George Câmara: Turma de Guamaré – 25 anos de Petrobrás e de Luta
Recentemente li o artigo no correio eletrônico de Rogério Rodrigues dos Santos, colega Operador da Petrobrás lotado na Unidade de Processamento de Gás Natural de Guamaré, no litoral norte do Estado (UPGN-GMR/RN).
Publicado 25/03/2010 13:02 | Editado 04/03/2020 17:08
Mesmo estando afastado das atividades profissionais dessa empresa em razão da licença para cumprimento de mandato eletivo na Câmara Municipal de Natal, nosso olhar não poderia ser outro, senão o de pertencimento. Por dois motivos: pela continuidade dos contatos diretos com a categoria petroleira na sua luta cotidiana em defesa da dignidade, aí incluídos os colegas de Guamaré; e pelos vínculos de afetividade dessas pessoas que juntas vivenciaram o chorar e o sorrir. As mesmas expectativas, angústias e vitórias. Permeados por conquistas inesquecíveis e perdas que nunca cicatrizam.
Parafraseando Rogério quero repetir: “Amigos, parece que foi ontem…” Éramos quatro turmas, encabeçadas pela simbologia de nossos chefes: a turma de Franklin, com Arnóbio, Luisinho, Renato, Valdeci e Walter; a de Miguel, formada por Arimatéa, Erivanildo, Hélio, Valcimar e Wilaci; a turma de José Marto, com Amauri, Creso, Flávio, Gleidson e José Carlos; e a de Sérgio, com Canindé, Fred, George, Rogério e Valdizar. Em dezembro de 1985, produzimos as primeiras gotas de Gás Liquefeito do Petróleo – GLP – no Rio Grande do Norte.
Com o advento da Assembléia Nacional Constituinte, a conquista do “Turno de 6 Horas”. Aí, o “Rei Midas” típico do capital manipulando o trabalho transformou as quatro em cinco turmas, sem contratar sequer “um pé de gente”. Foi o marco inicial da nossa dispersão do ponto de vista físico, sem perder, contudo, a afetividade que teve origem nessa relação. Laços que perduram até hoje, mesmo diante da distância imposta pela vida. Ou mesmo pela morte.
Em Aracaju, onde enfrentávamos todo o tipo de desafios, entre os 18 e os 25 anos, tínhamos o privilégio de sair da sala de aula nos corredores da Petrobrás, durante o dia, para participar à noite das atividades de rua da memorável campanha das “Diretas Já”, em 1984.
A Petrobrás, sob orientação do autoritarismo, não superara a cultura da autocracia. Eclodiam as contradições do novo diante do velho modelo. Nesse cenário, jovens operários que despertavam para o mundo numa sociedade permeada por contradições. Nossas primeiras greves, confrontos de ideias e de posições. Como dizia o poeta e cantor Taiguara, num show em Aracaju em 1985, no retorno do exílio: “vamos enfrentar grandes ambições e pequenas traições”.
Como hoje, aqueles jovens se deparavam com a manipulação grosseira patrocinada pelos chefes, com o objetivo de nos dividir, vendendo a ilusão de que a “Operação” é superior à “Manutenção” e ao “Apoio”. Pura mistificação. Ideias absolutamente alheias aos interesses dos trabalhadores. Ao longo de séculos e de milênios, nossa arma continua sendo a mesma: a união, a serviço da luta pela dignidade e pela emancipação social.
No seu breve artigo o colega nos convida para um encontro da Turma de Operadores de Processamento, no próximo mês de maio. Quero confirmar desde agora minha presença e a esperança de reencontrar esses colegas. No cardápio, além das recordações, poderemos reafirmar e atualizar os nossos sonhos. Agora, diante de uma nova quadra histórica, nossos planos vão além da resistência ao desmonte neoliberal. Em 2010 é possível avançar, para que outros jovens possam sonhar ainda mais alto.