Comunicadores pró-reforma agrária lançam rede e focam internet
Criar mecanismos para furar o bloqueio que a grande mídia impõe aos assuntos que envolvem as lutas dos movimentos sociais é o objetivo da criação da Rede de Comunicadores em Defesa da Reforma Agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais.
Por Renata Mielli, no blog Janela sobre a Palavra
Publicado 12/03/2010 13:10
O lançamento da rede aconteceu nesta quinta-feira (11), na sede do Sindicato dos Jornalistas, e teve a presença de João Pedro Stédile, do MST, e do jornalista Paulo Henrique Amorim, um dos signatários do manifesto em defesa da reforma agrária que já conta com a adesão de dezenas de assinaturas.
O debate abordou o tema do agronegócio, o papel da mídia na criminalização dos movimentos sociais, e foi coordenado pelos jornalistas Altamiro Borges, Verena Glass, e pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Augusto Camargo.
Novo modelo agrícola
João Pedro Stédile fez um breve raio-x do agronegócio, que hoje representa uma “aliança entre os fazendeiros capitalistas e as empresas transnacionais que controlam o mercado de alimentos”. Essa nova conformação, avalia, mudou a natureza da luta pela reforma agrária, que não é mais a disputa com o latifundiário atrasado. “O que antes era a luta do pobre que queria terra, agora é uma luta de classes”.
Para o líder do MST, o lado bom dessa nova realidade é colocar para a sociedade o debate sobre a mudança do modelo agrícola, que mecaniza e desemprega, subemprega com trabalho escravo e está baseado no uso de agrotóxicos comprovadamente nocivos à saúde das pessoas.
Por tudo isso, o combate à luta pela reforma agrária ganha novos instrumentos. “A direita está se articulando para reprimir os movimentos com outros métodos com o objetivo de aniquilá-los. Articulados nos instrumentos que eles mais dominam: “Tribunal de Contas da União, Poder Judiciário e a mídia”, aponta Stédile.
Sobre a CPMI que pretende investigar supostos desvios de recursos por parte dos movimentos pela reforma agrária, Stédile foi taxativo: “Não se trata de discutir recursos públicos, até porque os recursos que nossas entidades acessam são uma merreca perto do que o agronegócio recebe. Essa é a terceira CPMI que eles instalam num período de oito anos. Todos os nossos sigilos bancários já foram quebrados, todos nossos telefones são grampeados. Eles tiveram oito anos para denunciar nossas supostas contas no exterior, nossas falcatruas. Não fizeram porque não encontraram nada e continuam criando CPMIs porque o objetivo deles é criminalizar os movimentos sociais. O DEM é o partido que tem sido a ponta de lança disso. O Onix Lorenzoni foi claro, disse que o que eles querem é acabar com o MST”.
Criminalização dos movimentos sociais
O jornalista Paulo Henrique Amorim começou lembrando que é alvo de 22 ações na Justiça, sendo que 9 destas são de autoria do Daniel Dantas. “Estamos vivendo uma tentativa de criminalizar em escalada tudo que tem um conteúdo político e ideológico. Para ratificar os interesses da elite brasileira, se criminalizam pessoas. Esse fenômeno da criminalização através do Judiciário é uma circunstância política nova, associada a outro, que é o de fechar a internet, busca cercear a livre manifestação. Tenho orgulho de ser processado por senhores como Daniel Dantas e pelo senador Heráclito Fortes, isso é resultado da minha luta pela liberdade de expressão”.
Amorim denuncia a elite brasileira que, “com três ligações telefônicas para Otavinho (Folha), Marinho (Globo) e Mesquita (Estado), controla jornais, rádios, emissoras de televisão, revistas, agência de informação e os portais da internet”.
Para se contrapor a isso, ele receita: “temos que fazer uma resistência na internet. Não há outra forma. Criar mecanismos de multiplicação da informação usando muito áudio e vídeo, criando botões contra a criminalização dos movimentos sociais. O último reduto da liberdade de expressão do país é internet”, afirma.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas falou da crise da atividade jornalística e das empresas de comunicação, mas defendeu que a necessidade do bom jornalismo e da informação não está em crise. Ele reforçou que uma frente de comunicadores não pretende reunir apenas jornalistas, mas todos os cidadãos que exercem o seu direito de expressão.