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Lobo assume sem apoio internacional e sob protestos

Porfírio Lobo, do conservador Partido Nacional, assumiu nesta quarta-feira (27) a presidência de Honduras, com escasso respaldo da comunidade internacional e rechaçado por setores populares que veem seu governo como uma derivação do golpe de Estado.

A imensa maioria dos mandatários do mundo decidiu não comparecer à cerimônia de posse do novo governante, cuja legitimidade é questionada, uma vez que ele foi eleito no pleito de 29 de novembro passado, sob o regime golpista de Roberto Micheletti.

Apenas os presidentes do Panamá, Ricardo Martinelli; da República Dominicana, Leonel Fernández; de Taiwan, Ma Ying-Jeou; e o vice-presidente da Colômbia, Francisco Santos, estiveram presentes no ato efetuado no estádio nacional Tiburcio Carías, sob fortes medidas de segurança.

Em seu discurso, Lobo, um rico empresário agrícola, reconheceu que recebe o país imerso em uma profunda crise, iniciada em 28 de junho, quando militares encapuzados sequestraram o presidente Manuel Zelaya e o levaram à Costa Rica. Este fato provocou o rechaço unânime da comunidade internacional e de organismos como a ONU, a OEA, a Alba e o Grupo do Rio.

"Recebemos um país em uma das situações mais difícies da história. Acabamos de sair da pior crise política da nossa história democrática, mas pudemos evitar os perigos que afrontavam nossa nação", expressou o conservador, repetindo o discurso golpista.

"Prometo ser fiel à República e cumprir e fazer cumprir as leis", disse Lobo ao prestar juramento ante o presidente do Congresso, Juan Orlando Hernández, seu amigo e correligionário no Partido Nacional (direita).

O novo presidente se comprometeu a ficar no cargo "por apenas quatro anos, nenhum dia a mais ou a menos" e garantiu que instalará o quanto antes uma "Comissão da Verdade". Em seu primeiro discurso como governante, ele agradeceu à secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, e à Organização dos Estados Americanos (OEA) pelo acompanhamento da crise política em Honduras.

Lobo também defendeu a legitimidade do processo eleitoral que o conduziu à presidência. Seu primeiro ato depois de empossado foi sancionar o decreto que anistia os envolvidos no golpe, aprovado na noite anterior pelo Congresso Nacional.

Na sua chegada ao Estádio, Fernández foi vaiado por grande parte do público que assistiu a cerimônia de posse do novo presidente hondurenho. O novo presidente assistiu a uma missa pela reconciliação nacional e deu um sinal da tentativa de formar um governo de união, ao anunciar os nomes de seu Gabinete.

Ele informou que ex-candidatos presidenciais serão nomeados para o governo: Ministério do Trabalho, Felícito Ávila; Cultura, Bernard Martínez; e para o Instituto Nacional Agrário (INA), Cesar Ham.

Manifestações contra Lobo e pró-Zelaya

Com a anistia, Zelaya, que conseguiu retornar ao país de surpresa em 21 de setembro, viajará hoje à República Dominicana, após um acordo firmado entre Porfírio Lobo e o presidente Leonel Fernandez. "Minha ideia é regressar um dia, não sei quantgo tempo s epassará, mas regressarei. Eu sou um hondurenho de verdade", disse Zelaya à Rádio Globo.

Com bandeiras de apoio a Zelaya e contra o golpe de Estado, milhares de manifestantes tomaram as ruas e marcharam até o aeroporto Toncontín para saudar o presidente legítimo. "Venho dizer-lhe adeus, mas estou segura de que logo vai voltar", afirmou uma das manifestantes.

As marchas, estendidas também a San Pedro Sula, foram convocadas pela Frente Nacional de Resistência ao Golpe. Em comunicado, o grupo reiterou sua decisão de desconhecer o governo de Lobo, por considerá-lo "a continuação da ditadura imposta pela oligarquia", e reiterou sua intenção de prosseguir lutando por uma Assembleia Nacional Constituinte.

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