Pesquisa científica dá salto na China; Brasil avança entre Bric
A China passou pelo maior crescimento do setor de pesquisas científicas já visto em qualquer país nos últimos 30 anos, de acordo com dados compilados pelo Financial Times. E o ritmo não dá sinais de estar diminuindo.
Por Clive Cookson, do Financial Times, no jornal Valor Econômico
Publicado 26/01/2010 12:37
Apenas 20 anos atrás, às vésperas da desintegração da União Soviética, a Rússia era uma superpotência científica, realizando mais pesquisas do que a China, a Índia e o Brasil juntos. A partir de então, os russos foram deixados para trás, não apenas pela ciência chinesa que se impõe ao mundo, mas também pela Índia e pelo Brasil.
Grandes mudanças na paisagem do mundo científico são revelados em uma análise da produção dos quatro países do Bric desde 1981, realizado para o FT pela Thomson Reuters, que indexa artigos científicos de 10,5 mil revistas de pesquisa científica no mundo. Os números mostram não só “imponente expansão” da ciência chinesa, mas também um desempenho forte do Brasil, crescimento bem mais lento da Índia e declínio relativo na Rússia.
De acordo com James Wilsdon, diretor de ciências políticas na Royal Society, em Londres, três fatores principais estão impulsionando a pesquisa chinesa. Primeiro, o enorme investimento do governo, com aumentos de financiamento muito acima da taxa de inflação em todos os níveis do sistema – de faculdades a pesquisas em nivel de pós-graduação.
Em segundo lugar, o fluxo organizado de conhecimentos de ciência básica para aplicações comerciais. O terceiro é a maneira eficiente e flexível como a China está aproveitando o conhecimento da sua vasta diáspora científica na América do Norte e Europa, seduzindo cientistas em meio de carreira a voltar ao país com propostas que lhes permitam passar parte do ano trabalhando no Ocidente e outra parte na China.
“Embora as estatísticas computem artigos científicos publicados em revistas e periódicos submetidas à aprovação de colegas e acima de um limiar de respeitabilidade, a qualidade [na China] é ainda bastante desigual”, diz Jonathan Adams, diretor de avaliação de pesquisas da Thomson Reuters. Mas está melhorando: “Eles têm alguns incentivos muito bons”.
Como a China, a Índia tem uma grande diáspora e muitos indianos não residentes com formação científica estão voltando, mas eles vão principalmente para trabalhar em empresas, e não para desenvolver pesquisas. “Na Índia, existe uma ligação muito fraca entre empresas de alta tecnologia e a base de pesquisa local”, diz Wilsdon. “Mesmo o Instituto Indiano de Tecnologia (IIT), instituição de mais alto nível no sistema, tem dificuldades para recrutar professores.”
Um sintoma disso é o fraco desempenho da Índia nas comparações internacionais de padrões universitários. O Ranking de Universidades de Ásia 2009, elaborado pela consultoria QS, revela que a mais importante instituição superior indiana é a IIT de Mumbai, na 30 posição; dez universidades da China e de Hong Kong estão em posições mais altas.
Parte do problema acadêmico indiano pode estar na burocracia que amarra suas universidades, diz Ben Sowter, chefe da unidade de inteligência QS. Em contraste com a China, Índia e Rússia, cujas pesquisas tendem a ser fortes nas ciências físicas, química e engenharia, o Brasil se destaca na área de saúde, ciências da vida, agricultura e investigação ambiental.
A Rússia produziu menos artigos científicos do que o Brasil ou a Índia em 2008. “O problema está na grande redução de financiamentos para pesquisa e desenvolvimento após o colapso da União Soviética”, afirmou Adams.