Capistrano: A Cruzada da Esperança: 50 anos de uma campanha

A coligação que lançou, em 1960, a chapa Aluízio Alves/Monsenhor Walfredo Gurgel, governador e vice-governador; Djalma Maranhão/Luiz Gonzaga, prefeito e vice-prefeito da capital, foi denominada de Cruzada da Esperança.

Djalma Maranhao
Era a conjunção de forças políticas, ideologicamente antagônicas, que se uniram com o objetivo de derrotar o então governador Dinarte Mariz (UDN), naquele momento adversário de todos. Dinarte apoiava Jânio/Milton Campos, presidente e vice; Djalma Marinho/Vingt Rosado Maia, governador e vice e, para prefeito da capital, Luiz de Barros. Essa foi uma das eleições mais empolgantes já registradas na história política do Rio Grande do Norte. Pela primeira vez foi usado o marketing eleitoral.

Por indicação de Odilon Ribeiro Coutinho veio para Natal o marqueteiro, pernambucano, de nome Albano, ele deu a campanha um visual diferente, usou recursos já conhecido, mas, aqui, em campanhas políticas, inéditos. Tudo perfeito: as músicas, crianças discursando nos comícios, a gentinha como marca do aluizista, o lenço verde, o cigano feiticeiro, as ciganas, as senadoras, as passeadas infindáveis, os galhos de arvores carregados, madrugada adentro, pela multidão, à voz rouca de Aluízio, a pobreza contra a riqueza, um moderno programa de governo cantado na principal musica da campanha e a denominação da coligação de Cruzada da Esperança.

Quem viveu a disputa eleitoral de 1960 lembra da letra do principal hino da campanha de Aluízio, que dizia: “Aluízio Alves veio do sertão lá do Cabugi, pra sanar o sofrimento do seu povo, a sua plataforma eis aqui: Assistência e cuidado para o agricultor, melhores salários para o trabalhador e a energia de Paulo Afonso, saúde e educação…” e por aí vai, empolgando a massa, levando esperança as potiguares.

Aluízio tenta no seu livro, “O que eu não esqueci”, Editora Leo Christiano, minimizar a participação do marqueteiro, Albano, na campanha. Na página 104 do referido livro, ele escreveu: ”Odilon Ribeiro Coutinho valorizava muito a atuação de Albano, técnico em marketing político, que orientara, em Pernambuco, a campanha vitoriosa de Cid Sampaio para governador. Levou-me ao seu escritório em Recife para uma conversa, a fim de, sem compromisso, expormos as nossas ideias e pedir-lhe um projeto de campanha. Confesso que saí sem o mesmo entusiasmo de Odilon.”.

Mesmo assim Albano foi contratado, segunda Aluízio, só para as pesquisas, um novo elemento usado, pela primeira vez, aqui no estado, em uma campanha política.

A eleição de 1960 foi o meu batismo eleitoral, na época eu tinha 13 anos, mas já ligado à juventude comunista, isso me permitiu participar ativamente dessa eleição, principalmente nos comitês nacionalistas criados em defesa das candidaturas Lott/Jango, Djalma Maranhão/Luiz Gonzaga e, por tabela Aluízio/Walfredo.

Aluízio, a época, deputado federal, dissidente da UDN, tinha iniciado a vida parlamentar como constituinte de 1945, estava no seu quarto mandato, era uma liderança expressiva, tanto a nível local como a nível nacional. Sendo preterido, por Dinarte, no seu desejo de ser candidato ao governo do Estado pela UDN, buscou formar uma aliança que possibilitasse derrotar o esquema governista nas eleições de 1960. Com muita habilidade Aluízio conseguiu construir uma aliança que ia da esquerda à direita, dos comunistas aos integralistas, foi uma façanha. Embora os comunistas e os antigos cafeístas tivessem uma aproximação com os udenistas, resultado da oposição que ambos fizeram à ditadura Vargas (37/45), não impediu que eles participassem da Cruzada da Esperança. O contexto era outro a candidatura Lott/Jango levou a esquerda a essa união. Naquele momento Dinarte representava as forças mais reacionárias, aqui no estado.

Na verdade tivemos dois tipos de campanha: a de Natal, liderada por Djalma Maranhão, mais a esquerda e, no restante do estado liderada por Aluízio Alves, vacilando entre Jânio e Lott, dependendo dos apoios recebidos em cada município.

Em Natal com a candidatura nacionalista de Djalma Maranhão, fechando a chapa com Lott e Jango, presidente e vice, a campanha teve um forte tom ideológico. Natal tinha uma tradição de votar em candidatos de esquerda.

É bom lembrar que a Insurreição Comunista de 1935 foi vitoriosa em Natal, por pouco tempo, mas foi. Na eleição presidencial de 1945, Natal foi à única capital brasileira que Yedo Fiúza, candidato do Partido Comunista, ganhou a eleição. Essa tradição esquerdista facilitava a movimentação das forças nacionalistas na capital do nosso estado. Lott ganhou folgado em Natal os resultados foram os seguintes: para presidente, Marechal Lott obteve 23.372 votos, Jânio Quadros 9.924; para governador Aluízio obteve 24.197 votos, Djalma Marinho 10.942; para prefeito Djalma Maranhão 21.942 votos, Luiz de Barros 11.298 Uma. Demonstração, clara, da tendência nacionalista do eleitorado da capital, fato que se repete até hoje, partido de direita isoladamente ou com na cabeça de chapa, nunca ganhou uma eleição em Natal.

Diante da importância dessa data, pretendo durante este ano (2010), quando estamos comemorando os 50 anos da marcante campanha eleitoral de 1960, fazer alguns registros sobre esse memorável acontecimento político do nosso estado ressaltando algumas figuras que marcaram a história política do Rio Grande do Norte, que tiveram participação marcante nesse acontecimento.

Este é o primeiro registro, marcando, aqui, o início das reminiscências dos 50 anos da Cruzada da Esperança.
 

Antonio Capistrano é ex-reitor da Uern
é filiado ao PCdoB