Crise financeira grega prova ser maior teste para a zona do euro
O que começou como preocupações a respeito da solvência da Grécia diante de altos déficits, números falsos no orçamento e baixo crescimento, se transformaram rapidamente no teste mais severo da zona do euro de 16 países, em seus 11 anos de história.
Publicado 07/02/2010 14:48
A ansiedade em relação à saúde do euro, que se espalhou da Grécia para Portugal, Espanha e Itália, não é apenas uma crise de dívidas, agências de classificação de crédito e mercados voláteis. A questão tem em seu coração elementos de crise política, porque vai ao dilema central da União Europeia: o controle por parte dos Estados individuais sobre a política econômica e fiscal, o que dificulta para a união como um todo exercer a liderança política necessária para lidar de modo eficaz com a crise.
Uma política de avanços por meio de erros pode ser confortável em termos políticos, mas os especialistas alertam que ela pode ter consequências econômicas terríveis. Jean-Paul Fitoussi, professor de economia do Instituto de Estudos Políticos, em Paris, disse que os líderes europeus “lidaram muito mal com esta crise”, alimentando a especulação de mercado e a ganância.
A relação entre dívida pública e produto interno bruto da Grécia não é maior do que a da Alemanha, e a Grécia não deu calote na dívida, ele disse, mas os líderes europeus fizeram muito pouco para acalmar os mercados e as agências de classificação de crédito.
Apesar de ninguém esperar que a União Europeia permitirá que a Grécia ou outros deem calote ou que ocorra um colapso da zona do euro, os líderes europeus e o Banco Central quase certamente flexibilizarão as regras para fornecer garantias ou empréstimos, se necessário. Mas mesmo uma ajuda aos países em dificuldades não solucionará a principal falha do euro: a grande diferença entre as economias nacionais que compartilham uma moeda comum, sem uma coordenação fiscal significativa, muito menos um tesouro único.
“Os desafios diante da zona do euro são muito sérios”, disse Simon Tilford, economista-chefe do Centro para a Reforma Europeia, em Londres. “Para os países que perderam a competitividade na zona do euro e possuem finanças públicas fracas, o ambiente atual é muito perigoso.”
Não ajuda o fato de a União Europeia estar passando por uma grande transição política para novos líderes, uma nova Comissão e Parlamento, e um novo tratado de governo, o Tratado de Lisboa, que cria um novo presidente e um novo chefe de relações exteriores. Mas mesmo se todos esses cargos estivessem preenchidos, ainda restariam sérias dúvidas sobre se a união ou seus principais países membros tomarão a iniciativa antes que ocorra um estrago ainda maior.
De certa forma, há um jogo de quem desiste primeiro, por medo, em andamento, com a Grécia contando com a ajuda e outros países esperando até que Atenas pague um alto preço por sua gastança descontrolada e manipulação das estatísticas. Mas a demora é onerosa e há problemas estruturais mais profundos que poucos querem discutir.
Grécia, Itália, Portugal e Espanha –conhecidos atualmente como PIIGS (porcos, em inglês) se a Irlanda for incluída– são os membros fracos da Europa, com altos déficits estruturais somados a baixas perspectivas do tipo de crescimento econômico e de produtividade que poderia devolvê-los à saúde. A separação norte-sul é em parte geográfica, em parte cultural, em parte religiosa e em parte histórica, mas os sulistas tendem a ser mais pobres e ter economias menos competitivas.
“Os mercados estão se divertindo testando o euro”, disse Nicolas Veron, um membro sênior da Bruegel, um instituto de pesquisa de políticas econômicas em Bruxelas. Mas os mercados também estão aumentando a pressão sobre as maiores economias europeias, como a Alemanha e a França, para encontrarem modos de resgatar a Grécia, que já está enfrentando greves diante das atuais medidas de austeridade, e escorar os outros.
Mas com a União Europeia passando por uma tripla transição política, não está claro de onde virá essa liderança. “Quem está no comando agora?” perguntou Antonio Missoroli, diretor de estudos do Centro de Políticas Europeias, em Bruxelas. “Ainda ninguém, e ainda poderá levar algum tempo.”
Há a recém-nomeada Comissão Europeia e agora um novo presidente europeu, Herman Van Rompuy, e a ministra europeia de relações exteriores, Catherine Ashton. O comissário encarregado desta crise, Joaquin Almunia, é um “pato manco” (político que não manda mais) devido às mudanças nos cargos.
Van Rompuy anunciou um encontro de cúpula econômico informal que ocorrerá na próxima quinta-feira, para fazer com que os países membros se concentrem na crise.
Calote na dívida por parte de um membro da zona do euro é simplesmente inaceitável, dizem as autoridades europeias e os analistas– um país não é um banco. No momento, até mesmo pedir ao Fundo Monetário Internacional para que ajude a Grécia seria considerado embaraçoso demais e ainda não é necessário, dada a aparente determinação do novo governo grego de lidar de forma realista com seus problemas.
Mais provável, segundo eles, é que ocorram empréstimos bilaterais ou garantias de empréstimos por parte de países mais ricos, como a Alemanha. Os líderes na França, Alemanha e outros países europeus já começaram a discutir como uma ajuda dessas seria estruturada, disseram autoridades na semana passada.
“É altamente improvável que seja permitido um calote por parte da Grécia”, disse Missoroli. “Mas ninguém quer dizer isso em voz alta, para não tirar a pressão sobre o governo grego.”
Mas também é sem precedente, e politicamente difícil, para a União Europeia, ou qualquer país membro, impor condições para ajuste econômico a outro país membro, o motivo para alguns analistas pedirem o envolvimento do Fundo Monetário Internacional.
Fonte: New York Times
Tradução: George El Khouri Andolfato