Transformismo ideológico: desde quando o PSDB é de esquerda?
O PSDB anda se proclamando “de esquerda” e é preciso desmontar essa empulhação. Esquerda não pode ser privatizante e o PSDB é; esquerda não pode dizer que programas sociais são “esmola” e o PSDB diz; esquerda não pode defender “Estado mínimo” e o PSDB defende.
Por Eduardo Guimarães, no blog Cidadania.com
Publicado 17/01/2010 18:33
Claro que os tucanos negam tudo isso. No Brasil, sobretudo depois de Lula, ninguém quer ser de direita. Contudo, os milhares de textos que simpatizantes e militantes tucanos escreveram nos últimos sete anos provam o contrário. Está tudo escrito e será apresentado como prova do transformismo ideológico desse pessoal.
A eleição deste ano, pois, deveria ser uma barbada para Dilma Rousseff em razão dos resultados que o país vem colhendo de políticas diametralmente diferentes das pregadas pelo PSDB, mas não será. E uma boa indicação disso é o que está acontecendo no processo sucessório no Chile.
Michele Bachelet, presidente chilena, tem uma aprovação tão alta quanto a de Lula e, ainda assim, seu candidato, apesar de chegar à eleição deste domingo tecnicamente empatado com o candidato da assustadora direita chilena, corre o risco de perder uma eleição que deveria estar ganha.
Como escrevo antes de ser conhecido o resultado da eleição no Chile, é até possível que o ex-presidente Eduardo Frei, candidato de Bachelet, vença. Contudo, ao se dar crédito às pesquisas de intenção de voto, seria uma vitória por margem extremamente apertada.
Para entender o que acontece naquele país e que a direita brasileira acha que poderá acontecer por aqui, basta lançar um olhar sobre os erros cometidos pela Concertação (aliança de centro-esquerda que governa o Chile desde que Pinochet largou o osso) diante da tática da direita de negar ser o que é exatamente como os tucanos estão fazendo.
No primeiro turno chileno, a esquerda se dividiu graças a um candidato que se diz “de esquerda”, Marco Enríquez Ominami. Foi ele quem mais colaborou para o fortalecimento da candidatura de Sebastián Piñera, apoiado pela ultradireita pinochetista.
Ominami teve nada mais, nada menos do que 20% dos votos no primeiro turno da eleição chilena, no mês passado. Se tivesse apoiado Frei, a eleição teria sido liquidada em primeiro turno e teria sido eliminado o risco de volta dos seguidores póstumos de Pinochet.
Em vez disso, vejam a declaração que o tal candidato “de esquerda” acaba de dar lá no Chile depois de votar: “Continuo acreditando que os dois candidatos representam o passado. Não vou negociar nada, não participarei de nenhum governo, serei opositor de ambos”.
Os eleitores de Ominami, contudo, não pensam como ele. Frei passou de 36% no primeiro turno para 49% nas pesquisas para o segundo, ou seja, a maioria de seus eleitores não quer a volta dos pinochetistas ao poder.
Aqui no Brasil, acontece a mesma coisa. Políticos que se dizem de “esquerda” estão trabalhando pela candidatura Serra ao dizerem que Lula é “de direita”.
Ao agirem assim, esses que se dizem “de esquerda” apoiam, indiretamente, um político ligado a gente que quer entregar o Pré Sal a empresas petrolíferas estrangeiras, que prega “Estado mínimo”, que quer novas privatizações, que chama programas sociais de “esmola”, que queria que o governo cortasse gastos para combater a crise etc.
Tanto no Chile quanto no Brasil, portanto, esquerda e direita estão muito bem definidas. Ser de esquerda é acreditar que um país como este precisa de um Bolsa Família e de um Estado forte e é repudiar o apoio de gente que cultua a memória e os métodos de um dos maiores assassinos que o mundo já conheceu.
Nesse aspecto, o discurso de Lula e de Dilma procura marcar diferença em relação a Serra ao martelar que o Estado precisa ser o promotor do desenvolvimento e o regulador das tensões sociais.
Mas é pouco, penso eu. É preciso desmascarar essa tentativa dos tucanos e de seu candidato de ludibriarem a sociedade dizendo-se “de esquerda”. A diferença entre as propostas do PSDB e do PT é flagrante.
Acho, inclusive, que, conforme a eleição for ficando mais dura para Serra, ele poderá adotar o discurso de Lula sobre o papel do Estado, sobre os programas sociais, etc. Por isso, a melhor vacina contra a empulhação tucana será resgatar seus discursos nestes anos todos.
Aliás, essas pessoas que vivem chamando o Bolsa Família de “esmola” precisam continuar escrevendo e falando. Eu mesmo darei a esse pessoal todo o espaço que quiser para recitar seus dogmas. Só pedirei que deixe bem claro em quem pretende votar.