Netanyahu desafia palestinos: "Jerusalém é nossa capital"
O primeiro ministro israelense, Benyamin Netanyahu, afirmou nesta segunda-feira (22), em Nova York, que a cidade de Jerusalém "não é um assentamento, é nossa capital", completando que seu país pretende construir mais 50 mil casas na cidade ocupada.
Publicado 23/03/2010 17:50
Às vésperas da reunião com o presidente dos EUA, Barack Obama, Netanyahu pronunciou o desafiante discurso na reunião anual do Aipac, o lobby judeu sionista nos Estados Unidos. Ali, afirmou que "o povo judeu construía Jerusalém há 3 mil anos e o povo judeu constrói Jerusalém hoje. Jerusalém não é um assentamento, é nossa capital", desafiou.
A expansão dos assentamentos ilegais israelenses foi motivo de irritação na administração americana, a partir do momento que Israel anunciou a construção de 1,6 mil casas em um assentamento ilegal na cidade, o que destruiu possibilidades de diálogo com os palestinos.
Horas antes da chegada de Netanyahu a Washington, o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, foi autorizado a dizer que serão construídas 50 mil casas na região tomada dos palestinos em 1967.
Recado dado
"Cerca de 30% dessas casas serão construídas em bairros onde moram árabes, embora eu não apóie essa divisão, que pretende traçar uma linha entre as áreas ocidental e oriental da cidade. Jerusalém é uma cidade unida, uma capital sob soberania israelense", insistiu Barkat em uma entrevista à rede britânica de televisão Sky News.
"Podemos até negociar acordos com os palestinos e ser flexíveis em outras questões, mas não com relação a Jerusalém… o conceito de congelamento (da construção de assentamentos judeus em Jerusalém Oriental) é algo que não aceito e que jamais aceitarei", aferrou-se o prefeito.
Congresso ao lado de Israel
A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, assegurou nesta terça-feira (23) ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que o Congresso está "ao lado de Israel", durante a visita do premiê à casa legislativa americana.
"Nós, do Congresso, estamos ao lado de Israel. Esse é um ponto que está acima das divisões partidárias", afirmou Pelosi, na presença do chefe da minoria republicana, John Boehner, ao receber Netanyahu no Capitólio.
"A longa amizade entre os Estados Unidos e Israel se baseia em valores comuns: democracia, pluralismo e liberdade. E em desejos comuns de paz e segurança para nossas crianças", abstraiu Pelosi.
A recepção dada a Netanyahu no Congresso mostra mais uma vez que a "crise" entre as duas administrações, nos últimos quinze dias, não passou de teatro e hipocrisia. Desejasse, de fato, resolver o conflito entre israelenses e palestinos, a administração americana retiraria seu apoio a Israel e exigiria — como faz com aqueles que não são seus aliados — o cumprimento da legalidade internacional.
"Esforço" de paz afunda
Nabil Abu Rdainah, assessor do presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse nesta terça-feira que os esforços dos Estados Unidos para promover conversações de paz indiretas com Israel devem fracassar, a menos que Washington garanta a paralisação completa das obras israelenses nos assentamentos.
Rdainah disse que a reunião entre Obama e Netanyahu precisa produzir como resultado o "compromisso israelense e garantias americanas para congelar os assentamentos. De outra forma, os esforços americanos permanecem sob risco".
Segundo ele, as últimas declarações de Netanyahu não ajudariam os esforços norte-americanos. Sob pressão dos EUA e dos aliados árabes, os palestinos concordaram em conversar indiretamente com Israel, rompidas pelos judeus desde o final de 2008.
No entanto, a pressão não surtiu efeito no lado de lá. Ou, se surtiu, foi contrário. Durante visita do vice-presidente americano Joe Biden a Israel, há duas semanas, o governo local anunciou planos para construção das novas casas em terras árabes.
A decisão irritou a administração americana, fazendo com que a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, chegasse a dizer que a declaração era um "insulto". O teatro foi interpretado por alguns como uma "crise" entre os dois estados, mas revela-se apenas como uma mudança tática em relação à questão da paz no Oriente Médio, não compartilhada pela administração israelense.
"O que Netanyahu disse não ajuda os esforços americanos e não servirá aos esforços do governo americano para promover as negociações indiretas entre as partes", considerou Abu Rdainah.
"Jerusalém Oriental é a capital do Estado da Palestina e é a única forma de assinar qualquer acordo de paz em qualquer tempo. As declarações de Netanyahu são uma evidência clara de que ele não quer a volta de nenhuma negociação séria", finalizou
Da redação, com agências