainda dois meses para terminar o ano de 2009 os registros em Natal, São Gonçalo do Amarante, Ceará Mirim, Extremoz e Monte Alegre já ultrapassavam a quantidade de casos de homicídios registrados durante todo o ano de 2008, nesses mesmos municípios.
De janeiro a outubro de 2009 foram registrados 534 crimes contra a vida em nove dos dez municípios da região (Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Ceará Mirim, Macaíba, São José de Mipibu, Extremoz, Nísia Floresta e Monte Alegre).
Em recente reportagem do Diário de Natal, na data de 31/03/2010, embora seja considerado um dos estados menos violentos do país, o Rio Grande do Norte apresentou um crescimento de 150 % no número de homicídios, no período de 1997 a 2007, segundo uma pesquisa do Instituto Sangari, de São Paulo, que deu origem ao “Mapa da Violência” de 2010.
Nessa mesma reportagem, o Coordenador Estadual de Defesa dos Direitos Humanos e das Minorias da Secretaria de Justiça e da Cidadania (CODEM – SEJUC / RN), Marcos Dionísio Medeiros Caldas, alerta que “a evolução do estado no número de homicídios é perigosa e se consolida, sobretudo, nas periferias da capital e nos municípios da Grande Natal”.
Além da vinculação ao uso e ao tráfico das drogas, “lícitas” e ilícitas, o Coordenador Marcos Dionísio chama a atenção ainda para alguns aspectos sociológicos que envolvem o fenômeno da violência, sobretudo no meio da juventude, quando afirma que “não é a pobreza que causa a violência, mas os chamados espaços segregados, áreas urbanas em que a infra-estrutura de equipamentos e serviços é precária e insuficiente e há baixa oferta de postos de trabalho”.
Quando confrontamos o mapa social com o mapa da violência, vamos constatando a assustadora realidade. Onde é o lócus da exclusão? A periferia. Qual a sua faixa etária? Jovens, em sua grande maioria sem acesso às oportunidades. Qual a sua perspectiva? Dessa resposta, dependem muitas outras perguntas. E muitas outras respostas.
Diante da realidade das cidades e metrópoles brasileiras, no quesito violência, é preciso lembrar as palavras de Josué de Castro, nos seus dois célebres livros “Geografia da Fome” e “Geopolítica da Fome”, escritos respectivamente em 1951 e em 1953: “daqui a 50 anos, a prevalecer a tendência que se desenha, o mundo vai se dividir em dois grupos. Dois terços vão perder o sono porque estão famintos, enquanto o terço restante vai perder o sono com medo dos famintos”.
por George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB (31/03/10) www.georgecamara.com.br