Lula anuncia visita ao Haiti e lança PAC 2 no FSM
Coral de índios adolescentes, música de protesto e escolas de samba gaúchas foram os elementos da espera pela fala do presidente Lula na principal atividade da etapa do Fórum Social Mundial que ocorre em Porto Alegre (RS). Durante o discurso, Lula falou sobre a relação entre governo e movimentos, sobre a catástrofe no Haiti e sobre o PAC 2, que será lançado em março.
Publicado 27/01/2010 00:57
O ginásio Gigantinho ficou lotado e, entre uma atração e outra, os participantes do Fórum fizeram "ola" e entoaram cantos como "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula"e "Lula, guerreiro do povo brasileiro".
O mestre de cerimônia foi o representante do Ibase, Cândido Grzybowski, que apresentou questões a Lula sobre o Haiti, sobre a COP 15 em Copenhagen e sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos. A fala do presidente foi antecedida, ainda, por uma intervenção do presidente da CUT, Arthur Henrique, que criticou a grande mídia brasileira e a criminalização dos movimentos sociais que ela promove. Bastou o presidente da CUT citar o nome da ministra Dilma Roussef para que o plenário respondesse em uníssono: "olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma".
Também discursou, antes do presidente Lula, a uruguaia Lilian Celiberti, da Articulación Feminista Marcosur, que foi diversas vezes aplaudida, ao fazer declarações como "este povo do Fórum Social Mundial é o povo da esperança" e defender que os países devem criminalizar "o racismo, a homofobia, o sexismo e a miséria, nunca os movimentos sociais, que lutam pelos direitos".
Lula iniciou sua intervenção dizendo que o motivo de querer chegar ao governo era para mudar a relação com os movimentos sociais. E discorreu sobre a relação democrática do seu governo com o conjunto dos movimentos, citando as diversas conferências realizadas.
Orgulho de ir a Davos
Defendida sua boa relação com os movimentos sociais, o presidente declarou que vai a Davos, para o Fórum Econômico Mundial, e levou ao delírio o público ao afirmar que aquele fórum "não tem mais o glamour que eles pensavam que tinha em 2003". Lula disse ainda que vai com orgulho ao Fórum de Davos, e citou as razões: ao invés de devedor, agora o Brasil é um credor do Fundo Monetário Internacional (FMI); segundo o presidente, o mundo desconfiava da sua capacidade de conduzir o Brasil, e, no entanto, "foi um torneiro mecânico quem mais fez escolas técnicas e universidades no Brasil"; o país possui a mais consolidada política de inclusão social do planeta; e, por fim, Lula lembrou que foi criticado quando disse que a onda da crise se manifestaria no Brasil como uma "marolinha", e agora "o resultado está aí", provoca Lula, citando os dados de 945 mil empregos com carteira assinada criados no setor produtivo privado neste ano, sem contar os cargos públicos. Por fim, Lula anunciou que irá ao Fórum Social Mundial em Salvador após retornar de Davos.
Após discorrer sobre a relação de seu governo com a sociedade, em especial com os movimentos sociais – que o próprio Lula caracterizou como o principal legado de sua gestão – o presidente aproveitou para anunciar que em março será lançado um segundo Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC 2.
Sobre Conpenhagen, o presidente reafirmou que o Brasil levou uma proposta ousada, mas que o debate terá que ser refeito no próximo encontro, no México, e o compromisso deve ser "cada um limpar sua própria sujeira", referindo-se à pressão feita pelo Brasil e outros países para que os países mais industrializados (Estados Unidos, Inglaterra e outros) assumam metas mais ousadas de redução da emissão de gases e desmatamento.
Visita ao Haiti
Lula aproveitou o espaço ainda para defender a posição adotada pelo Brasil no Haiti. Anunciou que visitará o país no dia 25 de fevereiro, que foram reforçadas as tropas brasileiras no país e ainda fez um apelo, para que o Fórum Social Mundial tire uma resolução. Lula sugeriu que haja uma resolução do Fórum para que cada um de seus participantes, por um ano, até a próxima edição do evento, dedique-se à reconstrução do Haiti.
Mas Lula não falou apenas de seu governo e de relações internacionais. Fez questão de falar também sobre o Fórum Social Mundial, dizendo que as entidades organizadoras devem encontrar uma forma de fazer mais gente participar de suas atividades, e ressaltou que a crise do capitalismo que se abateu sobre o mundo em 2008 abre espaço para o Fórum crescer. Encerrando seu discurso, Lula avaliou que o FSM mantém "a mesma saúde, o mesmo vigor de 2003, mas está mais maduro, mais consciente, mais sabedor do que precisa fazer" e valorizou ainda o papel do Fórum de alimentar utopias.
De Porto Alegre, Luana Bonone