Grècia formaliza humilhante "acordo"; greve geral pára o país
O chocante discurso do primeiro-ministro da Grécia e a confissão de seu fracasso para contenção da especulação de Bruxelas e dos mercados é uma evolução em princípio dolorosa e, paralelamente, humilhante para o país.
Publicado 09/02/2010 13:57
Após quatro meses de "bravatas" e "retratações" (típicas de seu pai, avô e bisavô), foi obrigado a se arrastar às ordens dos especuladores, impossibilitado e incapacitado de proteger a economia e sua própria política. Trata-se da "terça-feira negra" do primeiro-ministro grego George Papandreu.
O doloroso acordo do primeiro-ministro com Bruxelas e "os atuais sanguinários Soros" não é o suficiente. Foi Bruxelas que abriu o caminho aos especuladores, considerando que estavam de acordo para cessar de formular declarações ou se mover de forma que desestabilizaria as debêntures gregas e a posição da Grécia nos mercados internacionais de um modo geral não fizeram isto, mas alimentavam o fogo.
A Grécia permanece na zona do perigo. O primeiro-ministro parece que não se conscientizou ainda do nível dos riscos para que com a correta estratégia desarme a bomba fiscal que herdou do governo anterior, da Nova Democracia.
Em todo caso, a necessidade de serem reduzidos os déficits e serem postas as bases para iniciar a redução da dívida é imperativa, mas em base equivocada se objetivar a sobra de recursos para políticas públicas, sociais, desenvolvimentistas e ambientalistas.
Se, ao contrário, endividamento significasse gastar hoje a arrecadação de amanhã, redução de dívida significa que para resgatá-la retiramos uma parte de nossa arrecadação de hoje. O endividamento – é prática correta – quando canalizado aos investimentos que melhoram a capacidade produtiva da economia, aumenta a ocupação e a renda produzida.
Alto custo
A pergunta crítica agora é onde serão procurados os recursos e, através deles, para quais reclassificações sociais. Poucos discordariam quanto aos critérios: justiça social com proteção aos mais fracos e oneração correspondente dos mais ricos, simultâneo alavancamento do crescimento e encorajamento da atividade produtiva para que crie mais arrecadação. Embora estejamos em outra fase na maioria dos países do euro — então e, agora — enfrentemos, particularmente, nossos problemas.
Quando, na primavera passada, o Banco Central Europeu (BCE) abriu as torneiras dos euros, nem a nossa demanda interna caía como em outros países e muito menos os bancos gregos haviam sido abalados tanto quanto os outros da Zona do Euro.
Porém, conforme buscava a contenção da crise generalizada na Zona do Euro, facilitava o então governo para continuar se endividando excessivamente. Porque conteve o custo do endividamento que já estava atingindo níveis proibitivos: o spread, a distância das debêntures alemãs, havia atingido em março até as três unidades percentuais para em seguida recuar diante do imenso espectro de dinheiro. Sem esta "escorregada" das medidas emergenciais do Federal Reserve (Fed), a Grécia teria sido obrigada há vários meses antes a restringir mais seu endividamento público e seu custo.
Greve geral
Os servidores públicos da Grécia anunciaram que a greve nacional de um dia convocada para esta terça-feira é um ato contra sacrifícios "injustificados e ineficientes" pedidos pelo governo. Semana passada, atendendo a determinação do FMI, o governo local avisou que vai congelar salários da categoria, sob alegação de pretender reduzir o déficit fiscal de dois dígitos do país, provocado pela bilionária ajuda aos bancos, justamente os responsáveis por empurrarem o país para a recessão e elevando a dívida da Grécia acima de 294 bilhões de euros.
"Estamos cientes da difícil situação econômica, mas mirar nos rendimentos dos empregados e dos pensionistas é uma saída fácil", criticou o presidente do sindicato dos servidores públicos Adedy, Spyros Papaspyros.
O governo neoliberal grego pretende confiscar cerca de 1 bilhão de euros este ano em benefícios e redução dos custos operacionais do setor público. Papaspyros afirmou que o plano prevê cortes entre 5% a 20% no salário dos servidores. O sindicato ligado ao governo defende que comerciantes e as indústrias também participem do sacrifício.
O sindicato convocou cerca de 300 mil membros para participar de manifestação, nesta terça-feira, em Atenas. Os trabalhadores sindicalizados comunistas farão manifestação separada. As viagens aéreas pela Grécia devem ser interrompidas, com a adesão dos controladores de vôos à greve geral.
Com informações de agências e do Monitor Mercantil