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Karadzic defende-se: causa era "justa" e "sagrada"

O ex-líder sérvio da Bósnia Radovan Karadzic assegurou nesta segunda-feira (1º/3) que a causa dos sérvios da Bósnia era "justa" e "sagrada" em seu depoimento inicial no Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (TPII), instalado pelos vencedores da guerra civil que levou à separação da ex-Iugoslávia.

O réu afirmou que os sérvios da Bósnia tiveram de lutar para se defenderem dos fundamentalistas islâmicos, que iniciaram a guerra na Bósnia para obter a maioria étnica no país.

Karadzic, que disse ter sido um dissidente da antiga república socialista da Iugoslávia desde 1968, procurou demonstrar que os sérvios foram meras vítimas, que se limitaram a agir em auto-defesa.

O ex-líder denunciou o então líder croata Franjo Tudjman e o ex-líder bósnio muçulmano Alija Izetbegovic por posições etnocentristas, com o desejo de separarem as regiões da Croácia e da Bósnia da República Federal da Iugoslávia, criando estados estados muçulmanos croatas e bósnios, respectivamente.

Karadzic explicou que a desintegração da Iugoslávia se deu por luta por terras, por parte dos croatas, sérvios e muçulmanos, e que os sérvios nunca quiseram ‘a partição da república federal da Iugoslávia’, que queriam "viver com os muçulmanos", mas "não sob um regime que não respeitasse os direitos fundamentais".

Karadzic, também ex-líder do Partido Democrático Sérvio (SDS), iniciou sua defesa afirmando que não tinha comparecido à corte "para defender a si próprio", mas para defender a "grandeza da sua pequena pátria".

Karadzic é acusado pelo tribunal por supostamente ter participado de 11 crimes de genocídio e de crimes de guerra pela guerra civil da Bósnia-Herzegovina de 1992-95. As duas acusações de genocídio procedem do massacre de mais de 7 mil homens e jovens muçulmanos na cidade de Srebrenica (1995) e o cerco de Sarajevo que durou durante todo o conflito, e que teria causado mais de 10 mil mortos.

Em sua defesa, ele mencionou uma conversa da ex-promotora do Tribunal, Carla Del Ponte. Segundo Karadzic, nessa conversa, Carla assegura que a investigação indicava que de fato existiu a promessa de imunidade por parte dos Estados Unidos dentro dos acordos de Dayton de 1995, que encerraram o conflito.

Karadzic também culpou o reconhecimento internacional da independência de Croácia, Eslovênia e Bósnia por parte dos países europeus e dos EUA como um dos fatores que desencadeariam a guerra civil separatista.

Também afirmou que era contra e jamais defendeu o que chamou de "trocas de população" – em relação às deportações de croatas e muçulmanos da Bósnia. Ele acrescentou que defender um território "não é um crime".

Karadzic citou também uma conversa telefônica que teve em 1991 com o então presidente iugoslavo Slodoban Milosevic (morto em 2006 durante o seu julgamento, em condições obscuras). Karadzic afirmou ter dito a Milosevic que o líder opositor muçulmano e mais tarde primeiro presidente da Bósnia-Herzegovina, Alija Izetbegovic, impôs a divisão do país.

Como parte de sua defesa, Karadzic apresentou trechos da Declaração Islâmica de 1970, na qual Izetbegovic afirmou que "a Bósnia deve ser um estado islâmico regido por leis islâmicas" e que "não pode haver paz nem coexistência entre a comunidade islâmica e as instituições não-islâmicas".

Karadzic também acrescentou que preveniu os bósnios muçulmanos de que seria melhor evitar um conflito civil, já que "não tinham a possibilidades de se proteger, não tinham outra saída a não ser se renderem".

Para ele, os líderes muçulmanos, como Izetbegovic, morto em 2003, é que deveriam ser acusados e levados ao banco dos réus.

Seguro e sereno, o réu se defendeu com a assessoria do advogado britânico Richard Harvey em um depoimento de quase cinco horas. Karadzic, de 65 anos e psiquiatra de profissão, foi detido em Belgrado em 21 de julho de 2008.

Da redação, com agências