Participantes se despedem da Teia ao som de Chico César
O Aterrinho da Praia de Iracema ficou colorido. Multicolorido. O Cortejo da Cidadania “Ebulição dos Libertos” que marcou o encerramento da Mostra Artística e das Teias das Ações, ativdades da programação da Teia 2010: Tambores Digitais, trouxe às ruas de Fortaleza a diversidade brasileira manifesta nas fantasias, nos cânticos, nos batuques, nos rostos das pessoas.
Publicado 30/03/2010 09:31 | Editado 04/03/2020 16:33

Foi um encontro de gerações, de etnias, de sotaques, de olhares. “Dá pra ver que são diferentes, mas existe um elo que os conectam e eu acho que esse elo é o amor pela sua cultura”, declarou a cearense Virgínia Rodrigues, que assistia à passagem do cortejo pelas ruas.
O palco já estava armado para receber as últimas atrações do evento, que continua até quarta-feira (31), com a realização do III Fórum Nacional dos Pontos de Cultura (FNPC), agregando delegados representantes de cerca de 1,7 mil Pontos de Cultura do Brasil.
Os shows tiveram início com a apresentação de Pingo de Fortaleza e Calé Alencar, dois grandes representantes da cultura de Fortaleza e defensores do maracatu cearense. Parceiros de longa data eles mostraram entrosamento no palco. Depois foi a vez do Coletivo Rádio Cipó (PA) e sua música eletrônica. Com a música “Emoriô” o grupo Kilombando (MG) iniciou sua apresentação que trouxe ainda músicas como “Mundo Negro”, louvando a afirmação da identidade afro-brasileira.
E por falar em afirmação, foi com esse espírito que Chico César subiu ao palco às 23h30. Trazendo as músicas tradicionais da região nordeste como xotes, forrós, frevos e afoxés ele levantou o público que lotava a Beira-Mar.
Cantando seus principais hits como “Mama África” e “Respeitem meus cabelos, brancos” sempre entremeados de outra músicas em arranjos que já fazem parte de sua forma de cantar, ele reforçou a idéia da identidade negra. E os rastafaris e black powers responderam balançando os cabelos e cantando bem alto.
O momento romântico veio com a música “É só pensar em você” e em toda praia se viam beijos apaixonados e casais dançando abraçadinhos. Mas logo a dança voltou a ser “anarriê/alavantu” e o forró dominou a cena até o fim da apresentação. Ao cantar uma música de parceria com Dominguinhos, “Deus me proteja” ele disse:
“Por falar em Mestre (Dominguinhos), gostaria de saudar os mestres griôs aqui presentes e pedir a todos que assinem e lutem pela aprovação da Lei Griô no Congresso para garantir que os saberes, que a oralidade, que as tradições não morram.”
Chico César, que é o atual presidente da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), na Paraíba, sua terra natal, concilia a agenda artística com suas atividades à frente da gestão pública e revela que esteve na II Conferência Nacional de Cultura, acontecida este mês em Brasília, para lutar pelas demandas percebidas junto ao povo, aos trabalhadores da cultura. Entre elas está também a criação da Lei Cultura Viva.
Chico César encerrou sua participação apresentando sua banda – um show à parte – com a música “Pedra de Responsa”, que louva São Luís do Maranhão.
Depois foi a vez da música alegórica do grupo Dona Zefinha. Com uma performance marcante os músicos se desdobravam no palco numa apresentação que era música, mas era mais: era também teatro, dança, comédia, poesia, improviso, talvez pela influência do Orlângelo Leal, vocalista, que é ator e diretor teatral. “É uma alegria muito grande tocar na minha terra, num evento como a Teia e no mesmo palco que Chico César, que a gente admira demais.” – disse ele, que já esteve em outros palcos importantes em todo o Brasil e fora dele. O grupo, em que todos são arte-educadores e atores, trabalha o segundo CD, intitulado “Zefinha vai à Feira”. (Conheça mais sobre o grupo aqui.)
No final da festa o reggae baiano da banda Trilheirus. Os meninos de Andaraí, na Chapada Diamantina colocaram o público pra dançar até o dia amanhecer.
Representantes das Ações do Programa Cultura Viva e da Mostra Artística embarcam hoje de volta para seus estados. Os delegados permanecem até dia 31.
Texto e fotos por Carine Araújo (comunicação colaborativa)