José Cícero – O Dia da Mulher e a velha crença no papai Noel
Hoje, 08 de março, o mundo quase por inteiro comemora o dia da Mulher, muito especialmente, os países que ora abraçam o chamado “capitalismo selvagem” ou o famigerado pós-modernismo do tsunami neoliberal. Contudo, proponho por conta deste ato comemorativo mundial, ao menos por um instante, um pouco de reflexão que ao meu juízo considero preciso e necessário.
Publicado 08/03/2010 09:19 | Editado 04/03/2020 16:34
O que aqui chamarei simplesmente de: o óbvio ululante do nosso doce momento de passividade eterna. Quer seja, por exemplo, a indagação ao menos para nós mesmos de o porquê do dia da mulher? Por que todos os dias do ano não podem ser dedicados a esta figura tão importante e notória no processo da construção cotidiana da nossa história? Por que apenas um dia?
Ainda que razão levou os capitalistas (justamente os responsáveis pelo fato gerador desta comemoração) a abraçar esta data quase como um momento de autoafirmação? Uma glória das glórias, tamanho tem sido o ímpeto com que “eles” têm se dedicado a este acontecimento a meu ver um tanto quanto bizantino?
Creio que a grandiosidade da mulher enquanto mãe, dona de casa, trabalhadora, enfim sujeito partícipe da sua própria história e, por extensão, da luta de classe pelo mundo afora extrapola qualquer comemoração episódica, através da qual os marqueteiros da economia de mercado e do neoliberalismo (do consumo) em geral, espertamente, criaram como forma de obter algum tipo de lucratividade.
Aliás, temos que admitir que neste particular, eles são quase insuperáveis… Afinal, não é à toa que já nos acostumamos a ‘dançar na maionese’, quando entramos na deles e aceitamos de bom-grado o fato de existir com naturalidade um dia dedicado a tudo nada vida. E o que é pior. Pagamos muito caro por isso… Pois este convencionalismo há muito já virou regra de etiqueta.
Contudo, digamos que isso não é coisa nova. Afinal há muito tempo que se comemora figuras ilusória como a do Papai Noel, por exemplo. Sem esquecermos os dias de tudo e de todos: Dias dos pais, das mães, dos namorados, do vizinho, do cachorro, etc… Tudo com o evidente intuito de vender, vender e vender…
O clássico combustível do velho consumismo exacerbado. O aprimoramento da antiga fogueira das nossas eternas vaidades. Por isso o sonho de consumo está impregnando nossa alma, tanto quanto nosso DNA. E não esqueçamos que deste modo estamos exaurindo nossos recursos naturais e transformando nossa única morada (o planeta) num incomensurável lixão.
Portanto digamos que o novo desta comemoração, a que me reporto, seria o fato de “eles”, os capitalistas do mercantilismo, terem se apropriados de um acontecimento referencial e histórico da luta de classe mundial, a partir do qual surgiu este suposto dia da mulher. Quer seja a manifestação das bravas operárias norte-americanas ocorrida nos idos de março de 1857 quando protestavam por melhores condições de trabalho e de salários. Seguido do massacre de 1911 em Nova Iorque quando cerca de 129 trabalhadoras do setor têxtil foram trancafiadas num galpão e queimadas vivas por decisão dos seus patrões em resposta ao protesto.
A explicação de acidente, portanto, não colou…
Por fim, digamos que todos os dias do ano devem ser dedicados a mulher por tudo que ela representa para o mundo, a vida, enfim, a sociedade planetária. E não apenas, o 08 de março de cada ano. Afinal de contas, nem sempre é preciso que acreditemos em Papai Noel.
O fim do preconceito de gênero, assim como o resguardo da igualdade, o respeito além do reconhecimento de toda a sociedade à imensa contribuição da mulher, bem como do seu importante papel na construção de um mundo novo. Seria efetivamente o maior dos tributos que poderíamos dar como homenagem efetiva à mulher em escala internacional.
Ainda assim, nada estaria sendo dado de ‘mão beijada’ à mulher como muitos, infelizmente, ainda imaginam. Muito pelo contrário. Tudo o que a mulher já conquistou foi o resultado natural de sua luta árdua, da sua combatividade, do seu destemor, a partir de um esforço de coragem, decisão e consciência.
Viva a mulher para o todo e sempre, viva!
José Cícero é professor, poeta e escritor.
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