Gutemberg Dias: Sistema viário de Mossoró e falta de ordenamento
Um problema ambiental que as cidades de médio e grande porte estão vivenciando na atualidade é a falta de ordenamento do trânsito urbano. Esse problema já faz parte do cotidiano e muito já se fala em políticas urbanas que busquem a redução dos efeitos do modal de transporte adotado pelas cidades brasileiras sobre o meio ambiente urbano.
Publicado 14/01/2010 20:21 | Editado 04/03/2020 17:08
O crescimento das cidades vem impondo aos agentes públicos, responsáveis pelo ordenamento do trânsito, dia após dia, desafios que parecem quase impossíveis de serem resolvidos. Basta analisarmos o processo de verticalização dos médios e grandes centros urbanos, que aumenta, de forma geométrica, a densidade populacional por metro quadrado e com ela, aumenta a demanda por vias urbanas capazes de proporcionar mobilidade e acessibilidade a esses contingentes populacionais.
Cidades do porte de Mossoró que já tem uma população em torno de 250 mil habitantes e que está em franca expansão urbana já apresentam problemas de mobilidade, causadas, sobretudo, pela grande quantidade de veículos em circulação, pela falta de sistemas eficazes de transporte urbano e pela falta de ordenamento do trânsito urbano, principalmente, nas horas de pico.
Um dos grandes apoiadores dessa problemática são os Planos Diretores Urbanos, que em sua maioria são peças feitas apenas para atender o Estatuto das Cidades e terminam por criar condições ideais para o surgimento de núcleos urbanos mais adensados, regulando as taxas de ocupação e densidade do espaço geográfico, mas deixando de lado as conseqüências que esse ordenamento do espaço construído pode causar nas vias de transporte utilizadas para o escoamento do contingente populacional abrigado nesses empreendimentos.
Segundo Eng. Civil Mauri Adriano Panitz, professor M. Sc. do curso de Engenharia de Trânsito da FIJO/PUCRS, Ex-Diretor Técnico da Secretaria dos Transportes do RS, “Um bom planejamento urbano prevê a existência de um espaço viário adequado, isto é, bem dimensionado, estruturado, hierarquizado. Além disso, deve ser complementado por um plano diretor de estacionamento bem proporcionado. Toda a cidade cujo plano diretor urbano não foi aperfeiçoado, ou foi convertido em peça clientelista, deixou de atender às necessidades urbanas de mobilidade e de acessibilidade”. Vejam que os planos diretores têm importância preponderante, desde que sejam realmente feitos para atender os seus objetivos e não para apenas atender os interesses de alguns grupos.
Muitos planos diretores e, inclusive o de Mossoró, apresentam como mecanismo de ordenamento do trânsito urbano documentos que servem como peças de ajustamento. Um desses documentos é o RITUR – Relatório de Impacto no Trânsito Urbano, que em muitos municípios pelo Brasil é solicitado quando o empreendimento em estudo pode impactar preponderantemente nas vias públicas de transporte. Geralmente empreendimentos como condomínios verticais e horizontais, estabelecimentos comerciais (supermercados, shoppings, clubes etc), parques públicos entre outros que possam aglomerar veículos.
Mesmo depois da criação da Gerência de Trânsito, Mossoró ainda não cobra esse instrumento de análise dos empreendimentos no tocante à possibilidade de causar impactos nas vias públicas. Há poucos anos, tivemos a oportunidade de vivenciarmos a inauguração do Mossoró West Shopping, seguido do surgimento de vários empreendimentos satélites que hoje já congestionam, em determinados horários, o prolongamento da Av. João da Escócia. E, recentemente, a inauguração da primeira loja do Hiper Bompreço em Mossoró, localizada na esquina da Rua Duodécimo Rosado coma José Damião, que vem causando sérios problemas de mobilidade nos horários de pico nas imediações dessas ruas.
Um dado importante que merece destaque e é imprescindível: que os responsáveis pelo transito urbano em Mossoró saibam, trata-se da estimativa de que a frota urbana passa 15 vezes mais tempo parada do que em movimento, ou seja, essa estimativa representa 96% do tempo em que os veículos ficam improdutivos, contra 6% em que estão produtivos. Esses dados nos dizem que uma cidade precisa de mais áreas de estacionamento e de vias escoamento livre para que possa proporcionar uma mobilidade acessibilidade melhor a todos os cidadãos.
Para finalizar, um bom momento para analisarmos o trânsito de nossa cidade, é irmos ao centro da cidade em pleno sábado por volta das 10 horas da manhã. Não tem criatura que agüente ficar circulando muito tempo por lá, e mesmo para os pedestres é um verdadeiro martírio. Como sempre o principal vilão é a falta de estacionamento atrelado à necessidade patológica dos motoristas em quererem estacionar sempre em frente aos estabelecimentos que precisam visitar. Gerando, por vezes, estacionamentos em filas duplas, estacionamentos em locais destinados a pedestres e/ou outros veículos, ou seja, causando um caos no centro da cidade.
Soluções para esse problema que nos assola têm de sobra. Basta que haja uma conscientização por parte dos gestores públicos em aplicar as melhores técnicas para ordenamento do trânsito, modificando, sobremaneira, a morfologia das vias públicas e criando campanhas de sensibilização e educação no trânsito para toda a sociedade.