Ceará perde Dona Luiza Gurjão Farias
Faleceu na noite deste domingo (21/02), Dona Luiza Gurjão Farias, mãe de Bergson Gurjão, guerrilheiro cearense que morreu em combate no Araguaia. Amigos, familiares e pessoas que acompanharam a trajetória dessa guerreira comentaram com pesar sua partida.
Publicado 22/02/2010 12:36 | Editado 04/03/2020 16:34
A segunda-feira amanheceu mais triste. O sentimento unânime de quem teve o privilégio de conviver com Dona Luiza foi de pesar. Lutadora, guerreira, persistente, doce, alegre, ativa, cheia de esperança, exemplo. Muitos são os adjetivos que descrevem a bela senhora que trazia no olhar a perfeita sintonia de força e doçura.
Para Mário Albuquerque, presidente da Associação 64/68 Anistia e membro da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Dona Luiza é muito mais que a mãe de Bergson Gurjão. “Ela se tornou exemplo pela luta em trazer o filho de volta pra casa e em insistir no esclarecimento de sua morte. Ela cumpriu sua missão”, afirma. Segundo Mário, Dona Luiza é um exemplo de mãe que persistiu e nunca abandonou a esperança. “Ela nos deixa uma lição de luta e persistência. Que sua trajetória seja seguida pelas outras famílias de guerrilheiros que ainda lutam pelo resgate de seus entes querido. Ela vai nos deixar muita saudade”.
Contemporâneo do ex-guerrilheiro Bergson Gurjão, o presidente estadual do PCdoB/CE Carlos Augusto Diógenes, o Patinhas, lamenta a morte de Dona Luiza. “Nós que fazemos parte do PCdoB manifestamos nosso pesar pela partida dela. O que fica é a imagem de uma mulher forte, lutadora, de uma pessoa que nunca perdeu a esperança, de postura serena mesmo diante da dor”, comenta. O dirigente comunista destaca o quanto Dona Luiza era respeitada não só pelos familiares, mas por todos que a conheciam. “Ela era uma referência para todos nós. Rendemos aqui nossas homenagens a esta lutadora do nosso povo”, ratifica.
“Mãe extraordinária, que sempre esteve ao lado dos filhos quer fosse em família, quer fosse nas manifestações do movimento estudantil ou mesmo nas prisões”, ressalta Benedito Bizerril. Segundo o advogado, Dona Luiza é uma mulher vitoriosa por ter lutado e alcançado o objetivo de trazer de volta os restos mortais do filho assassinado. “Sentimos a imensa perda. Ela foi uma grande pessoa humana e carinhosa. Dona Luiza estará sempre em nossa mente. Neste momento, queremos confortar a família e dizer que esta perda não é só dos familiares, mas de todos nós que a conhecemos e aprendemos a querer bem”, ratifica.
Emocionado, o deputado federal Chico Lopes comenta que a notícia do falecimento de Dona Luiza o pegou de surpresa. “Lamento imensamente sua partida. Ela tinha a compreesão de que ser mãe também estava nos momentos mais difíceis. Em nenhum momento ela vacilou, foi forte o suficiente para não perder a fé nem deixar de lutar por seus objetivos”, avalia. O parlamentar imagina um encontro especial. “Neste momento Dona Luiza e Bergson estão juntos, felizes, matando as saudades. Deve ter sido um reencontro emocionante. Para nós, fica o legado de aprendizado. Salve Dona Luiza”, finaliza.
O velório de Dona Luiza Gurjão acontece na Funerária Ethernus (Rua Padre Valdevino, 1688 – Aldeota) e o sepultamento será no final da tarde desta terça-feira (23/02) no Cemitério Parque da Paz.
Trajetória de Dona Luiza
Com a repercussão da identificação dos restos mortais de Bergson Gurjão no final de 2009, o Vermelho/CE fez uma cobertura especial sobre o guerrilheiro cearense. Dona Luiza foi personagem de matérias que contavam um pouco da história de Bergson, história que se confundiu com sua própria vida. Mais que mãe do estudante cearense, ela ultrapassou as fronteiras da dona de casa pacata e se tornou exemplo de mulher batalhadora e vitoriosa.
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De Fortaleza,
Carolina Campos