Terremoto sacode os alicerces do euro
O euro, eventualmente, será a moeda mais fraca entre as moedas fortes por causa da ampla perspectiva econômica desigual dos países integrantes da Zona do Euro e da crise de dívida que assola uma considerável parcela de seus países integrantes.
Por Maria Segre, no Monitor Mercantil
Publicado 27/01/2010 15:30
Figuras do mercado de câmbio, aliás, prevêem que, a moeda comum não sobreviverá, porque as economias integrantes correm com duas velocidades muito diferentes. Provavelmente, este negro cenário será desmentido. Entretanto, o agravamento das pressões monetário-creditícias sobre a Grécia, Irlanda, Portugal Espanha, Itália e, alguns países da Europa Oriental, seguramente, testará a solidariedade da Zona do Euro e, experimentará a resistência do euro.
A moeda comum, que neste ano festeja seu 11º aniversário, enquanto manteve-se forte durante o ano passado – apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) e a produção industrial terem se contraído mais na Zona do Euro do que nos EUA – será testada nesta crise. Isto, aliás, previu também até a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, ao comentar (leia-se enxovalhar duramente) a tragédia fiscal dos países integrantes da Zona do Euro, esquecendo-se a de seu próprio país.
Os últimos dados disponíveis sobre a atividade econômica e empresarial, mostram que, a recuperação dos países da Europa será lenta e desigual. As vendas no varejo da Zona do Euro despencaram em 1,2% em novembro do ano passado, de acordo com relatório da Comissão Européia (CE), órgão executivo da União Européia (UE), enquanto, o colosso do comércio varejista alemão Metro anunciou queda de suas vendas em 3,6% ano passado.
As previsões, contudo, referem-se em aumento – mesmos anêmico – do PIB da Zona do Euro. As perspectivas, de que a economia européia se recuperará em seu total, dissimulam a ampla desigualdade no previsível desempenho econômico dos países integrantes. Enquanto, Alemanha e França marcham na estreita trilha de uma recuperação apenas aceitável (ou duvidosa), as outras economias menores, integrantes da Zona do Euro lutarão arduamente para superar a crise.
Mas, caso a economia alemã e francesa se recuperarem realmente, em grau que obrigará o Banco Central Europeu (BCE) a elevar as taxas básicas de juros de endividamento, a fim de evitar o recrudescimento da inflação, então as problemáticas economias dos pequenos países integrantes da Zona do Euro serão, duramente, atingidas porque as taxas de juros mais altas é o pior que possa-lhes acontecer no momento em que tentam emergir da queda.
Seguramente, contudo, esta desigual perspectiva econômica – ao que tudo indica – envolverá e criará sérias dificuldades aos membros do Conselho Diretor do (BCE) para decidirem trazer de volta à normalidade as historicamente flexíveis condições monetárias, objetivando assim evitar – a qualquer custo – qualquer explosão de inflação na Zona do Euro. Aliás, a propósito desta situação referiu-se o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, após presidir a última reunião do Conselho Diretor da entidade.
Na ocasião, Trichet e os "cardeais" do Conselho Diretor resolveram aproveitar a oportunidade e ministrar uma aula de economia aos governos dos países menores integrantes da Zona do Euro. Naquele momento a Europa inteira ouviu um amontoado de obviedades elocubradas pelos "cardeais" do BCE apontando o dedo e vociferando que, "os governos devem botar em ordem suas questões fiscais.
Contudo, na atual inédita situação é preciso que saibam de que deverão continuar liberando liquidez, mesmo que para apenas manterem a estabilidade monetário-creditícia. Diferentemente, há o risco de que a apressada retirada dos programas de fornecimento de liquidez ao sistema fará com que explodam em níveis bem mais altos as taxas de juros do mercado aumentando em conseqüência os riscos da Zona do Euro mergulhar novamente à queda".
Ainda mais agora, quando o sistema bancário da Europa não tem ainda retornado ao seu funcionamento normal. O dinheiro barato aumenta o risco da inflação, mas, o BCE não poderá retirá-lo antes dos bancos tiverem condições de sustentar-se. Seja como for, avalia-se que, a saída estratégica do BCE será feita com passos de criança de um ano. Em consequência, os volumes de liquidez disponíveis para os bancos comerciais permanecerão muito acima dos níveis fisiológicos ao longo deste 2010.