Mudança climática: Maus presságios para lei no senado dos EUA
Ao discursar sobre o estado da União no Congresso, o presidente Barack Obama pediu a aprovação de “um completo projeto de lei sobre energia e clima, com incentivos que finalmente façam das energias limpas o tipo de energia rentável nos Estados Unidos”.
Por Matthew Berger, para a agência IPS
Publicado 09/02/2010 11:14
O progresso para essa lei está congelado em Washington neste excepcionalmente frio inverno e uma série de anúncios desde o discurso presidencial nada fizeram para acabar com o impasse.
Para atrair os céticos do governante Partido Democrata e do opositor Partido Republicano ao projeto de lei no Senado, o presidente incluiu em seu discurso uma série de concessões que não foram bem recebidas pelos ativistas contra a mudança climática. Destacando a necessidade de criar “mais empregos em energia limpa”, Obama disse, na semana passada: “Precisamos de mais produção, maior eficiência, mais incentivos. E isso significa construir uma nova geração de centrais de energia, seguras e limpas neste país. Isto significa tomar valentes decisões para abrir novas áreas submarinas para o desenvolvimento do petróleo e do gás. Isto significa um continuado investimento em avançados biocombustíveis e tecnologias limpas de carvão”.
Entretanto, se desfazem as esperanças de que o Congresso aprove o projeto para reduzir as emissões de gases-etufa. Quando os Estados Unidos se comprometeram oficialmente a realizar os cortes de emissões que Obama propôs na conferência sobre mudança climática de Copenhague, em dezembro (4% abaixo dos níveis de 1990 até 2020), houve uma importante declaração: qualquer compromisso estaria sujeito a uma legislação no Congresso. A Câmara de Representantes aprovou um projeto de lei em junho, sobre um sistema que limitaria e estabeleceria um preço para as emissões de gases-estufa no país. Agora, a esperança de que o Senado a aprove parece se dissipar.
Durante um discurso no Estado de New Hampshire, na semana passada, Obama admitiu a improbabilidade de chegar à sua mesa o projeto de lei para ser promulgado, embora enfatizasse a necessidade de “incentivar a energia limpa, que é a mais barata e efetiva”. Também afirmou que se deveria avançar em um projeto sobre energias limpas que não necessariamente inclua reduções de gases-estufa. “Só o que diria sobre isto é: devemos ser capazes de separar as coisas. E é inimaginável que seja até aí onde o Senado chega”, afirmou.
Na quarta-feira, Obama reiterou seu apoio à legislação, mas no Congresso se percebia outro clima. Um crescente número de senadores, tanto republicanos quanto democratas, favorece a chamada “lei de apenas energia”, que não estabeleceria limites às emissões, mas apenas estabeleceria um preço. A lei exigiria das indústrias começarem a tomar 15% de sua energia de fontes renováveis até 2012, mas também permitiria a expansão das perfurações submarinas de gás e petróleo.
O senador Lindsey Graham, influente republicano que trabalha com o democrata John Kerry e o independente Joe Lieberman em outro projeto de lei sobre clima, disse, também na quarta-feira, que não apoiaria este tipo de enfoque parcial. “Se a ideia é tentar aprovar algum projeto de lei de energia pela metade e dizer que isso é avançar, se esquecem de mim”, disse Graham a líderes da indústria de energias renováveis. Entretanto, Graham, Kerry e Lieberman apoiam as perfurações submarinas, bem como outras iniciativas, como construir novas usinas nucleares, geralmente contrárias aos desejos daqueles preocupados em mitigar os efeitos do aquecimento global.
Apesar dos protestos de ativistas, estas ideias ganharam impulso desde que o presidente as incluiu em seu discurso. A energia atômica, em particular, recebeu um voto de confiança, que não se via há mais de uma década. O orçamento pedido pela Casa Branca para o ano fiscal 2011, triplicaria o valor das garantias de crédito a indústrias que desejarem construir novos reatores nucleares, dos US$ 18,5 bilhões já autorizados pelo Congresso para US$ 54,5 bilhões.
O diretor-executivo da organização ambientalista Sierra Club, Carl Pope, que não fosse por isso estaria em grande parte de acordo com o orçamento, destacou sua discordância: “Cremos que esse dinheiro seria muito melhor investido em formas mais limpas, baratas, seguras e rápidas de reduzir emissões”. Obama também anunciou a criação de uma equipe especial destinada a estudar como acelerar o desenvolvimento e a implementação de tecnologia de captura de carbono, impedindo que vaze para a atmosfera. O orçamento pedido pelo presidente também inclui US$ 5 bilhões em garantias de crédito para projetos de energias renováveis, bem como fundos para criação de empregos em energias limpas em vários setores.
Fonte: Envolverde