Mestres da tradição oral buscam apoio para projeto de lei
Integrar o saber popular de tradição oral à educação formal. Esta é a base da Ação Griô, um projeto compartilhado entre o Ministério da Cultura e a sociedade civil. A ideia de preservar e valorizar os conhecimentos ancestrais das comunidades deu tão certo, que mobilizou uma verdadeira rede para defender a sua consolidação como política de Estado. E é na Teia 2010, em Fortaleza, que esse movimento busca mais apoiadores para um projeto de lei de iniciativa popular.
Publicado 29/03/2010 02:11
Mestra Doci, de João Pessoa, na Paraíba, é uma contadora de histórias. Ela passa adiante o conhecimento popular que foi difundido de geração a geração na sua comunidade. Ciente de sua responsabilidade, Doci integra o Pontão de Cultura Ventre do Sol, que atende cerca de 200 crianças em aulas de teatro, dança e música e leva os saberes dos mestres de cultura popular às escolas.
Desta forma, os ensinamentos de poetas, repentistas, mateiros, erveiros, curandeiros, e contadores de histórias – considerados patrimônio imaterial -, penetram no ambiente do ensino formal e transformam a concepção de educação, fortalecendo a identidade e a ancestralidade do povo brasileiro.
O nome Griô vem de um termo francês usado para identificar africanos que se preocupavam com a preservação da tradição oral. No Brasil, a parceria entre poder público e comunidade fez com que, através de 130 Pontos de Cultura, 700 mestres griôs pudessem fazer circular o seus saberes populares nas escolas, criando uma verdadeira rede da tradição oral.
De acordo com Isaac Loureiro, coordenador da Ação Griô na Amazônia, essa rede percebeu que, para garantir o aprofundamento do trabalho, ele precisaria se transformar em uma política pública de Estado e não de governo. Daí surgiu a ideia de coletar assinaturas para apresentação do projeto de lei de iniciativa popular – apontada como uma das 35 prioridades da II Conferência Nacional de Cultura, que aconteceu esse mês em Brasília.
“Esse projeto tem que ser fruto da mobilização do povo brasileiro, porque assim ele ganha força para ser executado. Não deve ser fruto apenas de acordos políticos porque o jogo de forças da política está sempre se alterando”, avaliou Loureiro.
E é com esse espírito que esse movimento está participando da Teia 2010: para fazer o debate político com os pontos de cultura sobre a importância da Ação Griô e buscar os apoios necessários à apresentação do projeto, ou seja, 1,2 mil assinaturas.
Mestra Daci já tem na ponta da língua a defesa do projeto: “Só a educação formal engessa a pessoa, que tem que se identificar com os saberes e fazeres da sua comunidade, estar integrado com suas raízes. É preciso que se tenha uma educação casada. Por meio da tradição oral – as brincadeiras, as histórias – podemeos trabalhar o caráter a formação cidadã de uma pessoa”.
Questionada sobre a importância da Teia, ela respondeu que se trata de um “momento histórico”. “Aqui temos gente falando línguas e linguagens diferentes. É uma articulação que soma para entender a identidade brasileira”.
De Fortaleza,
Joana Rozowykwiat