Comunidade internacional condena golpe no Niger
Na última quinta-feira (18/2), militares depuseram o presidente Mamadou Tandja, o capturaram e instalaram um golpe no país africano Niger. A União Africana, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) e o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, já se pronunciaram em repúdio ao golpe. Imprensa internacional classifica a ação como golpe militar, mas chega a quase justificá-lo.
Publicado 20/02/2010 15:33
Os militares responsáveis pelo golpe de Estado no Níger assumiram todos os poderes, suspenderam a Constituição, fecharam as fronteiras terrestres e aéreas e mantêm o presidente Mamadou Tandja retido, voltando a jogar incerteza sobre o futuro de um dos países mais instáveis da África. Nação africana sofreu golpe de Estado na quinta-feira (18/2).
O governo brasileiro também publicou comunicado repudiando o golpe: "O Brasil se associa às manifestações de repúdio à quebra da normalidade democrática já externadas pela União Africana e pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental", diz um comunicado do Ministério das Relações Exteriores. A Organização das Nações Unidas (ONU) havia condenado o golpe desde sexta-feira (19/2).
Cobertura internacional
Agências internacionais noticiam o fato como golpe de Estado, anunciam as posturas de organismos e países africanos contra o golpe, mas passam informações que ao cabo buscam justificar o golpe em Niger.
Segundo a agência Efe, os golpistas parecem ter uma espécie de plano com ações precisas. Após o assalto ao palácio presidencial, formaram um cinturão militar em torno do bairro onde Tandja mora. "A operação foi minuciosamente preparada e levada a cabo para minimizar os riscos", disse à Agência Efe uma pessoa próxima aos golpistas , que indicou que a ação "pretender pôr fim a uma situação política tensa que se prolongou durante os últimos nove meses".
Funcionários da Presidência disseram que, após o assalto ao palácio, Tandja foi levado em um veículo militar com destino desconhecido. Já os ministros teriam sido conduzidos à sala de reunião do Conselho Superior da Comunicação.
Durante a manhã de hoje, um militar que pediu anonimato disse à Efe que o presidente deposto está detido em um instalação do Exército na região de Dosso, aproximadamente a 140 quilômetros da capital, enquanto os ministros estão em diferentes quartéis de Niamey.
Os líderes do levante, que afirmam ter constituído o Conselho Supremo para a Restauração da Democracia (CRSD), anunciaram a dissolução do Governo e pedem aos secretários-gerais dos ministérios que administrem os assuntos correntes.
"Foi pedido à população que se mantivesse calma e unida aos ideais que encorajam o CSRD e que farão do Níger um exemplo de democracia e de bom Governo", assinala um comunicado dos golpistas.
Justiicando o golpe
Após trazer informações sobre como se deram os fatos, a tomada do poder, etc., a Agência Efe traz notícias alentadoras do governo militar instalado e busca até opinião de populares satisfeitos com a "alternância de poder".
Segundo a agência, o grupo de militares se disse respeitoso aos tratados e convenções assinados pelo Estado do Níger e convocou a opinião pública nacional e internacional a manter "a ação patriótica para salvar o Níger e a sua população da pobreza, da mentira e da corrupção".
Durante as primeiras horas da tarde de hoje, membros do conselho mantiveram uma reunião com os secretários-gerais dos ministérios e anunciaram a rápida libertação dos ministros do gabinete.
Após constatar que a situação do país está "sob controle", prometeram o fim do Estado de sítio no final do dia e a reabertura das fronteiras terrestres e aéreas.
O porta-voz do CRSD, Goukoye Abdoulkarim, anunciou a criação de um "conselho consultivo" que trabalhará de forma colegiada para preservar o futuro do Níger.
Perante a velocidade dos acontecimentos, o partido do presidente adotou um tom conciliador e chamou os golpistas a utilizar a razão nos futuros passos.
Assim, o vice-presidente do Movimento Nacional para a Sociedade de Desenvolvimento (MNSD), Ali Sabo, pediu aos dirigentes do conselho militar que sejam "equitativos e justos" e que façam uma transição democrática.
Opinião popular, segundo a Efe
A matéria da agência, veiculada neste sábado (20/2) no Estadão Online, diz que nas ruas de Niamey, o golpe de Estado foi recebido por muitos com um sentimento próximo ao alívio, tal foi a tensão política no país durante os últimos tempos.
E a matéria ainda busca o que seria a "opinião das ruas": "A intervenção militar foi a única via para se livrar de Tandja, que não queria abandonar o poder", declarou Hamidou Alzouma, morador de Niamey.
A cartada final
Ao final da reportagem, a agência beira a defesa do golpe ao disparar: "no poder desde 2000, Tandja conseguiu ser eleito para um segundo mandato, que expirou em 22 de dezembro. Mas, para não deixar o poder, Tandja tinha decidido desmantelar a Constituição do país, dissolvendo a assembleia, a Corte constitucional e organizando um plebiscito para adotar uma nova Carta que prolongasse seu mandato".
Do Rio de Janeiro, Luana Bonone, com Efe e agências