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Editorial do Valor: Produção industrial tem rápida expansão

O setor de máquinas e equipamentos foi o mais afetado pela crise internacional na indústria brasileira. O pessimismo dos empresários e a queda da demanda interna e da exportação tiveram impacto fulminante sobre a atividade industrial. A boa notícia é que esse segmento está agora liderando a recuperação da indústria nacional, embalado pelo aumento dos investimentos e pela recuperação econômica do país.

A produção industrial física encolheu 7,4% em 2009, o pior desempenho desde a contração de 8,9% de 1990. Foram prejudicados 23 dos 27 ramos pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor mais afetado pelo colapso do investimento doméstico e exportações de manufaturados foi o de bens de capital, que encolheu 17,4% no ano. A segunda maior queda ficou com os bens intermediários, 8,8%.

Já a produção de bens de consumo recuou 2,7%, puxada pelo recuo de 6,4% dos duráveis e de 1,6% dos semiduráveis e não duráveis – desempenho anêmico, apesar das medidas anticíclicas do governo, com a desoneração tributária para automóveis e linha branca.
Embora a produção industrial tenha fechado no vermelho, nem todo o ano foi terrível. A partir do segundo semestre, a indústria passou a mostrar recuperação, puxada exatamente pelo setor de bens de capital, estimulado pela reação dos investimentos. (Valor, edição de 5,6,7/02).

O otimismo com a reação do Brasil à crise internacional, o impacto positivo dos esforços anticíclicos, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mais a expectativa dos negócios e empreendimentos que serão gerados pelo fato de o país sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 incentivaram a retomada dos investimentos e, em consequência, a compra de máquinas e equipamentos.

O consumo interno de máquinas e equipamentos saltou 18% entre o terceiro e o quarto trimestre do ano passado, incluindo a produção local e a importação, mas isso foi insuficiente para evitar a queda de 11,5% registrada no ano fechado. A demanda extraordinária foi atendida pela produção local de máquinas e equipamentos, que cresceu 13,3% do terceiro para o quarto trimestre, embora tenha fechado o ano com retração de 17,4%.

Os empresários buscaram também máquinas no exterior, que ficaram mais baratas com a apreciação do real, de modo que a importação de máquinas subiu 16,7% no mesmo período, embora tenha terminado o ano com recuo de 13,6%. Foi um fim de ano atípico, uma vez que a demanda por bens de capital normalmente perde força nesse período.

A produção de máquinas e equipamentos acabou melhorando o desempenho da indústria como um todo, neutralizando em parte a perda de gás dos bens de consumo, com a retirada dos estímulos fiscais. A produção de bens de capital cresceu 0,3% em dezembro; e a de produtos intermediários, 1%. Já a produção de bens de consumo diminuiu 0,6%, influenciada pela retração de 4,6% dos duráveis.

Como resultado dessa combinação de forças, a produção industrial fechou dezembro com queda de 0,3%, já descontados os efeitos sazonais. Em comparação com o nebuloso dezembro de 2008, a produção industrial cresceu 18,9%, resultado em boa parte influenciado por uma base de comparação deprimida, por conta da concessão de férias coletivas e paralisações não programadas ocorridas em vários setores, em dezembro de 2008.

No quarto trimestre, a produção industrial teve alta de 3,6% sobre o terceiro trimestre e foi 5,8% superior à de igual período de 2008. Apesar da pequena queda, a produção da indústria segue em rápida expansão. Cresceu a uma taxa anualizada de 15% no quarto trimestre.

Os sinais de consistência na demanda de bens intermediários e bens de capital no fim de 2009 justificam as previsões otimistas de analistas de que a produção desses bens pode crescer ao redor de 10% neste ano. Há nuvens não desprezíveis no horizonte, porém: o comportamento da taxa básica de juros, que deve subir em algum momento do ano; e a recuperação internacional, ameaçada pelos déficits fiscais elevados.