Publicado 17/03/2010 11:24 | Editado 04/03/2020 16:33
Entrar na Fábrica Dakota no Centenário do Dia Internacional da Mulher foi uma experiência que talvez as palavras não consigam descrever tanta emoção. Saindo da Praça no Centro de Maranguape, recebi a informação de que a fábrica tem em torno de cinco mil trabalhadores e desses mais ou menos três mil são mulheres. Essa informação já me trouxe preocupação, uma pressão relacionada à responsabilidade, na dúvida por não saber quem estaria lá e com quem dividiria a fala.
Nunca tinha entrado em um território patrão-operário, porque existe uma diferença enorme entre panfletar na porta e entrar na estrutura, ver de perto quem produz a riqueza do país, quem faz a roda da fortuna girar e não tem seu trabalho respeitado de verdade.
Ah! Lembrei que quando eu entrei na Dakota veio à minha cabeça a música do Renato Russo, “Fábrica”, e quanto mais se aproximava, mais eu lembrava e ia ficando mais intrigada com os uniformes azuis passando por mim. Eu olhava encantada para cada um que passava, uns indo pra casa na hora do almoço, outros para o refeitório. Apesar desse tempo, as máquinas não param, elas continuam com outros personagens que ficam produzindo, então vem mais uma memória pra resgatar, os operários do filme “Eles não usam Black Tie”.
E ainda na espera do momento com as operárias e os operários, não tive outra ideia a não ser imaginar e pensar o que seria a revolução protagonizada por essas pessoas, com a consciência adquirida sobre a exploração da sua força de trabalho. Logo vem a preocupação de como fazer a abordagem dinâmica, que se aproxime de algo ousado. Fiquei “matutando” e quando nos dirigimos ao local do evento, me deparei com aquela fila imensa e o refeitório lotado.
E, dialogando com os meus botões de carne e osso, pensei o que nos levou, nós mulheres, na Conferência de Copenhague em 1910 eleger o 08 de março como Dia Internacional da Mulher. Então foi por onde comecei. Foram elas, que em 1857 lutaram por melhores condições de salários, por uma carga-horária menor, por condições humanas de trabalho e foram massacradas. Mas elas estavam ali, na minha frente, com outros rostos, outras vidas e na mesma luta; confesso que “engasguei”, quis até chorar, mas me veio novamente à cabeça que muitos não entenderiam, e lembrei também das palavras de um camarada que sempre me disse: “Um comunista sempre aceita desafios”. Naquele momento o que me desafiava era a emoção.
O momento era de pautar questões essenciais, de falar para operárias e operários. Foi uma fala de uns dez minutos, mas que eu tenho certeza que fez muita diferença. As bandeiras vieram a minha cabeça de uma forma bem natural, assim como a luta pela redução da jornada, a licença maternidade, a igualdade salarial de homens e mulheres e o enfrentamento à violência contra a mulher.
Em uma das fotos que coloquei no Picasa Web alguém me questionou: “Mas você está falando e as pessoas estão almoçando”. Eu respondi: “Era o horário de almoço de quem passa o dia inteiro produzindo, mas eu sei que vez por outra olhavam, e isso pra mim fez diferença”. Não é comum para a rotina de uma Fábrica e isso eu sei que chamou atenção. Finalizando o nosso momento com as palmas, me despedi da Fábrica com uma sensação muito boa, mas também com o incômodo de que ainda nos dedicamos pouco para conscientizar as pessoas. Confesso que sou do mundo virtual, mas tenho a convicção de que ele não garante a revolução, de que a internet abriga várias vozes, mas não podemos alimentar a ilusão de que o caminho da transformação social se dará através do ciberespaço. O que edificará o nossa rumo à outra sociedade é a permanência e a frequência que devemos ter próximos a quem produz a riqueza do país e que merece nossa especial atenção, porque são esses trabalhadores e trabalhadoras que, adquirindo a consciência de classe, são capazes de parar as máquinas, são capazes de cessar a riqueza da burguesia que oprime o nosso povo e por fim serão eles, conscientizados da sua condição de explorados, que serão os principais atores de uma revolução que conduziremos em busca do socialismo.
Ivina Carla é estudante de Jornalismo da Faculdades Cearenses e integra a Comissão Estadual de Comunicação do PCdoB/CE
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